Negócios de impacto avançam no País
Levantamento do Sebrae em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) identificou mais de 800 negócios de impacto social em todo o país, a exemplo do projeto Lá da Favelinha (foto)
Empreender para promover cidadania e resolver um problema social e ambiental. Este propósito tem motivado o surgimento de várias organizações e startups, empresa de inovação e base tecnológica, que conjugam os resultados financeiros à geração de benefícios para uma comunidade carente de serviços básicos, como educação, saúde, moradia, emprego e outros.
O foco deste tipo de empreendimento, conhecido como negócio de impacto, está na base da pirâmide social brasileira, composta, principalmente, por classes menos favorecidas.
No Brasil, cerca de 168 milhões de pessoas integram as camadas com faixas de renda mais baixas, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi com o olhar nesta população que Kdu dos Anjos iniciou o projeto “Lá da Favelinha”, no Aglomerado da Serra, maior comunidade de Belo Horizonte (MG), com 150 mil habitantes.
Apaixonado por livros, o ator de teatro e cantor de rap montou inicialmente uma biblioteca popular em um pequeno espaço, que acabou se transformando num ponto de formação educacional, cultural e gerador de renda para as famílias da comunidade.
No ritmo do passinho e com as rimas do rap, a organização cresceu promovendo eventos, oficinas, apresentação de artistas locais, palestras e vendendo roupas produzidas na região. Atualmente, cerca de 70 famílias têm renda a partir das atividades realizadas pela Favelinha, que também serve de apoio para encaminhar jovens para o mercado de trabalho formal.
“Por que investir na periferia? Hoje, 65% das crianças estão na periferia. Os resultados estão incríveis, desde o resultado social, do amor, da criança que já reprovou três vezes e hoje em dia é a melhor aluna da escola.
Foi toda uma questão de empoderamento e várias famílias estão gerando renda, gente que só tinha o tráfico ou o subemprego como destino”, relata Kdu dos Anjos.
PANORAMA
O Brasil tem 17 milhões de pequenos negócios, que representam 99% do total de empresas do país, 52% dos postos de trabalho e contabilizam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Dentro deste universo, houve crescimento, nos últimos dez anos, do número de negócios de impacto no Brasil e no mundo.
Levantamento do Sebrae em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) identificou mais de 800 negócios de impacto social em todo o país. Boa parte dos novos negócios que prestam serviços sociais e geram desenvolvimento econômico é startups.
“Você pode ter um negócio que já existe há anos, que tem um modelo de gestão tradicional, mas que ao mesmo tempo gera um impacto. Agora, os que estão surgindo hoje, a grande maioria são startups, são jovens que começam a olhar para a base da pirâmide como uma oportunidade pra também atender um anseio de contribuir pra uma causa”, explica Célio Cabral Sousa Júnior, gerente nacional de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade do Sebrae
Os negócios de impacto social tem movimentado cerca de US$ 60 bilhões em nível global e registrado aumento aproximado de 7% ao ano, segundo levantamento da Ande Brasil (Aspen Network of Development Entrepreneurs), uma rede de empreendedores de países em desenvolvimento.
Ainda de acordo com a entidade, em outra pesquisa feita com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), foram alocados US$ 1,3 bilhão em investimentos de impacto na América Latina em 2014 e 2015. O Brasil foi o segundo maior mercado da região.
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Com a premissa de gerar lucro e melhorar a qualidade de vida da população, os negócios de impacto têm crescido no Brasil sob vários desafios.
Os principais problemas enfrentados pelos empreendedores sociais foram debatidos durante o Startup Summit, primeiro evento nacional sobre empreendedorismo de inovação e tecnologia realizado em Florianópolis, nos dias 12 e 13 de julho.
A definição de um modelo de negócio, a falta de um marco legal específico para o negócio de impacto social e a forma de atração e captação de recursos foram os principais pontos levantados pelos especialistas e empreendedores sociais.
“Esta é uma agenda nova, mas a gente quer muito mais empreendedores de impacto social no Brasil, seja pelos problemas que a gente visualiza todo dia, mas principalmente pra pensar como é que vocês podem trazer soluções inovadoras para resolver os problemas sociais no Brasil”, disse Célia Cruz, economista e diretora do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), organização que articula empresários e investidores em torno de inovações sociais.
A especialista apontou que os principais atores da oferta de capital do país atuam por meio de doações ou investimentos diretos e defendeu que o movimento deve crescer com a lógica de um negócio que gere impacto de forma inovadora e ao mesmo tempo tenha performance e sustentabilidade financeira.
Célia destacou ainda a importância de atrair a população-alvo para o desenho dos negócios e de mensurar por meio de indicadores o impacto real do investimento. A organização atua ainda no fortalecimento de intermediários, que podem ser fundos de investimentos ou universidades.
“A gente acredita muito no papel da universidade para formar talentos que já nascem com essa cabeça de impacto e performance financeira”, afirmou.
O ICE formou recentemente a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, que gerou 15 recomendações para o Brasil avançar no apoio ao empreendimento social. A Aliança é a representante brasileira na rede global formada por 18 países que também estão atuando por políticas de desenvolvimento do setor.
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Os principais atores do novo mercado se aproximaram do governo federal para conseguir apoio para o setor e criaram um grupo de trabalho composto por representantes de sete ministérios, entre eles o de Desenvolvimento Social (MDS), da Indústria (MDIC), do Planejamento, além de organizações como PNUD, Sebrae e potenciais financiadores como o BNDES, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Caixa Econômica, Banco do Brasil, entre outros.
O grupo elaborou a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto Social (Enimpacto), que pretende em 10 anos melhorar o ambiente de desenvolvimento das soluções sociais e promover iniciativas de inclusão deste tipo de negócio na cadeia de valor das empresas.
Além de participar desta estratégia, o Sebrae desenvolve projetos em oito estados do país. A instituição oferece apoio aos empreendedores desde a concepção da ideia do empreendimento até a estruturação, validação do modelo de negócio e no processo de busca por investidor que possar dar o suporte necessário não só financeiro, mas também na gestão empresarial.
“Se a gente compara o Brasil com outros países, o nível de investimento que a gente tem em negócios de impacto é muito aquém do potencial que a gente teria. Um Brasil com 200 milhões de habitantes, com uma base da pirâmide formada sobretudo por comunidades de baixa renda, temos um volume enorme de pessoas que podem ser beneficiar disso, ou seja, o mercado é enorme e tem muito a avançar”, afirmou Célio.
Segundo o gerente, o Sebrae tem um orçamento de R$ 45 milhões para aplicar em fundos de investimentos em startups. A expectativa é que parte desses recursos sejam alocados diretamente nos negócios de impacto social e ambiental.
O gerente afirmou também que vários fundos privados de investimentos tem demonstrado interesse na área e tem desenvolvido linhas direcionadas para empresas com objetivo social.
IMAGEM: Divulgação