O que deu errado no modelo de negócio da Amaro

Precursora em muitos processos do varejo de moda, a companhia soma dívidas de R$ 244,5 milhões e entrou com pedido de recuperação extrajudicial

Mariana Missiaggia
31/Mar/2023
  • btn-whatsapp
O que deu errado no modelo de negócio da Amaro

Em 2018, quando foi lançada, a Amaro foi tida como um modelo de negócio inovador. Até então, ninguém no Brasil havia tratado o consumo de moda no formato D2C, ou direct-to-consumer, com produtos e distribuição própria por meio do omnichannel. Com espaços físicos batizados de Guide Shops, a marca foi pioneira em oferecer entrega em até uma hora dentro de São Paulo e fez a concorrência seguir seus passos. Mas algo deu errado.

Nesta semana, a Amaro pediu à Justiça de São Paulo a homologação de seu pedido de recuperação extrajudicial. A companhia soma dívidas de R$ 244,5 milhões, sendo R$ 151,8 milhões em dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões com fornecedores.

No pedido, a varejista diz que "o setor de varejo vem sofrendo com a alta da taxa de juros e com a volatilidade do câmbio”, o que gerou um aumento considerável de seu passivo nos últimos anos, de acordo com a empresa.

A marca também reforçou que o setor passa por período de queda nas vendas e sofre com a alta da inflação, que teve efeito na operação como um todo.

Dentre os motivos para que o pedido de recuperação seja concedido, a companhia cita ações que colocam em risco as atividades empresariais, perda de patrimônio, falência e despejo das lojas. Por essa razão, a companhia pede que as ações contra ela sejam suspensas por 180 dias com a homologação do plano.

Mas, o que pode ter dado errado?

Aparentemente, não foi a pandemia. Em 2021, a Amaro teve um crescimento de 50% no faturamento total. E pouco mais de um ano depois, anunciou negociações com potenciais investidores para reforçar sua base de capital. Ou seja, a venda de parte de seus negócios.

Sob a justificativa de seguir crescendo pelo país, a Amaro migrou para o modelo de marketplace, expandiu sua área logística, mas, pouco tempo depois, a demanda esfriou e a operação seguiu grande e cara diante de um cenário de juros altos.

Guilherme De Cara, sócio consultor da Cherto Consultoria, não acredita que a entrada da marca em shopping center tenha comprometido a operação. A Amaro tem hoje 20 lojas físicas espalhadas pelo Brasil.

Ele destaca que o ponto forte da Amaro ainda é o e-commerce, onde está focada toda a estratégia da marca. Diferentemente de muitas lojas que não conseguiram se digitalizar para acompanhar o consumo na pandemia, a Amaro fez essa adaptação, mas hoje sofre como varejo e como empresa de tecnologia com a baixa do consumo.

Relembrando os números da Amaro de 2021, De Cara acredita que talvez a marca tenha apostado muito nesse crescimento digital, realizando grandes investimentos nessa área. Isso exigiu muito endividamento e, agora, a economia não está ajudando.

"O que se viu com o término da pandemia foi que o on-line tem seu valor, mas com crescimento regular. O problema real atual é um cenário de juros com restrição de consumo dificultando as operações", diz o consultor.

Adriano Gomes, professor da ESPM e sócio-diretor da Methóde Consultoria, esclarece que a mudança do digital para o físico traz custos adicionais, sendo o maior de capital de giro. Muito embora a estratégia da Amaro fosse a tangibilidade de seus produtos, a aritmética pode ter falado mais alto, segundo Gomes.

"Num possível paralelo com o que vem acontecendo com outros nomes, como Americanas, Tok&Stok e Marisa, o especialista diz que há uma crise posta que é do modelo de negócio do varejo tradicional. Todavia, o caso Amaro demonstra um nível de transparência e respeito aos credores de forma bem distinta dos demais casos", diz Gomes.

O fato é que a Amaro chegou na situação atual arrastada por uma cadeia de eventos que envolveu pesados investimentos no digital que acabaram descolados do crescimento aquém do esperado da demanda on-line. Com as contas estranguladas, a marca buscou investidores, mas suas ações na Bolsa foram consideradas em valor elevado, o que repeliu compradores. Nesse processo, restou à empresa reduzir os gastos, priorizando despesas operacionais essenciais, o que fez crescer as dívidas com fornecedores e com o sistema financeiro.   

 

IMAGEM: Amaro/divulgação

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Entenda a importância de planejar a sucessão na empresa

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais