IPCA sobe 1,32%, a taxa mais alta para março em 20 anos

No acumulado de 12 meses o índice ficou em 8,13%, próximo da projeção de analistas do mercado financeiro para o ano. Mais da metade da alta de março ficou na conta de energia elétrica

Rejane Tamoto
08/Abr/2015
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IPCA sobe 1,32%, a taxa mais alta para março em 20 anos

O efeito da correção dos preços administrados, como os de energia elétrica, pesou no resultado da inflação oficial de março, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

No mês passado, o índice subiu 1,32%, mais do que em fevereiro, quando a variação foi de 1,22%. Apesar disso, ficou levemente abaixo da projeção do relatório de mercado Focus, do Banco Central, que era de uma alta de 1,40%. 

Para se ter uma ideia, em março de 2014, o IPCA foi de 0,92%. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o resultado de março deste ano foi o maior mensal desde fevereiro de 2003, quando atingiu 1,57%, além de ser a taxa mais elevada considerando apenas os meses de março desde 1995, quando o índice foi de 1,55%. 

No acumulado do ano, o IPCA ficou em 3,83% e nos últimos 12 meses, em 8,13%, o mais elevado desde dezembro de 2003, quando fechou em 9,30%.

O índice acumulado em 12 meses se aproximou da projeção dos analistas do relatório Focus, que é de um IPCA de 8,20% ao fim de 2015.

Segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, provavelmente os piores resultados para o IPCA ficaram concentrados no primeiro trimestre.

Ele avalia que metade da alta da inflação do ano inteiro ocorreu nestes primeiros três meses. "Como estamos com um número próximo a 4% só neste período esperamos que o índice encerre 2015 em 8,3%", diz. 

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Leal afirma que, daqui para frente, há chances de que o índice suba em velocidade menor que 1% ao mês, até mesmo por causa da sazonalidade. Tradicionalmente, o IPCA acelera no começo do ano por causa dos reajustes de administrados e também por fatores climáticos que elevam os preços dos alimentos. Um novo ciclo de pressão costuma ocorrer no último trimestre do ano. 

Para abril, o economista espera uma aceleração menor, de 0,60% para o IPCA. Apesar da correção de preços administrados no começo deste ano, ele não descarta novos aumentos, agora não em função do ajuste, e sim por causa do cronograma regular da distribuidoras de energia. O mesmo pode ocorrer com os combustíveis por causa da alta do dólar. No entanto, esses aumentos tendem a ser mais esparsos.

Outro fator de pressão é a seca, que acabou tendo impacto importante sobre os preços da alimentação no primeiro trimestre e cujo comportamento será uma incógnita daqui para frente na visão de Leal.

Para André Muller, economista da Quest Investimentos, uma das cinco instituições que mais acertam nas projeções de inflação no curto prazo do Focus, o regime baixo de chuvas nos próximos meses também deve impactar os preços de alimentos in natura.

Ele espera que o IPCA encerre o mês de abril com alta também menor, de 0,65%, por causa da sazonalidade. Para o fim do ano, o prognóstico para o IPCA é de 8,20%. 

Para o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, o IPCA veio abaixo da expectativa de 1,37% para março.

"Para os próximos meses, projetamos desaceleração significativa do IPCA, por conta da descompressão dos preços administrados e dos alimentos in natura. Ainda assim, a desaceleração dos preços de serviços continuará em ritmo bastante gradual ao longo de 2015. Especificamente para abril, nossas estimativas prévias apontam para alta ao redor de 0,60%. Dessa forma, projetamos elevação de 8% do IPCA em 2015", informou em relatório.

Quem também observa que os efeitos da atividade mais fraca começam a dar os primeiros sinais sobre a inflação de serviços é o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. Segundo ele, o grupo serviços vem registrando taxas elevadas há algum tempo, mas agora a perda de dinamismo da economia dá sinais de reflexos sobre o poder de compra das famílias. "A resposta tende a ser uma diminuição da procura por esses serviços", afirma.

O economista lembrou que o grupo serviços chegou a bater 9,19% em junho de 2014 e passou a se estabilizar na faixa de 8%. A tendência é de que a taxa fique em 7,00% este ano, diante do enfraquecimento econômico. 

"Tem de tomar cuidado ao estimar que a inflação irá avançar muito mais do que isso. Embora ainda tenha uma distribuição forte de benefícios, o enfraquecimento do mercado de trabalho deve ajudar no arrefecimento de serviços. A economia não está conseguindo mais suportar isso [taxas elevadas]", diz o economista da RC.

VALORIZAÇÃO DO DÓLAR

Para o decorrer deste ano, os economistas também vão observar o impacto da valorização do dólar, se será de um repasse menor do que o normal por causa da recessão na economia ou se será o mesmo, porém diluído ao longo do tempo. 

Para Muller, da Quest, esse impacto será de 0,40 ponto percentual (p.p.) para cada 10% de valorização do dólar. Já o economista do Banco ABC Brasil espera um repasse de 0,20 p.p. para cada 10% de valorização do dólar.

Assim, para o ano é esperada uma alta de 20% da moeda norte-americana e um impacto de 0,40 p.p. na inflação. "Isso para um ano recessivo. Em anos de crescimento normal da economia o repasse costuma ser de 0,40 p.p. a 0,60 p.p. para cada 10% de valorização do dólar", diz Leal.

Se a recessão vai ajudar a controlar a inflação até o final deste ano, dependerá do gatilho salarial. "Se houver indexação salarial a inflação vai se autoalimentar, como o fogo em uma sala onde entra oxigênio. Se isso não ocorrer, ela pode se autodestruir, como o fogo em uma sala fechada. A atual postura do governo não está favorável a esse tipo de demanda, mas vai haver muita discussão com as centrais sindicais", afirma Leal. 

Na avaliação de Muller, da Quest, há chances de os salários continuarem com desempenho fraco como o apresentado neste começo do ano e, assim, devem ajudar a segurar a alta dos preços. 

A valorização do dólar já pesou na inflação neste início de 2015, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Segundo ela, de alimentos a itens de higiene pessoal vêm sendo afetados pela valorização da moeda norte-americana. 

"A alta do dólar certamente afeta. Em 2002 e 2003, o peso do dólar sobre os preços se fez mais evidente. A maior parte dos 5,13% do primeiro trimestre de 2003 ocorreu por causa do dólar. Já neste primeiro trimestre [de 2015], o país está vivendo pressão do dólar, que afeta produtos e insumos importados mas, além disso, tem o realinhamento dos preços administrados", diz a coordenadora. 

PRESSÕES SOBRE O IPCA EM MARÇO

Para Eulina, do IBGE, o realinhamento dos preços da energia elétrica e da gasolina e a elevação de impostos explicam a alta do IPCA neste início de 2015. 

Segundo o IBGE, mais da metade do índice de março ficou na conta da energia elétrica, já que o aumento médio de 22,08% na tarifa gerou 0,71 p.p. de impacto, o mais expressivo do mês, e que representou 53,79% do IPCA. 

Isso ocorreu porque a partir de 2 março entrou em vigor a revisão das tarifas aprovada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que permitiu então aumentos extras e fora do reajuste anual para cobrir os custos das concessionárias com a compra de energia. 

Na mesma data, houve reajuste de 83,33% sobre o valor da bandeira tarifária vigente, a vermelha, passando de R$ 3,00 para R$ 5,50.

Com os aumentos ocorridos, o consumidor de todas as regiões está pagando neste ano, em média, 36,34% a mais pelo uso da energia. Nos últimos doze meses as contas já estão 60,42% mais caras. 

Por causa disso, os gastos com habitação, que inclui também a despesa com energia, registraram o maior resultado de alta, de 5,29%. Depois da energia, houve ainda o aumento de 1,25% no item mão de obra para pequenos reparos e de 0,96% no condomínio.

Outra pressão veio das despesas com alimentação e bebidas, que aceleraram 1,17% e representaram 0,29 p.p. do IPCA. Juntos, o grupo dos alimentos e o da habitação exerceram impacto de 1,08 p.p., e responderam por 81,82% do IPCA do mês.

Nos alimentos, que ficaram 3,50% mais caros neste ano e 8,19% nos últimos 12 meses, foram registrados aumentos expressivos em alguns itens, como na cebola (15,10%) e nos ovos (12,75%). 

No grupo transportes, que subiu 0,46%, o IBGE destaca o aumento da gasolina, que foi de 1,26%, ainda refletindo uma parte da elevação nas alíquotas do PIS/COFINS, que entrou em vigor em primeiro de fevereiro. Com isto, o litro do combustível subiu em média 9,80% neste ano. Considerando os últimos doze meses, a alta foi de 11,49%.

Entre os preços que caíram, os destaques foram as passagens aéreas, com queda de 15,45% e telefone fixo (-4,13%). 

Segundo Eulina, as famílias de baixa renda devem ser as que mais sentirão a alta da inflação. "O custo de vida está maior. O consumidor está pagando mais por vários produtos, mas principalmente para se alimentar e para morar, para usar energia", diz a coordenadora. 

* Com informações de Estadão Conteúdo

Atualizado em 19:06

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