Como o cultivo de macadâmia prospera no interior paulista
Reunindo pequenos empreendedores, Dois Córregos, Manduri, Limeira e São José do Rio Preto tem se destacado na produção do fruto, com exportações anuais acima de US$ 100 milhões
O interesse dos brasileiros por qualidade de vida tem aberto as possibilidades do mercado de alimentação. Com esse movimento, muitas indústrias passaram a incluir frutas e sementes em suas receitas para criar opções mais saudáveis aos clientes.
Aproveitando o bom momento, os produtores brasileiros estão investindo cada vez mais nesses alimentos. É o caso da macadâmia, que além de trazer benefícios ao organismo, auxilia no rejuvenescimento da pele.
Ainda pouco presente à mesa, boa parte da produção nacional tem como destino o mercado externo. As exportações anuais alcançam US$ 133 milhões. A cadeia produtiva de nozes e castanhas e frutas secas – chamadas de nuts – cresce ao ritmo de 6% a 8% a cada ano.
Despontam, no Estado de São Paulo, as cidades de Manduri, Limeira e São José do Rio Preto, que concentram pequenos produtores. É no município de Dois Córregos, a 290 quilômetros da capital, que a macadâmia fincou suas raízes e tem feito história.
Tudo começou com o viveiro de 250 árvores, de José Eduardo Camargo, diretor da divisão de nozes e castanhas do departamento do agronegócio (Deagro), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Com o pai, Camargo decidiu investir na macadâmia, após ter conhecido a fruta durante uma viagem ao Havaí, em 1989.
A plantação, que naquela época processava de forma artesanal 960 toneladas de noz em casca, atualmente produz mais de 1600 toneladas da fruta. Neste ano, cerca de 6 mil novas árvores foram plantadas na fazenda da família, que ainda prevê o plantio de 100 hectares (25 mil árvores), até janeiro de 2016. A intervenção aumentará os 330 hectares existentes em 33%.
EXPORTAÇÃO
Dono da QueeNut Macadamia, Camargo afirma ser responsável por 40% da produção nacional da noz. Ainda assim, o empresário não está satisfeito. Além do plano de aumentar a produção, Camargo quer mudar os números nacionais da macadâmia, e torná-la cada vez mais comum ao paladar brasileiro.
Estima-se que cerca de 60% da produção brasileira seja exportada para os países da Europa, Ásia e Estados Unidos. O restante segue para as indústrias alimentícias. No caso da QueenNut, esse segmento representa mais de 40% dos volumes.
A Wickbold, por exemplo, a utiliza em seus pães de forma. A Kopenhagen, outra cliente de Camargo, trabalha a noz em alguns de seus bombons -formato em que a maior parte da população conhece o alimento, além de sorvetes, e biscoitos.
Para popularizar a fruta, Camargo não mede esforços. Responsável por ter tornado a cidade de Dois Córregos, a principal produtora do Estado de São Paulo, reunindo16 empresas, ele realiza palestras e oficinas para que novos produtores se interessem pela cultura.
“Hoje, a QueenNut Macadamia é referência nacional. Por isso, abrimos a nossa fazenda para visitas na indústria, nos pomares e no viveiro para que outros produtores conheçam todas as etapas, desde a produção até a finalização do produto para a venda no mercado.”
FESTIVAL
Os números positivos não se limitam à produção. Na economia local, a macadâmia tem quase 10% de participação. De acordo com Rosana Massolini, 46 anos, gerente executiva da Associação Comercial de Dois Córregos, a cultura de macadâmia é importante para o município porque além de empregar, também gera um comércio especializado na cidade.
O fruto é de fato, muito utilizado comercialmente. O sorvete de macadâmia é presença garantida em todas as sorveterias da cidade, e é o sabor que mais se destaca. “Esse sorvete é uma atração”, diz Rosana.
O cultivo deu origem ao festival de macadâmia, que teve a sua terceira edição neste ano e trouxe visitantes de cidades vizinhas. A farofa de macâdamia, e a bala de macadâmia foram algumas das receitas que surgiram.
Nas festividades de fim de ano, outra receita tradicional aparece – o panetone de macadâmia. “No lugar do amendoim, das castanhas e das nozes, temos a macadâmia, e a aproveitamos em muitos formatos”.
DEMANDA
Como diretor da Deagro, Camargo tem como missão descobrir as dificuldades enfrentadas por empresários do setor e promover ações de articulação para o fomento da produção e consumo da noz em solo brasileiro.
A produção por região já está bem definida regionalmente. Há as castanhas do Brasil no Norte, Caju no Nordeste, baru no Centro-Oeste, macadâmia no Sudeste e a Pecan no sul.
“Porém, o produtor precisa de mais estímulos para poder atender a demanda que não para de crescer. Linhas de crédito específicas, por exemplo, ou incentivos para o início da cultura em antigas plantações de cana, já são alternativas para o fortalecimento do setor”, afirma.
*Foto: Thinsktock