Mais do mesmo nas prefeituras

Num universo de mais de doze milhões de habitantes, não há possíveis candidatos que tenham competência, honestidade, criatividade diretiva, autoridade moral, ficha limpa e mínimos conhecimentos técnicos de gestão?

Paulo Saab
17/Jul/2020
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É desalentador constatar, pelo quadro de candidatos que se apresentam para concorrer à prefeitura paulistana em novembro próximo, que novamente vai prevalecer mais do mesmo, na ausência de postulantes que tenham qualificação suficiente para ocupar o cargo de dirigente de uma das maiores cidades do mundo.

A lista dos nomes que surgiram até agora, indicados pelos viciados, acomodados e oligárquicos partidos políticos, revela ao eleitor que a estratégia das agremiações políticas não mudou: busca-se um nome que tenha possibilidade de vencer nas urnas e não alguém com qualificação suficiente para saber enfrentar os desafios de gerir a megalópole. Pouco importa se o nome apresentado pelo partido careça de mínima capacidade de entendimento e gestão dos desafios da cidade.

É lícito supor que o mesmo se repete em todas as cidades brasileiras, onde o poder pelo poder (e a possibilidade do obter frutos da gestão do erário) é a tônica dominante. O interesse público de uma gestão eficiente, moderna, realizadora, honesta, não é nem subproduto. Simplesmente não está entre os objetivos de vencer a eleição.

Nem preciso mencionar, no momento, os nomes que estão sendo considerados e pesquisados, porque são ou os mesmos de sempre, ou celebridades ou subcelebridades do mundo da televisão, do esporte, das artes, em suma, alguém com alguma visibilidade para sedução do eleitor incauto.

Vai eleição, vem eleição, e a rotina se repete.

É impossível evitar a pergunta: num universo de mais de doze milhões de habitantes, não há possíveis candidatos que tenham competência, honestidade, criatividade diretiva, autoridade moral, ficha limpa e mínimos conhecimentos técnicos de gestão?

Sei que há. Hoje aposentado, dei aulas de “Marketing Aplicado ao Município”, no curso de pós-graduação de formação de “City Managers” (gerentes de cidades), de uma das maiores universidades da capital, há algum tempo. Meus alunos eram prefeitos, secretários de fazenda, diretores de orçamento, e outros, das mais diversas cidades do Brasil.

Posso dizer: metade das aulas eu gastava ensinando português e a outra metade, mostrando que os serviços municipais se assemelham aos produtos existentes no mercado. Mal comparando aqui para exemplificar: um posto de saúde, que atende o munícipe, é um produto a ser “vendido pela prefeitura”, que deve ter embalagem, conteúdo, forma, e atendimento, como outro qualquer. E assim deve ser tratado. A satisfação do “cliente” se reverterá em sucesso da gestão.

Explicação simplista para simples entendimento da tese.

As prefeituras em geral, e por consequência, seus serviços, seu atendimento, seus “produtos” são abaixo de qualquer avaliação do “consumidor”, porquanto quem se elege numa cidade, o faz por motivos que passam longe do interesse - e mais - da possibilidade, de realizar um bom governo.

As eleições foram adiadas para novembro por conta da pandemia.

Há tempo (sou sempre um romântico otimista) de os partidos repensarem que “produto” (sim, o candidato também é um produto) vão oferecer ao mercado consumidor (eleitores) pensando na melhor alternativa.

E, finalizo por hoje, acrescentando uma sugestão que sei que será descartada “in limine”: os candidatos deveriam ser obrigados, além de registrar em cartório seu programa de governo e seus compromissos, a cumpri-los, sob pena de serem processados civil e criminalmente, caso os descumpram ou não atinjam metas.

Isso, por si só, a ameaça do processo por descumprir programa (de corrupção ninguém tem medo, por assim dizer) já afastaria aventureiros de olho nos cofres públicos.

E, claro, em caso de abandono do cargo para concorrer a outro, durante o mandato, pena de perda dos direitos políticos por oito anos.

Sem moralizar os costumes, seguiremos sempre com mais do mesmo.  Ou seja, com prefeitos medíocres maltratando a cidade, seus moradores, enquanto os detentores do poder usufruem das benesses do mesmo poder.

 

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