O toque feminino nos negócios do Grupo Neffa
Uma das representantes da terceira geração de herdeiros, Lucia Murad Neffa, a Xuxu, desafiou familiares para garantir o futuro da empresa
À frente do grupo Neffa, Lucia Murad Neffa, mais conhecida como Xuxu, representa a terceira geração da família, e enfrentou a delicada relação de poder entre homem e mulher no ambiente de trabalho para manter o legado da família, o grupo Neffa, que começou como um armazém, em 1918, evoluiu para um supermercado, até se tornar referência no segmento de alimentação, hotelaria e eventos, no Espírito Santo.
“Era uma empresa cheia de conceitos e preconceitos, sem planejamento, e com atitudes muito improvisadas”, diz. “Não existia plano de trabalho, e como o lucro era muito grande, qualquer perda era remediada facilmente, e por isso ignorada.”
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Ao deixar para trás o cargo de contadora na multinacional Price Waterhouse, Xuxu chegou a rede São José de supermercados com sede de mudança, e trazendo na bagagem uma série de inovações que poderiam alavancar os negócios da família. "Largar uma carreira em ascensão nada mais é do que muito amor por um legado familiar", diz.
“A família libanesa valoriza muito o filho homem, principalmente o mais velho. Não foi diferente dentro da minha família e do meu contexto de trabalho. O comando da empresa era dos homens, e nem todo mundo queria mudar a situação em que a empresa estava.”
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Recém-chegada ao grupo, Xuxu recorda que assumiu o posto de funcionária multifunções no supermercado - arrumava prateleiras, controlava estoque, e tudo mais o que precisasse ser feito. Ali, ela recordava a sua infância, quando seu permitia que ela o acompanhasse no trabalho para fazer as embalagens de Natal. "Naquela época, os presentes eram comprados nos pequenos varejos. E aquela rotina me atraia muito", diz. No entanto, como era de se esperar, sua vocação era mesmo financeira.
Sem imaginar o que viria pela frente, a primeira grande mudança (mal sucedida) proposta pela empresária foi fazer com que os funcionários batessem cartão – procedimento, na época, opcional às empresas. A estratégia era minimizar o número de queixas trabalhistas referentes a horas extras que chegavam em massa à empresa.
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Sem apoio, Xuxu perdeu a sua primeira batalha. “Todas as minhas propostas eram vistas como desnecessárias, e ineficientes. Foi então, que percebi que as coisas não aconteceriam no prazo em que eu esperava”, diz.
Ainda assim, Xuxu não desanimou. A cada não que recebia, um número maior de ideias surgia em sua cabeça. Na época, a empresária tinha a gana de tornar a herança de seus pais em algo bem mais sério e profissional. Sua inspiração, a empresa Aracruz Celulose, hoje grupo Fibria - resultado da união da Aracruz e da Votorantim Celulose e Papel, já deixava claro que Xuxu sonhava alto.
“Menos de 20% das empresas de família ultrapassam a terceira geração. A minha chegou nesta terceira geração depois de muitos contratempos, que não foram fáceis de serem transpostos.”
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Mais tarde, apoiada pela mãe, com a participação acionária de que dispunha, Xuxu deu início a um processo de renovação na empresa, reestruturando o quadro de funcionários, e garantindo a permanência apenas de quem se comprometia com a causa. “Foi uma verdadeira faxina étnica na corporação, que durou cerca de 10 anos.”
TERCEIRA GERAÇÃO
Hoje, no comando da empresa ao lado de seus irmãos, Flávia Murad Neffa e Marco Antônio Murad Neffa, o Neffa tem um faturamento anual de R$ 36 milhões, com projeção de crescimento de 5% em meio ao período de recessão.
Bem resolvida com as decisões da atual diretoria, Xuxu prefere deixar de lado toda a resistência que sofreu por parte dos familiares da sucessão anterior ao entrar para os negócios. “A terceira geração se entende, tem objetivos comuns, e quer fazer o grupo crescer. E também graças a veia empreendedora que herdamos, pois seria um erro insistir na sucessão sem talento”, diz.
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Há 30 anos se dedicando, Xuxu diz não ter tempo a perder. Ela mantém uma rotina acelerada, que começa às 5h com a prática de exercícios físicos já emendados no trabalho, onde ela entra sem ter hora pra sair. Porém, ela garante que vive tudo isso com equilíbrio para evoluir ainda mais.
“Não gosto de ter tempo livre, e excelência não se atinge com facilidade. Por isso, nos espelhamos em grupos familiares de grande prestígio, como por exemplo, o Pif Paf, com quem temos negócios”, diz. A parceira com o grupo Pif Paf, uma das dez maiores empresas brasileiras no setor de congelados, é a aposta mais recente da Neffa, com a fabricação de churros doces, e um contrato inicial de 9 toneladas por mês.
*Foto: Divulgação