Mesmo com queda, franchising mantém relevância em 2020
Apesar da retração de 10,5%, o setor acumula 2,6 mil franqueadoras atuantes no país, de acordo com a ABF. Cerca de 4 mil unidades franqueadas fecharam as portas no último ano
Uma queda de 10,5% no faturamento das franqueadoras, em 2020, fez o setor de franchising voltar a um patamar similar ao de 2017. No último ano, as franquias faturaram R$ 167,2 bilhões, resultado menor que o de 2019 (R$ 186,8 bilhões).
Os dados foram divulgados na última quarta-feira (3/3), durante uma coletiva on-line realizada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), que já esperava o registro de queda diante da pandemia vivida desde o início de 2020. Também foi divulgado o ranking das 50 maiores franquias no Brasil em número de unidades. A lista é produzida anualmente pela ABF e está em sua quinta edição.
Apesar da retração, o setor se manteve muito relevante para a economia brasileira e acumula 2,6 mil franqueadoras atuantes no país, segundo André Friedheim, presidente da ABF. Numa comparação com 2019, houve queda de 8,6% no volume de redes.
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A comparação anual sinaliza outro cenário decrescente: o setor encerrou 2020 com pouco mais de 156 mil unidades franqueadas em operação no Brasil, uma queda de 2,6% sobre 2019. Ou seja, 4 mil unidades franqueadas fecharam as portas.
Mesmo com dificuldades, algumas redes de franquias conseguiram sustentar sua operação. Pela 1ª vez, Casa do Construtor ingressa no grupo das 50 Maiores franquias no Brasil. Conforme anúncio da ABF, a rede encerrou 2020 com 318 unidades em operação, 16% a mais do que em 2019.
Também no ramo de alimentação, Cacau Show subiu uma posição, alcançando o terceiro lugar na lista, com 2,3 mil e o Burger King surgiu pela primeira vez entre as dez primeiras posições do ranking. Nomes como Shell Select, Remax, Mercadão do Óculos, Acquazero, Clube Melissa, Casa do Construtor e Sodiê Doces fazem parte das marcas que entraram pela primeira vez para a lista das 50 maiores franqueadoras em número de unidades.
A Casa do Construtor estreou na 49ª posição com 318 unidades em operação no País, contra 275 em 2019, uma expansão de 16% em um universo que contabiliza o desempenho de empresas, como Sodiê, Spoleto, Mundo Verde e Giraffas.
De acordo com Altino Cristofoletti Junior, CEO da Casa do Construtor, mesmo com a pandemia, a rede manteve o plano de expansão e conseguiu ampliar o número de vendas.
"Isso mostra a solidez e potencial do mercado de construção civil no Brasil, especialmente as pequenas reformas, ainda mais em um cenário de juros tão baixos", afirma Cristofoletti Junior.
Segundo o empresário, a Casa do Construtor cresceu 18% em receita, chegando a R$ 328 milhões - movida pelo aumento de pequenas obras por conta do home office e à tendência do "faça você mesmo". Houve também a classificação da construção civil como atividade essencial, permitindo que muitos continuassem operando mesmo com algumas restrições.
Para 2021, a Casa do Construtor projeta um crescimento ainda maior, de cerca de 33%, atingindo um faturamento de R$ 440 milhões com foco da expansão nas regiões Norte, Nordeste e Sul.
O Boticário, franquia estabelecida como saúde, beleza e bem-estar, se manteve em primeiro lugar, com 3,6 mil unidades franqueadas. Na vice-liderança, o McDonald’s sustenta o número de 2,5 mil franqueados.
O maior crescimento em número de unidades ficou com a Acquazero, empresa de serviços automotivos, que registrou expansão de 152% nessa métrica, saltando do 111º para o 43º lugar. Na sequência, em segundo e terceiro lugares, estão Remax (casa e construção, com avanço de 80% em unidades) e Mercadão do Óculos (saúde, beleza e bem-estar, com aumento de 67%).
Alimentação é o segmento mais representativo do franchising brasileiro, e predomina na lista das dez maiores redes de franquias do país com cinco marcas, que em tempos de pandemia se adaptaram ao delivery.
No quarto trimestre de 2020, o faturamento do setor de franquias foi superior a R$ 53 bilhões - um aumento de 22,8% sobre o terceiro trimestre de 2020. Na comparação com o quarto trimestre de 2019, a queda foi de apenas 1,8%.
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), diz que a pandemia tem mostrado que o franchising ainda é muito ligado ao universo físico. Uma pesquisa realizada pela ABF no final de dezembro com 340 redes franqueadas mostrou que 64% delas esperavam crescimento superior a 10% em 2021. Outras 19% projetam expansão de 5% a 10% neste ano.
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Entretanto, Terra aponta que o momento já é diferente do sondado em dezembro de 2020, já que o número de casos e mortes diárias começa a piorar novamente.
“Março vai colocar todo o trimestre a perder. Muitas capitais estão em lockdown. Devemos ter grande parte das unidades fechadas em março, comprometendo o primeiro trimestre”, diz Terra.
Para o especialista, os últimos dois trimestres de 2020 serão determinantes para o balanço do ano e as perspectivas da ABF, que segue monitorando o avanço da vacinação, a agenda das reformas administrativa e tributária em discussão no Congresso Nacional e as medidas de acesso ao crédito para micro e pequenas empresas.