Codesp tem lucro após cinco anos no vermelho

Em encontro na Associação Comercial de São Paulo, José Oliva, presidente da empresa que administra o porto de Santos, falou sobre o futuro do terminal

Redação DC
01/Mar/2018
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Codesp tem lucro após cinco anos no vermelho

* Por Renato Santana de Jesus

Há dois anos à frente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), José Alex Botelho de Oliva tem provocado uma revolução silenciosa no Porto de Santos.

Nesse período, modernizou a gestão portuária, reduziu os custos com folha de pagamento, atendeu a demandas antigas dos moradores da Baixada, acabou com as filas de caminhões no sistema rodoviário Anchieta-Imigrantes e fez a empresa fechar no azul – a primeira vez em cinco anos.

Para isso, teve de enfrentar dois dos principais inimigos do Porto: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o corporativismo do funcionalismo público.

“Ando armado, de carro blindado e com guarda-costas”, revelou o executivo em palestra realizada na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para apresentar, em primeira mão, os resultados de 2017 da empresa.

Em evento organizado pelo Comitê dos Usuários de Portos e Aeroportos (COMUS) da ACSP, Oliva afirmou que foi preciso quebrar paradigmas para implantar uma nova gestão no Porto de Santos, um local onde produtividade e eficiência sempre estiveram jogadas em alto mar.

OLIVA, PRESIDENTE DA CODESP:
AJUSTE FINO

Ao assumir a Codesp, em 9 de novembro de 2015, a primeira medida de Oliva foi se reunir com as equipes de operação e logística do Porto. O Plano Safra já havia sido posto em prática, mas “ajustes finos”, nas palavras dele, precisavam ser feitos.

“Dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Se tem caminhão, não pode ter trem. Se tem trem, não pode ter caminhão. O que precisa ter é navio atracado e armazém cheio de mercadorias para fazer a operação terra-bordo, bordo-terra. Foi o que acertamos com a equipe e passamos a perseguir isso”, comentou em relação às famosas imagens de caminhões parados ao longo das rodovias para entrar na área portuária.

TECNOLOGIA

A Codesp adotou um sistema de monitoramento e logística, em parceria com Antaq e ANTT, e passaram a monitorar os caminhões desde a saída das fazendas.

Ao passar pelo primeiro posto de pedágio, a placa é capturada pelo centro de controle, colocando o veículo numa pré-fila para sequenciar todas as chegadas – antes mesmo do pedido de agendamento. “E tivemos que ter a coragem de instituir regramentos mais duros. Quem furasse a fila, era barrado e voltava para o final, esperando 24, 48 horas para aprender. Nós disciplinamos o processo.”

Como resultado, em 2016 não houve registros de congestionamentos no Porto de Santos. Em 2017, também não.

Os sistemas usados pela Codesp atualmente são o Portolog e o SGTC, mas a intenção é que em breve eles sejam migrados para uma única plataforma.

O motivo é simples: se no ano em que Oliva assumiu o Porto de Santos movimentou 119,6 milhões de toneladas, em 2017 esse número passou para 129,9 milhões. Janeiro deste ano já foi o melhor da história, com um fluxo de cargas equivalente a 8,99 milhões de toneladas.

“Vamos ter um 2018 melhor”, projeta Oliva, lembrando que alguns terminais começam a operar neste ano. “Isso significa aumento de movimentação, aumento de logística, aumento de trabalho.”  

HIDROVIA

Outra medida logística foi a conclusão, em fevereiro, da Hidrovia do Porto de Santos, que já está pronta para entrar em operação. “Só precisa virar a chave”, diz.

A hidrovia é uma demanda antiga dos usuários e será operada integralmente pela iniciativa privada. As regras para as empresas se cadastrarem como operadoras de transporte hidroviário em Santos serão publicadas na semana que vem.

A expectativa é de que, em 2018, a hidrovia movimente 300 mil contêineres – o que, em outras palavras, significa 300 mil caminhões a menos nas estradas da Baixada Santista.

CHOQUE DE GESTÃO

Como em qualquer empresa, os aumentos de performance financeira da Codesp não vieram com base na sorte. Uma das primeiras medidas administrativas foi a mudança do horário do Porto, que passou a operar em turnos de seis horas.

Com isso, houve uma redução de 18,5% para 7,33% no peso das horas extra na folha de pagamento da companhia. A meta é chegar a algo em torno de 2,5%.

Mas se administrar pessoal parece ser algo trivial na maioria das empresas, a Codesp – que embora seja de natureza mista é praticamente toda da União – é um caso à parte.

“Achavam que o Porto de Santos era uma empresa pública federal em que ninguém podia ser demitido”.

Não podia. Porque na gestão de Oliva, somente em 2017, foram 131 desligamentos – ou R$ 36 milhões a menos de despesas.

Alguns fizeram acordo. Outros, porém, saíram por justa causa. Um dos funcionários, por exemplo, havia apresentado 58 atestados médicos no período de dois anos.

Em outro caso, uma dupla de guardas usou as viaturas da companhia para transportar 32 quilos de entorpecentes. Os relatos são daí para cima em nível de gravidade.

Durante uma reunião da diretoria, um superintendente reclamou da obsessão do presidente por sanar as contas da Codesp, alegando que empresa pública não foi feita para dar lucro.

Foi Oliva ouvir a declaração e, no dia seguinte, o superintendente – com 12 anos de casa – estava exonerado. “É empresa pública, sim, mas regida por CLT. Tem que dar lucro”, defende ele, que é o ocupante mais longevo entre os cinco últimos que passaram pela presidência do complexo portuário.

E dá para entender o motivo de sua permanência no comando. Se em 2016 a Codesp faturou R$ 797 milhões e teve prejuízo de R$ 22 milhões, em 2017 o faturamento chegou a R$ 911 mi, gerando um lucro de R$ 44 mi. É o primeiro lucro em cinco anos da empresa, que finalmente renderá dividendos aos acionistas.

VISITAS TÉCNICAS

Para José Cândido de Almeida Senna, coordenador do COMUS/ACSP, as medidas tomadas por Oliva são importantes para fazer do maior porto brasileiro o melhor porto brasileiro.

Contudo, alertar para o rápido crescimento no fluxo de cargas do complexo, o que exigirá, mais do que boa vontade da Codesp ou qualquer ente público, investimento da iniciativa privada.

“A dragagem não deve ficar na mão do Estado. Já estão faltando recursos. O Estado está falindo. Já em 2020 podemos ter uma grave crise”, diz Senna.  

A partir de agora, o Comus irá se organizar para realizar reuniões em São Paulo e em Santos com usuários do Porto para buscar soluções na iniciativa privada.

IMAGEM: Thinkstock

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