É seguro investir em moedas digitais?
Evento realizado na Associação Comercial de São Paulo discutiu mitos e verdades sobre o bitcoin

* por Patrícia Gomes Baptista
É um mercado que representa mais de US$ 170 bilhões, cerca de R$ 600 bilhões. Tem crescimento rápido na América Latina. No Brasil, em 2017, as projeções para o volume negociado, apenas nas exchanges nacionais, giram em torno de R$ 3 bilhões. Sua invenção é considerada um fato tão importante como a internet.
O que está em questão aqui são as moedas digitais, ou criptomoedas, sendo a bitcoin a mais famosa delas. As perspectivas para elas foram apresentadas no 1º Encontro de Economia Digital – Oportunidades e Desafios das Moedas Digitais, que fez com que mais de 150 empresários lotassem a sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) na última quinta-feira (26/10).
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Para o economista Luiz Calado, inicialmente foi difícil confiar em uma moeda sem lastro do Banco Central, porém, atualmente é uma possibilidade de investimento com grande abertura mundial.
“A perspectiva mudou e não posso negar algo que dá quase 600% de retorno em um ano. Hoje, quando vejo o Japão e outros países olhando como oportunidade de investimento, não posso negar uma possibilidade de diversificação de portfólio”, disse o economista durante o evento;
Para Marcos Henrique, sócio-advisor da FoxBit, “o bitcoin não é o dinheiro da internet, é a internet do dinheiro”. Segundo ele, países de primeiro mundo já estão se posicionando proativamente sobre as criptomoedas. “As exceções globais são governos duvidosos, como o da Venezuela”.

“Países evoluídos de primeiro mundo têm uma regulamentação leve sobre o bitcoin e fazem o controle, mas não a ponto de matar essa inovação. Eles entendem o potencial da tecnologia e que ela pode melhorar a vida dos desbancarizados”, afirma o Henrique.
Quanto à popularização das moedas digitais no Brasil, ele disse não saber se será lenta ou rápida quando comparada com a observada em outros países, porém “é uma onda sem volta e vai chegar para todos, pois tem o poder de mudar negócios, modelos, gerar novas oportunidades e o de mexer na vida de todos.”
MITOS
Os debatedores explicaram que é um mito dizer que a bitcoin é anônima. “O que a mídia propaga, e que não é verdade, é que a bitcoin é anônima. A bitcoin não é o paraíso dos bandidos. É altamente rastreável, altamente verificável. É importante esclarecer, pois a maioria das pessoas não sabe”, disse Henrique.
De acordo com Domenico Lerario, membro da ComiBit, a segurança e a rastreabilidade das moedas digitais são possibilitadas pela tecnologia do blockchain, palavra que se refere a uma cadeia de transações agrupadas em blocos e escrituradas na rede de forma imutável.
“É como se fosse um cimento fresco: escreveu uma transação lá não há como alterar”, disse.
RISCOS
Mas assim como qualquer outro investimento, o bitcoin também é um risco. Diante desse assunto, Marcos Henrique conta que já teve conhecimento de casos em que pessoas venderam a casa e investiram tudo em bitcoin.
“Isso é uma maluquice”, disse. Ele explica que, do mesmo modo que a moeda sobe de preço rapidamente, ela também pode cair.
“As pessoas precisam ter uma maturidade tecnológica para fazer um investimento como esse de forma a não comprometerem suas finanças”, recomenda.
NO MUNDO
Gonçalo Sanches, diretor de desenvolvimento de negócio para a América Latina da startup alemão Brickblock, falou sobre os desafios e a importância do alcance mundial das moedas digitais.
“As pessoas vão ter acesso a ativos e a fundos tradicionais que antes não conseguiriam por vias comuns. Vai existir uma inclusão financeira global”, disse Sanches.
Já David Sabo, diretor de expansão internacional da startup americana Cofound.it, explicou sobre a diferença entre dinheiro físico e o digital.
“Basicamente, quando falamos de criptomoedas, estamos falando de dinheiro na internet que não pode ser copiado. A tecnologia blockchain permite que uma infinidade de coisas tornem-se possíveis.”
O 1º Encontro de Economia Digital foi organizado pela Comissão das Moedas Digitais (ComiBit) da ACSP e pelas distritais Centro Sul da entidade.
O moderador do debate, Wagner Marcelo, membro da ComiBit e presidente da Ignitions, lembrou que o evento é um marco, pois o tema sai do mundo daqueles que detêm conhecimentos focados em tecnologia e passa a interessar também o empresariado.
“Isso é importante para o desenvolvimento de novas tecnologias que vão ajudar o comércio e o serviço”, disse.
IMAGENS: Thinkstock e Patrícia Gomes Baptista