Caça às promoções é mais intensa na Grande São Paulo
Produtos em oferta representam 20% do volume de compras das famílias residentes na região ante 13% no restante do país, revela pesquisa da consultoria Kantar
Ela aprendeu com a patroa. Na hora de abastecer a despensa, é preciso escolher o supermercado próximo que oferece produto com qualidade e menor preço.
Há 20 anos, Selma Regina Simpliciano, 49 anos, na foto acima, ajuda a casa onde trabalha a fazer economia. Com a crise, a caça às promoções virou rotina.
Nesta terça-feira (01/08), enquanto fazia compras no supermercado Dia, em Perdizes, na zona Oeste de São Paulo, Selma dizia que os produtos em promoção correspondem a 60% do que gasta no mês.
“Sempre fui de correr atrás de preços baixos para os patrões e para mim. Agora, mais ainda”, afirma ela. Isso vale para a compra de alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e roupas.
“Tem de pesquisar. A diferença de preço de um mesmo produto nos supermercados é grande.”.
Selma e seus patrões encarnam o perfil identificado em recente pesquisa conduzida pela consultoria Kantar Worldpanel. A corrida às promoções virou quase uma mania dos consumidores brasileiros.
Na Grande São Paulo, as promoções representaram 20% do volume de compras das famílias nos últimos 12 meses terminados em maio passado.
Eram 17% no ano anterior, de junho de 2015 a maio de 2016, de acordo com a Kantar, que colhe, semanalmente, informações sobre consumo de alimentos, bebidas e produtos de higiene e beleza de 11,3 mil famílias brasileiras.
A busca por ítens com preços baixos é mais evidente entre os moradores da Grande São Paulo do que no restante do país.
Na média nacional, o volume de compras de produtos em promoção nos supermercados representou 13% do total adquirido pelas famílias em 12 meses terminados em maio deste ano.
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“A caça às promoções revela o esforço dos consumidores para manter o produto e a marca que já estão acostumados a comprar. Quem tem o melhor preço, acaba atraindo mais clientes”, afirma Maria Andréa Ferreira Murat, diretora de marketing da Kantar.
A loja do Futurama, na Lapa, Zona Oeste paulistana, por exemplo, chega a quadruplicar a venda de produtos que estão em oferta.
A força da promoção é tão intensa que, de 10 mil itens espalhados pelo supermercado, pelo menos mil estão com os preços reduzidos durante o mês, de acordo com Antônio Ferreira de Sousa, gerente da loja.
As sete lojas da rede atendem quase 600 mil clientes por mês. Uma das ações promocionais mais fortes da empresa é feita no início do ano, em parceria com as marcas líderes, com o apoio da Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
A campanha consiste em sorteios de casas e automóveis. Na compra acima de R$ 50, o cliente recebe um cupom para preencher com os dados pessoais e concorrer aos prêmios.
Para fisgar consumidores ávidos por promoções, o Grupo Pão de Açúcar lançou recentemente um aplicativo que possibilita ao cliente cadastrado em programas de fidelidade a obter descontos.
“Hoje, o recurso da promoção é quase obrigatório entre as redes por conta da acirrada concorrência”, diz Cristina Panella, socióloga e especialista em planejamento e pesquisa.
A disputa entre as redes chegou a tal ponto, segundo afirma, que quase diariamente ela recebe encarte para informar sobre os descontos de produtos que valem até o final de semana seguinte.
Para que o consumidor se desloque, saia de sua zona de conforto, diz ela, é preciso o estímulo da promoção.
“Com o declínio do consumo, as grandes redes nem falam mais em ampliar o número de clientes. Elas trabalham para mantê-los", diz. "Só agora elas estão começando a acordar sobre a importância de atendimento, fidelização e relacionamento com o cliente.”
A promoções ser tomaram hoje, na avaliação da socióloga, um ato de cumplicidade. “Eu aceito ganhar menos com a venda de certo produto e você, cliente, fica comigo”, diz Cristina.
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A pesquisa da Kantar também identificou que os consumidores da Grande São Paulo vai com mais frequência às compras do que o do restante do país.
No período de 12 meses terminados em maio deste ano, o consumidor paulista foi 105 vezes a um supermercado, hipermercado ou atacarejo. Na média nacional, 84 vezes.
Apesar de ir mais vezes ao supermercado, o consumidor da Grande São Paulo gasta menos por compra -R$ 36,77- do que o do restante do país -R$ 47,62.
“Na região da Grande São Paulo há maior disponibilidade de locais para fazer compras, o que explica a maior frequência e o menor gasto”, diz a diretora da Kantar.
Cristina lembra também que é comum nos grandes centros, como na Grande São Paulo, as pessoas passarem no supermercado na volta do trabalho para a casa, um hábito, que para muitos consumidores, é quase diário.
Os modelos de loja prediletos dos moradores da Grande São Paulo são os hipermercados e os atacarejos, que representam 15% e 16%, respectivamente, do volume de compras, de acordo com o levantamento
Na média nacional, a preferência recai sobre o varejo tradicional, representado pelos mercadinhos, com 25% de participação do volume de compras, e o varejo independente, com 23%.
Os supermercados de rede detêm igual participação -22%- no volume de compras tanto de consumidores da Grande São Paulo quanto no Brasil.
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Os ítenss relacionados a praticidade são os preferidos dos consumidores da Grande São Paulo, de acordo com a Kantar.
O índice de penetração de alguns produtos nos lares da Grande São Paulo chega a ser até 20 pontos maior do que o do restante do país.
Os destaques são: pão industrializado, bebida de soja, bolo industrializado, azeite, torrada industrializada, agua mineral, cereal matinal, hambúrguer, batata congelada e massa fresca.
No sentido oposto, a penetração de ítens rotineiros como desodorante, café sobluvel, manteiga, leite em pó, sabão em pedra e extrato de tomate é inferior na Grande São Paulo ante o restante do país.
A pesquisa da Kantar também identificou o aperto financeiro que passa o consumidor brasileiro. A renda mensal declarada do domicílio, de R$ 3.108 era menor do que o gasto, de R$ 3.159, nos últimos 12 meses terminados em maio deste ano.
Nas famílias que residem na região da Grande São Paulo, a situação financeira era mais confortável. A reda declarada era de R$ 3.445 e o gasto, de R$ 3.380.
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FOTOS: Fátima Fernandes/ Diário do Comércio