Montadoras operam com mais de 50% de ociosidade
Venda de carros fica perto de 2 milhões de veículos, um retrocesso ao mercado de 2006, quando havia nove fábricas a menos. Recuperação pode levar 10 anos
Após nove anos de crescimento contínuo, o mercado de carros novos freou em 2013 e, desde então, só acumula retrações.
Neste ano, pelas projeções do setor, as fábricas devem comercializar no País perto de 2 milhões de veículos, o que significará retroceder ao mercado de dez anos atrás, quando havia nove fábricas a menos do que hoje.
"A capacidade ociosa cresceu muito e, mesmo que ocorra uma recuperação do mercado, vai levar pelo menos uma década para o setor recuperar a plena capacidade", diz João Morais, economista da Tendências Consultoria, especialista em setor automotivo.
Morais lembra que o ambiente de insegurança afugenta o consumidor de bens de alto valor, como o automóvel. "O que o governo de Michel Temer precisa fazer é gerar um cenário de maior previsibilidade."
Os anos de bonança na economia elevaram o mercado brasileiro de um patamar de vendas de 1,57 milhão de carros e caminhões em 2004 para 3,8 milhões em 2012. A partir de 2013, o mercado começou a regredir. Foram vendidos 3,76 milhões de veículos, volume que baixou para 3,49 milhões no ano seguinte e para 2,56 milhões em 2015.
Recuperar o nível recorde de 2012 vai levar ao menos uma década, preveem analistas do setor automobilístico.
De janeiro a abril deste ano, as vendas caíram 27,9% ante igual período de 2015, somando 644,2 mil veículos. Assustados com o desemprego e com a confiança em baixa, consumidores desapareceram das concessionárias.
A produção de veículos acompanha a queda drástica das vendas e hoje as montadoras operam com menos da metade de sua capacidade instalada, de cerca de 5 milhões de veículos anuais.
CENÁRIO DE DEMISSÕES
No ano passado, 14,4 mil trabalhadores foram demitidos pelas montadoras de veículos e máquinas agrícolas. Neste ano, até abril, já foram mais 1,4 mil.
As concessionárias cortaram 32 mil vagas em 2015 e 16,5 mil neste ano. As autopeças eliminaram 29,8 mil empregos no ano passado e projetam 8,4 mil cortes entre janeiro e dezembro.
Além disso, as montadoras mantêm 42 mil funcionários - 32% de seu efetivo - no Programa de Proteção ao Emprego (PPE, que reduz jornada e salários) e em lay-off (contratos de trabalho suspensos).
De acordo com o economista da Tendências Consultoria, “Temer pode começar a reverter esse quadro, por ter força política para restabelecer a governabilidade”. Com isso, diz ele, será possível destravar parte do crédito e da demanda, especialmente de consumidores que aguardavam uma definição da crise para seguir adiante com seus planos.