O que marcou o varejo em 2019
Consolidação do omnichannel, delivery, postura dos shoppings e indicadores econômicos compõem o balanço do ano que se aproxima do fim e apontam o rumo do comércio em 2020

O ano de 2019 está chegando ao fim e embora tenha sido marcado pela frustração com a lentidão na retomada econômica, especialistas veem boas perspectivas para o varejo em 2020.
A tímida recuperação do mercado de trabalho, o crescimento no volume de vendas do comércio varejista, a expectativa de redução da taxa real de juros e a expansão na oferta do volume de crédito ao consumidor são indícios de que o próximo ano pode trazer números melhores para o setor.
Ou seja, o ambiente é mais positivo para a economia brasileira – mas ainda é preciso mais para que o otimismo volte a tomar conta do mercado. Os economistas aguardam ainda mais dados para mostrar se a atividade está em uma trajetória de recuperação – e a que ritmo.
Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&MALLS, diz que mesmo com um ambiente mais positivo para a economia brasileira, ainda é preciso um maior fortalecimento das atividades e dos dados para que o otimismo volte a tomar conta do mercado. Ainda assim, o especialista afirma que há muito a ser comemorado em 2019 pelo varejo, que está em uma trajetória de recuperação.
CONSOLIDAÇÃO DO OMNICHANNEL
A estratégia omnichannel já pode ser considerada um marco na história do varejo, segundo Marinho. Na tradução do termo, o varejo multicanal mescla a comercialização de produtos tanto no online como no off-line, integrando as operações e aproveitando todas as oportunidades para fidelizar o consumidor.
A prática que já vem sendo utilizada há alguns anos, esse ano entrou de vez no planejamento das empresas, na opinião de Marinho. Ele cita o case do Magazine Luiza que trouxe um novo formato comercial na última Black Friday. Na ocasião, a varejista promoveu uma ação chamada de Black das Blacks e mobilizou diferentes pilares de comunicação para anunciar suas ofertas de um jeito diferente.
Com uma espécie de show, a empresa reuniu celebridades num projeto de complementariedade entre TV e Digital, numa inovação de formato e linguagem. Enquanto músicos se apresentavam, a ação fazia entradas ao vivo no intervalo da programação para atrair os consumidores para seu e-commerce. O mesmo acontecia pelas redes sociais com transmissões ao vivo.
“O varejo entendeu de uma vez por todas, que não dá mais pra usar a loja física e e-commerce de um jeito tradicional”.
UMA NOVA POSTURA DOS SHOPPINGS
Se antes o canal on-line era visto como inimigo dos shopping centers, isso ficou no passado. Marinho aponta que cada vez mais empresas de malls investem em vendas on-line e apostam em marketplaces e outros canais virtuais para atender a demanda do consumidor por um varejo cada vez mais omnichannel.
“Aquela ideia de templo de consumo já não faz mais sentido. Agora, a base de consumidores é dominada por uma geração que enxerga o shopping como um espaço de entretenimento, para curtir bons momentos”, diz.
Dessa forma, esses empreendimentos estão encontrando uma nova forma de aumentar a receita. Muitos optaram por liberar o wi-fi, outros tentam fisgar os clientes de clique e retire, lançaram aplicativos próprios e passaram a ser mais parceiros dos lojistas.
O projeto Iguatemi 365 ilustram bem esse movimento. No formato de marketplace, a plataforma reúne mais de 80 marcas cadastradas e permite maior aproximação com lojistas e clientes, além de permitir que pessoas de outros estados comprem produtos das lojas do Iguatemi.
FORTALECIMENTO DO DELIVERY
Como entregar mais rápido e com o menor custo? Pode ser que a resposta ainda não tenha sido encontrada por todas as varejistas, mas muitas delas estão tentando.
Poucas empresas podem desafiar o modelo de sucesso da Amazon, que em alguns casos chega a no máximo dois dias de entrega, mas ainda assim, em geral elas já entenderam que precisam entrar de vez nessa corrida para agilizar suas entregas, digitalizar suas operações e desenvolver soluções convenientes aos seus clientes.
Na última edição da Black Friday, a Via Varejo prometeu entregar 100% das compras da Black Friday em até uma semana. Logo em seguida, o Magazine Luiza divulgou que mais da metade das compras feitas na data promocional dentro da Grande São Paulo foram entregues em menos de quatro dias, dobrando a aposta na entrega rápida como diferencial competitivo e com uma operação logística bem acima do padrão brasileiro em geral.
MP DA LIBERDADE ECONÔMICA
A Medida Provisória nº 881/2019, chamada de “MP da Liberdade Econômica”, convertida em lei em setembro deste ano reduz a burocracia do estado na atividade empresarial e, embora não traga efeitos imediatos para comércio, já cria uma nova perspectiva para os empresários.
Uma das principais mudanças previstas está a extinção do eSocial, a partir de janeiro de 2020. Considerado excessivamente complexo e burocrático, o programa deverá ser substituído por dois novos sistemas para o envio de informações trabalhistas, previdenciárias e tributárias.
Na opinião de Marinho, qualquer medida que tenha como objetivo recuperar a economia, garantir investimentos e resolver questões concretas de segurança jurídica.
"O empresariado percebendo que há uma expectativa de melhora no ambiente de negócios, já começa a planejar em 2019 para gerar resultados em 2020. É muito positivo", diz.
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