De pai para filho, Casa Garcia preserva clientela fixa há 48 anos

Empório fundado pelo espanhol Baltasar Garcia, no bairro da Consolação, mantém receitas originais, e está sob o comando da segunda geração da família

Mariana Missiaggia
25/Jan/2016
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De pai para filho, Casa Garcia preserva clientela fixa há 48 anos

 

Quando o espanhol Baltasar Macias Garcia, 86 anos, chegou a São Paulo, na década de 1950, nem imaginava que, na leve bagagem que carregava, havia algo que o tornaria um comerciante bem-sucedido.

Desde que o imigrante fundou a Casa Garcia, em 1968, em sociedade com um primo, a receita do pavê de doce de leite, trazida de Léon, se tornou o carro-chefe do negócio, e assim segue até hoje.

A iguaria é também o motivo de muitos paulistanos serem atraídos ao empório pela primeira vez, tamanha a fama que o doce ganhou.

Fincada nas imediações da avenida Paulista, a Casa Garcia preserva, além das receitas, clientes desde a sua inauguração. Muitos dos que ali entram são atendidos pelo próprio nome, e viram o negócio evoluir com o tempo. “Participei da vida de nossos clientes. Vi muitos se casarem, terem filhos, ficarem viúvos, e seguirem nossos clientes”, diz. 

PAVÊ DE DOCE DE LEITE: TRADIÇÃO DA CASA GARCIA

Habituado a atender muitas famílias no passado, e no endereço há 48 anos, seu Baltasar assistiu a grandes mudanças físicas nas redondezas, responsáveis também pela diversificação de sua clientela. 

Seu Baltazar recorda que acompanhou de perto o início das obras do shopping Center 3. Viu também, em 1976, o fechamento da casa de câmbio do Banco Safra, no número 1508, da rua Augusta, para a construção de um dos primeiros hotéis de luxo da capital, o Cesar Park, que há dez anos encerrou as atividades no local onde hoje, funciona a Faculdade das Américas.

“Tudo aqui mudou completamente. Na esquina, era uma mansão, e hoje é um prédio que abriga um órgão da Prefeitura”, diz.

A formação da avenida Paulista como um dos principais centros econômicos de São Paulo garantiu bons clientes ao empório, que semanalmente realiza entregas para escritórios de advocacia, e bancos como o Safra, na avenida Paulista.

No atacado, a alta qualidade dos produtos oferecidos também proporcionou clientes importantes, como os empórios São Paulo, e Santa Luzia, e a rede de supermercados St Marche.

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Se lá fora tanta coisa mudou, no interior da loja tudo permanece como antes. Mesmo reformada no ano passado, a Casa Garcia preserva os mesmos costumes oferecendo lanches com frios cortados na frente do cliente, e selecionados a dedo por seu Baltazar.

É o caso do presunto ou jámon, como seu Baltazar prefere chamar, do tipo serrano. De origem espanhola, o corte tem produção única no Brasil, em Catanduva, a 385 quilômetros da capital, e é feito de maneira artesanal, com tempo de preparo que pode se estender por mais de um ano.

FACHADA DA CASA GARCIA, NA RUA LUÍS COELHO

“Você pode viajar o mundo todo, e não irá comer um jámon como esse. Nem mesmo na Espanha”, afirma. “Muitos clientes vão para lá, e voltam dizendo que comeram um presunto bom, porém, não melhor que esse”.

EMPREENDEDORISMO

Empreender não era exatamente um plano na vida de seu Baltazar. No entanto, hoje ele assume que ainda em sua cidade natal, sua veia empreendedora falava mais alto.

“Me recordo que trabalhava numa lanchonete, e vendíamos 30 lanches por dia. Sugeri ao meu patrão que colocássemos novas opções no cardápio, e em cinco meses já estávamos vendendo 150 lanches."

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Convencido por um amigo, o empresário recorda que veio parar em São Paulo por acidente.

“Não era um plano, mas tive sorte. Criei meus filhos, e fiquei até hoje. Meu amigo não deu sorte, ficou apenas três anos e foi embora”, diz. “Um mês de trabalho aqui (SP) me rendeu um salário três vezes maior que o que ganhava em Léon”, diz. 

Com o dinheiro que juntou, ele se tornou sócio de seu primo, e juntos abriram a Casa Garcia, na rua Luís Coelho, no bairro da Consolação.

Passada de pai para filho, a Casa Garcia está hoje sob o comando de Emiliano Macias Pereira, 51 anos, um dos filhos de seu Baltazar, desde março de 2015, junto com sua esposa Mônica Lorando Macias.

“Acompanho meu pai desde criança, mas pra mim era só uma brincadeira. Brincava na rua, entrava, fazia entrega, mexia nas máquinas, cortava frios”, diz. “Com 23 anos, terminei os estudos e entrei de vez para o negócio.”

AS TRÊS GERAÇÕES: GIOVANNI, SEU BALTASAR E EMILIANO

A gestão de Emiliano trouxe novidades. Na vitrine de doces desde a inauguração, e assunto proibido na Casa Garcia, o famoso pavê de doce de leite ganhou adaptações no ano passado, e agora também é oferecido no sabor amendoim e chocolate. São 400 pedaços de pavê - uma média de 15 bandejas por dia. 

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De acordo com Emiliano, o negócio é rentável. “Alimentação é necessidade básica. Além disso, estamos num bairro misto com muita residência e muitos escritórios”, diz. “Por outro lado, vemos a crise claramente em nossos contratos. Clientes grandes, que não estão conseguindo pagar contas pequenas.”

Mesmo depois de tantos anos, a história parece se repetir com um dos filhos do casal que agora comanda a Casa Garcia.

Aos 19 anos, Giovanni Lorando Macias é o filho caçula de Emiliano, e também ajuda o pai. Em época de férias escolares, é Giovanni quem cuida do caixa e de algumas encomendas do empório. Estudante de marketing, ele não garante que dará sucessão ao negócio. "Essa resposta, só o tempo dará", diz.

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