Grandes ou pequenos: quem vai ganhar nesta Páscoa?
Chegou a hora dos confeiteiros artesanais, fabricantes industriais e lojas especializadas lucrarem com a venda de chocolates. Em 2018, foram 11 mil toneladas de ovos
A caça aos ovos de Páscoa já não é mais uma brincadeira de criança. Preços, sabores, embalagens, qualidade do chocolate e até a percentagem do cacau – tudo isso leva consumidores e produtores a uma busca intensa pelos melhores produtos e ingredientes.
Considerado o sexto maior mercado de chocolates no mundo, os fabricantes brasileiros têm encontrado cada vez mais concorrência neste setor.
Além de varejistas de peso, como, Cacau Show, Kopenhagen e Garoto, proliferam microprodutores que trabalham com chocolate comercializando trufas, bombons e ovos de Páscoa.
"Existem duas Páscoas. Uma que começa em dezembro, de quem produz chocolates para a data e outra que desponta 20 dias antes do fim da quaresma, que é a do consumidor final”, diz Osvaldo Nunes, dono da Chocolândia.
A expectativa de crescimento nas vendas pode ser também justificada pelas opções de pagamento disponíveis pelas lojas, diz Flávio Simões, diretor de desenvolvimento de negócios da CREDZ, administradora de cartão de crédito próprio para varejistas.
O cartão da loja com linhas crédito diferenciada e maior opções de parcelamento atrai muitos consumidores. “Quem compra chocolate em volume, sabe que é muito raro encontrar lojas especializadas que parcelem esse tipo de compra”, diz.
No caso da Chocolândia, nos primeiros meses do ano, o tíquete médio do cartão cresce 80%, puxado especialmente, pelos microprodutores, de acordo com Simões. Além disso, o cliente participa do programa de fidelidade e acumula pontos que podem ser trocados por cursos de culinária ou produtos.
Entre barras, formas, cestas e embalagens, as 11 unidades da Chocolândia oferecem mais de 2,8 mil itens direcionados para a produção de doces nessa data.
Sozinhos, os meses de março e abril concentram 40% do faturamento anual de toda a rede. São mais de três mil toneladas de chocolate – tudo para uso profissional, sem contabilizar ovos e bombons.
O movimento que desde o fim do carnaval já é intenso, fica ainda maior 30 dias antes da Páscoa, quando as lojas funcionam no sistema 24h e recebem de 12 a 20 mil clientes por dia.
PÁSCOA DOS PEQUENOS
Grande parte de quem compõe esse público são os microprodutores, chamados por Nunes de “clientes transformadores”. Além de comprar, eles também fazem parte do grupo de seis mil alunos mensais da Chocolândia.
Aulas de temperagem de chocolate, precificação, bolos e diversos temas da confeitaria atraem profissionais individuais que buscam uma renda extra nesse período.
A campinense Manuela Dias, 32 anos, conhece bem essa rotina. Há três anos, ela deixou o emprego num escritório de advocacia e passou a trabalhar com ovos para a Páscoa e panetone para o Natal.
São três meses trabalhando para cada data. Em outubro, começam as vendas de fim de ano. Em janeiro, ela monta as caixas de ovos, prepara laços, corta papeis e retoma as vendas, que vão de fevereiro até o final de abril. Nos outros cinco meses, Manuela participa de cursos, testa novos sabores e tira um mês de férias.
“Com o que faturo nesse período comemorativo consigo me organizar financeiramente para os meses seguintes”, diz.
No último ano, foram mais de três mil ovos de colher, quando ela produzia até 30 ovos por dia e vendia cada um por em média, R$ 55. A expectativa é lucrar 5% a mais neste ano. Segundo a doceira, há dias em que a produção diária já chega a 50 unidades.
CENÁRIO
Em 2018, mais de 37 milhões de lares compraram chocolates durante os meses de março e abril, de acordo com um levantamento da Kantar Worldpanel. Para 2019, é esperado um aumento de 2,5% no volume de consumo de chocolate no Brasil.
Com a melhora do cenário econômico brasileiro, a venda de ovos deve crescer consideravelmente, segundo a Abicab (Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Amendoim e Balas).
No último ano, foram produzidas mais de 11 mil toneladas de ovos de Páscoa e derivados - um valor 26% maior que o registrado em 2017.
Para Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab, o aumento das vendas de panetone no Natal do ano passado é um indício de que o consumo motivado por datas tradicionais está sendo retomado.
Na contramão dessa expectativa, a previsão da Euromonitor International indica que o consumo de “chocolates sazonais” (comprados para Páscoa, Natal e Dia dos Namorados) deve chegar a oito mil toneladas em 2019, uma queda de 9% no volume de consumo em relação ao ano anterior.
Caroline Kurzweil, analista da Euromonitor, atribui essa queda no consumo ao novo comportamento de compra do consumidor.
“Durante o período pré-crise eles encontraram formas de manter alguns alimentos em suas cestas, usando algumas estratégias racionais diferentes. Uma delas foi deixar de consumir categorias menos essenciais para poder, esporadicamente, escolher um produto mais premium sem prejudicar o orçamento”, diz.
Caroline diz que este efeito da racionalidade afetou positivamente categorias de chocolate como tabletes e bombons que dispõem de ofertas mais premium. Em contrapartida, os consumidores passaram a calcular o elevado preço por grama destes produtos e passaram a optar por outras categorias para presentear.
“Apesar da leve elevação na confiança do consumidor em 2019, os consumidores continuam céticos e cautelosos na hora de escolher quais produtos e marcas permanecem na cesta de consumo.”
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