Difícil, na mídia, a verdade

Jornalismo, hoje no Brasil, em decorrência do maniqueísmo ideológico a que foi levado notoriamente nos últimos 15 anos, é a valorização da interpretação dos fatos

Paulo Saab
21/Mai/2021
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Tem sido um exercício diário de controle da paciência.

A Folha dispensei há dois anos. A Veja, idem. A Globo não assisto pelo mesmo tempo e nem pretendo voltar. Melhorou minha saúde física e mental ficar sem. O Estadão virou estadinho. Quando terminar a atual assinatura não vou renovar. Ler o estadinho é cada vez mais raro e chamo de meu “momento de irritação”.

O leitor há de perdoar o desabafo. Tenho meus motivos.

Comecei minha vida de jornalista muito cedo. Entrei na Jovem Pan no auge da maior e melhor performance jornalística já havida no Brasil. Fernando Vieira de Melo, dirigia uma equipe de ouro e primava por ensinar e cobrar de seu time um jornalismo isento, de qualidade. Literalmente aprendi “apanhando”. Tinha acabado de ingressar na São Francisco para estudar Direito quando fui contratado como redator da “Hora da Verdade”.  No ano seguinte a legislação me obrigou a ira para a faculdade de jornalismo. Fui. E estudei Direito à noite e jornalismo pela manhã. A tarde trabalhava na rádio.

Convivi e aprendi, além da genialidade do Tuta e da “maquininha” (apelido do Fernando) com Reali Junior, Marco Antônio Gomes, José Carlos Pereira, Milton Parrom, Nei Gonçalves Dias, Antônio Garini e muitos outros brilhantes jornalistas. Além de mim, davam os primeiros passos na mesma Jovem Pan, Fausto Silva, Oliveira Andrade, José Nelo Marques, José Carlos Pereira, Milton Neves (meu colega de faculdade que eu levei para a Jovem Pan) e outros nomes que se consagraram a partir daquela academia de jornalismo que era a Jovem Pan. Nunca, em momento algum a direção da rádio saiu da linha rígida do jornalismo informativo e isento.

Por dez anos fui repórter político da Folha de São Paulo. Conheci pessoalmente o “velho” Otavio Frias de Oliveira. Na década em que estive na Folha, nunca, alguém me direcionou ou recomendou algo que não fosse a velha e boa reportagem, um texto conciso, limpo e honesto.

Fiquei cinco anos como comentarista político da Rede Capital de rádio. Cheguei a diretor de jornalismo. A orientação sempre foi jornalismo isento e sério. Até na TV Tupi, onde por três anos fui repórter e comentarista do Grande Jornal e do Factorama, e conheci a maior bagunça administrativa de minha vida profissional, em momento algum da direção de jornalismo, recebi qualquer direcionamento de apuração e informação que não fosse o fato em si.

Minha coluna política no Diário do Comércio está com 39 anos. A primeira foi publicada em 22 de junho de 1982. Jamais, em toda essa trajetória houve interferência de alguém para orientar minhas opiniões que não fossem em favor das liberdades e do empreendedorismo. Até hoje escrevo com liberdade total no jornal já eletrônico, uma coluna da qual me orgulho e já se originaram três livros.

Tudo isto para dizer que a fase atual do jornalismo no país, à exceção dos órgãos independentes, como este Diário, é de uma desonestidade intelectual mais que constrangedora, irritante, como mencionei, para quem por 50 anos acompanha a vida nacional (inclusive dentro ainda do período de censura).

Jornalismo, hoje no Brasil, em decorrência do maniqueísmo ideológico a que foi levado notoriamente nos últimos 15 anos, é a valorização da interpretação dos fatos, e não do relato dos fatos em si. Não importa o que aconteceu. Acontece. Importa a opinião de quem pauta, narra, escreve, descreve, os fatos.

A conjunção de forças que estavam acomodadas no sistema de utilização do poder público no país em seu favor, após serem afastadas, pelo voto, desse poder e do acesso a esses cofres, produziu uma onda, um tsunami de desinformação e manipulação da realidade, como nunca tinha visto em 50 anos.

Até onde isso vai é difícil prever.

O Brasil só perde.

Em vez de estarmos todos empenhados num grande projeto nacional de efetivo crescimento e melhoria da qualidade de vida da população, estamos em pleno século XXI, com as energias voltadas para a prevalência deste ou daquele grupo, deste ou daquele segmento, desta ou daquela ideologia.

Vale “o que não está comigo é meu inimigo.” E a divisão, o ódio, só crescem.

Essa divisão também atende a interesses pouco nacionais de melhoria do país como um todo.

Ao contrário, visa o caos para que forças do atraso, do totalitarismo, anti-liberdades, possam voltar ao poder e dele não mais sair subjugando a Nação brasileira.

E o jornalismo, por interesses também próprios, com poucas exceções, fez a opção de ser o meio de difusão das inverdades e narrativas distantes da realidade de um país que já estaria pronto para alcançar sua grandeza.

 

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