Conheça as vantagens de operar no e-commerce
A pandemia mostrou, do jeito mais difícil, que quem ainda não vendia pela internet ficou para trás. Dá para criar uma loja virtual de graça, como fizeram Renata e Leonardo (foto), da Tip, com gastos mensais a partir de R$ 50. Mas cuidado com as pegadinhas
Fãs e consumidores de produtos geek e colecionáveis, o casal Leonardo Almeida e Renata Costa juntou as economias para abrir um negócio na internet em 2014, quando criaram a Loja Tip. O e-commerce fez tanto sucesso que, em seis meses abriram uma loja física na Rua Augusta, que faturava, em média, R$ 50 mil/mês.
Mas veio a pandemia, e eles decidiram fechar a loja de rua, que servia mais como vitrine e estoque, e focar no e-commerce. Ao contrário do que imaginavam, as vendas cresceram mais de 30% desde que a crise começou.
Com a adoção das medidas de isolamento social provocadas pelo avanço da covid-19, o e-commerce virou a salvação para muitos negócios na quarentena. Em especial aqueles cujas atividades não foram consideradas essenciais.
Dados da Ebit|Nielsen apontam que nas dez semanas entre o final de fevereiro até a primeira semana de maio, a alta no número de pedidos pela internet foi de 66% ante igual período de 2019. Já o faturamento cresceu 54%. Só em abril, foram 10 milhões de pessoas que compraram pela primeira vez nas lojas virtuais brasileiras.
Ou seja, quem ainda não havia adotado o e-commerce como canal de vendas, com receio dos custos de manter uma loja virtual, como é o caso de muitos pequenos empresários, teve de se desdobrar para correr atrás do prejuízo.
"A pandemia mostrou do pior jeito, e comprovou, que empresas que não têm e-commerce não entraram neste século e estão atrasadas", diz Maurício Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).
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A boa notícia é que, vender pela internet não depende de grandes investimentos ou conhecimentos técnicos: de acordo com Salvador, hoje dá para ter uma loja on-line a partir de R$ 50 por mês, independente da simplicidade e dos tipos de custos variáveis, como pagamento de taxas, frete ou captação de clientes.
Enquanto nas lojas físicas o custo de aluguel, IPTU e condomínio são muitos altos desde o início, afirma, é possível que o próprio empreendedor abra uma loja virtual, cadastrando produtos e montando sua vitrine.
"Na loja física você precisa reformar, comprar estoque... Já na loja virtual, você consegue até trabalhar um tempo sem ter estoque. Em tempos de crise, o e-commerce é a solução até para o desempregado empreender e ter uma fonte de renda", diz.
Se o empreendedor já tem loja física, por exemplo, pode começar a trabalhar via plataformas de marketplace, vender pelas redes sociais ou até criar uma loja virtual gratuita. Como acontece na Loja Integrada - onde está hospedada a Tip -, que reúne mais de 1 milhão de lojas virtuais e detém 26% do mercado de e-commerce brasileiro.
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De acordo com levantamento da plataforma, cerca de 57% dos lojistas que abriram um e-commerce em 2019 trabalham sozinhos, e 52% estocam produtos em casa.
"Além disso, 31% gastaram de R$ 100 a R$ 500 para abrir uma loja virtual nos últimos dois anos, mostrando que é possível empreender com pouco investimento inicial e estoque pequeno", afirma o CEO Pedro Henrique Freitas.
Com a quarentena, muitos empreendedores começaram a se movimentar e, só no dia 1º de abril, uma semana após a implantação das medidas restritivas, foram criadas 1,8 mil lojas virtuais na plataforma. A média diária é 834. "Os comerciantes finalmente buscaram o e-commerce como alternativa para continuar seu negócio", disse, na época.
COMO ADMINISTRAR E MEDIR CUSTOS
Vender pelo ambiente virtual oferece várias opções além do e-commerce em si, como marketplaces, redes sociais, delivery etc. Mas existem outras questões importantes para administrar esses custos, como a mensalidade da plataforma, a taxa de entrega, os gastos com logística (para quem trabalha fora dos marketplaces)...
Mas tudo começa pela precificação dos produtos, já que e venda on-line traz fatores que não apareciam no varejo físico: embalagem, envio e emissão de nota, entre outros, explica Pedro Freitas, da Loja Integrada.
"Se o lojista quiser garantir suas margens de lucro e manter a competitividade, é necessário considerar uma série de questões que influenciam o processo."
Entre as principais estão despesas fixas como luz, internet, ferramentas de gestão etc, e despesas variáveis como embalagens, frete e promoções.
Sobre as entregas, é possível fazer parcerias com empresas do ramo, e começar a vender na mesma cidade e depois nacionalmente usando Correios ou transportadoras.
"Tudo deve ser calculado e alinhado com as contas da empresa. A sorte é que parte desses custos muitas vezes é calculada pela plataforma para cada compra."
A logística, inclusive, é uma barreira psicológica para as empresas que vão entrar no e-commerce, segundo Maurício Salvador, da ABComm, apesar de a parte mais difícil ser feita pelas transportadoras.
Hoje existem muitas empresas privadas que trabalham no Brasil com alta qualidade e preços baixos, afirma. "Mas o empreendedor deve começar pelo mais simples, como os Correios, e conforme for aumentando seu volume de pedidos, pode passar a trabalhar com uma empresa privada e adaptar ao seu negócio", orienta.
Mas, dá para medir os custos de se operar no e-commerce? De acordo com o Freitas, da Loja Integrada, não existe uma resposta única para essa pergunta. Ainda mais em se tratando de varejistas físicos que estão se digitalizando.
Tudo depende muito do tamanho de cada operação, do investimento previsto para o projeto de e-commerce e até das regras de negócio específicas, explica. A compra de tráfego por mídia paga geraria um investimento em torno de 5% a 15% da receita, por exemplo. Já o meio de pagamento, em torno de 3% a 5%.
Mas, ainda assim, é possível antecipar redução em custos fixos como equipe e aluguel de espaço físico, pois pode-se vender o estoque atual da loja, e no futuro armazenar em um estado com tributação favorável à venda on-line. Caso migre para uma operação prioritariamente on-line, pode economizar inclusive o aluguel da loja de rua.
"Vale lembrar que o custo inicial, de adesão, pode ser zero se optar por plataformas com plano grátis", diz.
CUIDADO COM AS PEGADINHAS
Muitos empreendedores não investem no e-commerce por medo de comprometer o capital de giro. Porém, segundo Pedro Henrique Freitas, da Loja Integrada, ele dificilmente comprometerá, devido ao custo operacional baixo em geral, e por se tornar uma possível fonte de cortes de custo.
O investimento que se fazia em estoque e produção continua, mas existe um respiro por não ter que pagar espaço físico. Uma dica é utilizar bem os meios de comunicação, como redes sociais, para engajar seu público.
"As redes são uma vitrine gratuita que, com criatividade, podem alavancar o negócio on-line sem gerar custos, potencializando a marca e a carteira de consumidores apenas através de mídia espontânea", orienta.
Foi o que Leonardo e Renata, da Loja Tip, continuaram a fazer no período de quarentena: perceberam que, embora as pessoas não possam mais se encontrar, ainda existe o apelo social. E a procura pelos games, quadrinhos, filmes e outros itens colecionáveis do universo nerd continuou.
"Muitos pedidos são para presentear alguém; a pessoa compra e entrega em outro endereço. Então, a gente vê que as pessoas querem estar presentes e dar um presente diferente", afirma.
Mas, para não frustrar os planos de finalmente vender pela internet, e muito menos perder dinheiro, é preciso tomar cuidados com algumas pegadinhas, de acordo com Maurício Salvador, da ABComm.
A primeira, segundo ele, é a “plataforma de e-commerce”: quando o empreendedor vai montar uma loja virtual, precisa ficar atento às que são muito caras para seu negócio, para não dar um passo maior do que a perna.
"Tem de tomar muito cuidado com as que não prestam atendimento, ou que dependem de atendimentos terceirizados e não se responsabilizam pelos problemas que ela causa", afirma.
Há também plataformas que cobram percentuais no faturamento, com isso, o empreendedor "amarra" um sócio ao negócio dele desde o início.
"Existem discursos comerciais muito bonitos feitos pelas plataformas, mas isso acaba virando pegadinha quanto à receita e o lucro das lojas virtuais."
Outra forma de diminuir gastos, segundo Salvador, é o empreendedor aprender a operar o seu negócio on-line: muitos contratam agências ou um webdesigner, programador, fotógrafo, e todo um ecossistema de fornecedores ao redor para manter sua loja virtual ativa e atualizada.
"Se ele tiver de contratar todos esses fornecedores, vai trabalhar só para pagá-los", alerta. O ideal é que esse empreendedor aprenda que há coisas dentro da própria operação que ele mesmo consegue fazer, porque não são complexas. "É só questão de aprendizado", diz o presidente da ABComm.
Outra forma de diminuir os gastos é negociar bem com fornecedores para evitar penduricalhos. "Tem loja virtual que vai agregando tanta funcionalidade, pagando chat aqui, Inteligência Artificial ali, e quando percebe está pagando uma fortuna em ferramentas operacionais - mas não está vendendo mais em função disso."
FOTOS: Divulgação