Entenda como será a revitalização do Centro Histórico de São Paulo
Um dos focos principais do projeto da Siurb é revitalizar calçadões prejudicados por buracos e desníveis, e melhorar a acessibilidade para 2 milhões de pedestres que circulam diariamente pela região
Desde 1975, o Centro Histórico de São Paulo, considerado o embrião da capital paulista, é foco de projetos e tentativas de requalificação pelas mais diversas gestões que ocuparam a cadeira da Prefeitura da cidade.
Agora, mais de 45 anos depois, um novo projeto "Requalificação do Centro e Reforma do Calçadão", da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), promete ser colocado em prática até o final de 2021, por conta da urgência cada vez mais premente de melhorar a mobilidade no 'Triângulo Histórico'.
A reforma dos calçadões já era prioridade do projeto Triângulo SP, aprovado na gestão do prefeito Bruno Covas (Lei 17.332/2020), e desde fevereiro do ano passado, passou a ser gerenciado e desenvolvido pela SPObras.
Após finalizar essa etapa agora em julho, a Siurb e a SPObras, agora sob a gestão Ricardo Nunes, apresentaram o desenho final na última quarta-feira (21/07) ao Conselho de Política Urbana (CPU) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que acompanha o tema há anos e tem vários estudos sobre os impactos no comércio.
Em reunião comandada por Antonio Carlos Pela, vice-presidente da ACSP e coordenador do CPU, o secretário da SPObras, o engenheiro Marcos Monteiro, e a engenheira Antônia Ribeiro Guglielmi, coordenadora do Núcleo de Projetos e Orçamentos da pasta, apresentaram o novo modelo, que traz mudanças importantes quanto à melhora da micromobilidade, acessibilidade e segurança, além da valorização do patrimônio histórico local.
Além de transformar o espaço público, oferecer acessibilidade universal, facilitar a execução de obras e transformá-lo em polo de atração turística, o projeto de revitalização do Centro Histórico pela Prefeitura de São Paulo prevê alterações estruturais importantes pra facilitar a vida de pedestres, turistas e do comércio.
Uma das principais é a substituição do atual revestimento por um piso tátil em concreto moldado in loco, liso e nivelado, com drenagem central da água e grelhas no mesmo material.
No piso, haverá pontos de acesso e inspeção compartilhados, que facilitem eventuais intervenções e manutenções pelas concessionárias atuantes nas redes subterrâneas, que serão organizadas em galerias.
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"O piso também será redimensionado para resistir ao tráfego intenso, e a circulação de veículos pesados eventuais, como caminhões de carga, carros-fortes e bombeiros", destacou a engenheira Antônia.
Também está prevista troca e padronização do mobiliário urbano, como lixeiras, sinalização turística acessível em nomes de rua, e interação com fachadas de prédios tombados, preservando a arborização.
Essa repaginação contempla inclusive os postes de iluminação funcional e cênica, e principalmente os tradicionais quiosques de engraxates da Praça Antônio Prado, próximo à Bolsa e ao prédio do Santander.
O plano prevê, a princípio, o ataque, o faseamento e o planejamento dos canteiros de obras em dois lotes concomitantes, segundo a engenheira. A obra também precisa de acompanhamento arqueológico e, apesar da dispensa de licenciamento ambiental, será monitorada quanto à ruídos, poeira e saúde de árvores e animais.
Para quem teme ver a porta do seu comércio ocupada por obras durante um logo período, Antônia explicou que os acesso aos edifícios e lojas serão preservados durante o dia, e as obras realizadas no período noturno.
"Se for preciso fazer algum trecho durante o dia, será por algumas horas e haverá um espaço mínimo para entrada", explica. "Mas primeiro faremos todo o calçadão, e só depois as bordas do triângulo", explicou.
De acordo com o secretário Monteiro, a etapa de licitações, que dura três meses, em média, começa agora em agosto. Ao final desse processo, começam as obras, que têm duração prevista de dois anos. "Divulgaremos o cronograma em breve, e contamos com a ajuda da ACSP para comunicar os comerciantes", destacou.
SERÁ QUE AGORA VAI?
A área com mais de 62 mil m2, por onde circulam mais de 2 milhões de pedestres por dia, interligada pelas igrejas históricas da Sé, Mosteiro de São Bento e Santuário de São Francisco de Assis, passa por problemas antigos.
Um dos principais são buracos e desníveis no característico piso de pedras portuguesas - e em consequência, os acidentes causados por eles -, além de dificuldades em sua manutenção e instalação da infraestrutura do subsolo, adensado por um emaranhado de cabos e fios de telefonia, internet e gás.
Como essas redes subterrâneas são antigas, implantadas sem zoneamento, fazem com que o piso sofra demais por conta do excesso de intervenções, explicou a engenheira Antônia Guglielmi durante a apresentação.
"O piso é lindo, e traz com ele a história da cidade", afirmou. "Mas por conta dessas intervenções, que geralmente não são bem feitas, ele não oferece condições de circulação e acaba prejudicando o pedestre."
A Siurb apresentou uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre os impactos sociais e econômicos dos acidentes nas aglomerações urbanas, que aponta a média de 9 quedas a cada mil habitantes, com custo médio R$ 5.740 por queda (inclui resgate e tratamento) para as gestões municipais.
Especificamente em calçadões, como o do Centro Histórico da capital paulista, a estimativa amplia o total de acidentes para 5,4 mil quedas a cada ano, a um custo médio de R$ 31 milhões para as contas públicas.
"Já está comprovado o quanto isso prejudica a vida do cidadão. Com a requalificação, haverá uma economia direta para o sistema de saúde, pois não será preciso destinar verbas para tratar pessoas machucadas", disse.
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Outros problemas, além da deterioração e quebra do mobiliário urbano, são o tráfego intenso, excesso de lixo e o alto déficit habitacional, que engloba mais de mil imóveis vazios ou subutilizados, que poderiam ser usados como moradia ou comércio.
De acordo com estudos do CPU da ACSP, esses problemas foram causados por questões como evasão popular, vacância imobiliária, deterioração da paisagem urbana, segregação, desigualdade social e a mudança do perfil do comércio e dos serviços, que atraíram a presença de agentes de comércio informal.
Assim, ao longo desses anos, foi observado que nenhuma isenção fiscal ou incentivos urbanísticos para revitalizar o Centro resultaram em alterações significativas, segundo o levantamento.
A atração de investimentos privados pelos mais diversos projetos de requalificação acabou diminuindo a ritmo da decadência física da região. Mas a dificuldade em gerir a área central, e os novos projetos propostos a cada nova gestão, nunca se interligaram nem eram complementares para dar continuidade às mudanças.
Ao ser questionado sobre a concretização da requalificação do Centro Histórico, o secretário Marcos Monteiro reforçou que o projeto está pronto, há dinheiro em caixa, e a licitação está prestes a ser realizada.
"Mas temos obrigação, como poder público, de estarmos abertos ao diálogo, com apoio de entidades como a ACSP, e também da academia, para buscar soluções e melhorar a qualidade de vida na cidade", disse.
Na ocasião, o secretário aproveitou para pedir o apoio da entidade quanto à doação de projeto para revitalização de outras duas áreas do calçadão no entorno do do Páteo do Colégio, que ficou fora do perímetro final do projeto.
Para o coordenador da CPU, Antônio Carlos Pela, que tem um gabinete técnico que sempre auxiliou em deliberações como a revisão do Plano Diretor e o retrofit, a ideia é continuar a trabalhar ativamente pela reconstrução do Centro. "Vamos trabalhar ombro a ombro para conseguir o melhor resultado possível."
FOTO: Reprodução do site/Prefeitura de SP