Chega de confusão!

A fúria ideológica que se abateu sobre Paulo Guedes lembra a perseguição a Roberto Campos durante toda a sua vida de pregação de sensatez, razão e prudência. Mas, por mais vitriólica que seja, ela é superficial

Sérgio Paulo Muniz Costa
04/Abr/2019
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Chega de confusão!

A considerar a satisfação de parte da imprensa e da esquerda todinha com a confusão que se passou ontem na audiência sobre a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, conclui-se que o que menos interessa a muita gente são o conteúdo das medidas e a forma de sua implementação.

A bancada da chupeta, repaginada em sua infinita molecagem, voltou à cena, sob as bênçãos dos coronéis da política que, refestelados em suas redes esticadas na varanda do clientelismo, cuidam para que seu patrimônio de corrupção permaneça intocado.

A fúria ideológica que se abateu sobre Paulo Guedes lembra a perseguição a Roberto Campos durante toda a sua vida de pregação de sensatez, razão e prudência. Mas, por mais vitriólica que seja, ela é superficial.

A desordem na qual se encontra o País é bem maior do que a confusão entre o nome do que tem que ser feito e o nome do que fez, separados os dois por mais de cinquenta anos e um mar de novas dificuldades.

Na verdade, foi outro o nome que a História lembrou ontem, ao assistir impassível o parlamento de um país à beira da falência e em profunda crise social protagonizar mais um episódio de insensibilidade e irresponsabilidade.

Foi o de Necker, de Jacques Necker (1732-1804), o homem talhado para situações difíceis colocado diante da tarefa tornada impossível, o reformador prudente mas decidido que cometera em seu memorável trabalho Le Compte Rendu au Roi o sacrilégio de defender o equilíbrio entre receita e despesa da coroa; trazido do mundo dos negócios para salvar a França da bancarrota e da revolução que se acumulava em todos os horizontes.

Foi só quando o maior reformador de Luís XVI caiu, alvejado por inimigos de dentro e de fora da corte e abandonado pelo próprio governo, que as pessoas se deram conta de que “houve uma calamidade pública”. Mas era tarde demais.

Os países, como as pessoas, logram acertos e cometem erros, que produzem consequências, no caso das nações, para milhões e milhões de pessoas, por gerações.

O acúmulo de décadas perdidas com índices de crescimento pífios;  o agravamento da crise social refletida nos índices de deseducação, desassistência e violência; e a virtual inadimplência do Estado que se reflete na vida econômica do País são provas de que o Brasil está errando muito, e há muito tempo.

Um rápido giro geográfico pelos nossos vizinhos e um bosquejo na História das tragédias que devastaram nações mais antigas e poderosas deveriam nos servir de alerta quanto ao desastre que ronda o País.

E no plano inclinado do caos pelo qual escorregamos somos todos culpados nesta sociedade intolerante, inconsequente e ignorante na qual estamos nos transformando, perdida em acusações, dissenções e discussões estéreis. Uma sucessão de absurdos que desfila diariamente nas páginas dos noticiários.

Um deles é a patética discussão se o nazismo é de esquerda ou de direita. Elas, direita e esquerda,  só existem enquanto subsiste o parlamento. Depois que ele foi suprimido, todos os que se insurgiram contra o poder total foram para a guilhotina, para a Sibéria ou para o campo de concentração como aconteceu sucessivamente na França revolucionária, na Rússia comunista e na Alemanha nazista, regimes que terminaram invariavelmente em terror e guerra.

Fazer notícia da discussão se os totalitarismos nazista e comunista são de direita ou de esquerda é a mesma coisa que escolher por que bordo o barco vai afundar, quando ele pode ir a pique de proa ou de popa, ou virar, sem a menor cerimônia.     

Outro absurdo é a pretensão de fazer da política do País, em suas várias expressões, uma cruzada ideológica. Pela sua natureza, a política é a composição das partes representadas em uma sociedade que possui as instituições incumbidas de tratar do interesse público.

Diante dos graves problemas que a afligem, a população brasileira foi às urnas em 2018 e escolheu políticos profissionais para conduzirem esse processo complexo e de extrema importância para toda a sociedade.  Não há espaço e nem tempo para aventuras e amadorismo.

É infantil a permanente intriga urdida no noticiário, baseada em meras ilações produzidas in vitro nas redações da notícia a qualquer custo.

A imprensa livre é uma condição irrevogável do Estado de Direito democrático e a primeira garantia da liberdade de opinião, de pensamento e de expressão.

Mas para isso é preciso que a imprensa seja ela mesma, não boneco de ventríloquos que querem manipulá-la.   

Também é ridícula a tentativa de judicialização da História que pretende coagir as pessoas a pensarem todas de uma só maneira, segundo os cânones de uma ideologia fracassada que se faz passar por pacificamente aceita.

Se o Brasil de hoje pode enfrentar em paz e com estabilidade política as dificuldades e desafios do momento, é porque há cinquenta e cinco anos se fez uma revolução para acabar com todas as revoluções no País. Esse é consenso histórico a que chegou o Brasil.

Quem quiser fazer a sua revolução, circunscreva-se à sua exclusiva maluquice.

Portanto, por tudo isso e  muito mais que não cabe nestas poucas linhas, o clamor ainda silencioso do Brasil é bem claro: chega de confusão!

FOTO: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

 

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio

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