Conselho a João Doria
Estou preocupado com o estado de deterioração da cidade nos últimos três meses. O prefeito não está prefeitando. A zeladoria da cidade não está funcionando
Ao que tudo indica o que menos precisa o prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, é de conselhos. A vitória esmagadora, humilhante, sobre o PT no ano passado, para uma primeira disputa eleitoral, o alçou imediatamente à condição de estrela da vida pública, colocando-o no rol dos presidenciáveis que, na falta de coisa melhor para fazer, nós, os colunistas políticos, insistimos em criar.
Basta esta constatação para perceber que conselho é algo dispensável para a formação de convicções do jovem prefeito paulistano.
Sua figura carismática, bem moldada, exalando energia e disposição, o torna, entre outras qualidades e defeitos possíveis, um prato cheio para a mídia.
Ele próprio, o prefeito, jornalista e homem da mídia, deve saber, mesmo prescindindo de conselhos, que não há nada menos salutar para alguém na vida pública do que o excesso de exposição, de incenso à sua figura, para fazer levitar quem acredita que de fato passou à categoria dos que estão acima do bem e do mal.
Lula usou isso para o mal. Flutua até hoje e se acha deus na Terra. Está dando no que todos estão vendo. Feriu de mort3e sua figura pública e vai acabar seus dias atrás das grades.
Nem se compara a Dória. Mas a questão do incenso e da bajulação pode afetar a compreensão do entorno e desviar quem tem boa vontade do caminha certo.
Empolga com justa razão, afinal varreu o PT do comanda de São Paulo, Doria se convenceu e ou foi convencido de que deve ser candidato a presidente da República. Pode ser verdade, num país tão escasso de lideranças jovens, esclarecidas, e até agora sérias.
Também não serei eu a enumerar as vantagens e desvantagens competitivas de Dória nessa jornada que, ao que tudo indica, ela abraçou com clamor.
Um conselho, se puder dar, apenas, eu me atreveria a dar ao competente alcaide paulistano. Seja isso: competente. Estou preocupado com o estado de deterioração da cidade nos últimos três meses. O prefeito não está prefeitando. A zeladoria da cidade não está funcionando.
Seu primeiro e maior trunfo para habilitar-se a pretendente ao Planalto é sua expressiva votação e a conquista da cadeira de prefeito da maior cidade do país.
Perder, todavia, o apoio dos moradores de São Paulo, por deixar evidente que a cidade está sendo mal cuidada fora dos locais e ambientes criados para gerar fagos promocionais, pode ser seu calcanhar de Aquiles.
Uma boa gestão lhe dará muito mais força no resto do país do que a busca de apoios no estilo tradicional da velha política que ele condenou na campanha vitoriosa.
A cidade está suja, tomada pela mendicância, pelos dependentes químicos, pelos buracos, pelo mato e pela ausência já nítida de falta de gestão por parte do gestor.
Um único exemplo: na gestão Haddad havia um ou dois barracos improvisados nos baixos do viaduto da Avenida Vereador José Diniz sobre a Avenida dos Bandeirantes, no Campo Belo/Moema.
O lugar, na gestão Dória se transformou numa favela e num lixão a céu aberto, que não para de crescer. O espaço público foi tomado, privatizado por alguns que exploram o local permitindo ou não o uso de barraquinhas de “camping” para se acomodar no local, já destruído e sob risco de fogo.
Dei um exemplo. Pipocam nos jornais cartas de leitores reclamando da cidade com ar de abandonada.
Atrevidamente, então, um conselho a João Doria: prefeito, vamos juntos marchar para Brasília, mas o mote da campanha tem que ser uma gestão digna, decente, honesta e eficiente na cidade de São Paulo. Não imitar caciques superados na velha política do compadrio.
*As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio