Bolsonaro teria força política para aprovar reformas importantes?
Em palestra na ACSP, Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset Management, se vale de estatísticas para apontar facilidades e dificuldades que, se eleito, terá o candidato do PSL
Caso Jair Bolsonaro seja eleito presidente, ele terá força política no Congresso semelhante à de Temer ao assumir o Planalto após o impeachment. É o que afirma Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset Management.
Esse apoio no parlamento seria suficiente para que consiga aprovar reformas complexas, como a da Previdência.
Cálculos estatísticos feitos por Leichsenring apontam que Bolsonaro precisaria dos votos de 84% dos deputados que o apoiam hoje para aprovar reformas difíceis. Esse é exatamente o percentual de apoiadores que Temer necessitava quando assumiu a presidência da República.
“Temer conseguiu aprovar pautas polêmicas (como a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita), então Bolsonaro, embora não tenha a bagagem parlamentar do atual presidente, pode conseguir apoio suficiente para aprovar reformas importantes”, disse Leichsenring nesta quinta-feira (25/10), durante reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Em entrevistas, Bolsonaro já disse que sua base de apoio é formada por mais de 300 deputados. A segunda maior legenda da Câmara – atrás do PT – será seu partido, o PSL, com 52 eleitos.
Partidos que comungam das ideias defendidos por Bolsonaro, como o PR e PP, mantiveram-se fortalecidos, com mais de 30 deputados eleitos cada uma.
Entre as prioridades do próximo governo, Leichsenring considera a aprovação da reforma da Previdência a mais imediata. Para ele, sua aprovação seria fundamental para ajustar as finanças públicas e colocar o Brasil novamente no caminho do crescimento.
“Já temos dados positivos, como inadimplência baixa, recuperação da renda e a reação do mercado de trabalho. Com o mínimo de reformas aprovadas, podemos crescer entre 3% e 3,5% no próximo ano”, afirma.
Mas a vida do presidenciável pelo PSL não seria tão simples. Isso porque, mesmo encontrando alinhamento no Congresso, a capacidade política dos novos parlamentares é incerta. O desejo de renovação da população limou 50% dos congressistas experientes.
Na avaliação do economista, um Congresso menos tarimbado pode criar dificuldades para o futuro governo. Ele destaca que 90% dos deputados federais eleitos pelo PSL, e 75% dos senadores da legenda, nunca ocuparam um cargo eletivo.
“Eles não têm a menor ideia de como funciona o parlamento, o que abre espaço para a oposição bloquear pautas, por exemplo. Essa perda de qualidade do Congresso pode dificultar que o governo imponha sua agenda”, disse o economista-chefe da Verde.
LEIA MAIS: Congresso “amador” é um risco para o momento político
Além desse fator, Leichsenring lembrou que Bolsonaro já externou que não quer apoio de nenhuma legenda, o que o economista considera um equívoco.
Para ele, Bolsonaro vai se fiar nas bancadas (especialmente aqueles às quais se convencionou chamar de bancadas da Bala, Boi e Bíblia), mas não há garantia de apoio recíproco. “As bancadas tendem a apoiar projetos que as favoreçam”, afirmou.
Mesmo com esses obstáculos, o economista da Verde aposta na aprovação da reforma da Previdência. “Não deve ser uma reforma tão boa quanto essa proposta por Temer, mas vai ser aprovada”, disse.
Assim como acontece com Temer, a aprovação de pautas impopulares levaria Bolsonaro a perder capital político.
Segundo Leichsenring, para contornar a perda de apoio da população, caso eleito, Bolsonaro tende a colocar em pauta logo de entrada propostas que tratam de costumes, como maioridade penal, revisão da política de desarmamento e a aplicação do excludente de ilicitude, temas que satisfazem seu eleitorado.
Além disso, a exemplo do que Trump tem feito, o capitão reformado deve usar muito as redes sociais para se comunicar com seus eleitores. “Ele vai criticar a mídia tradicional e concentrar sua estratégia de comunicação no twitter”, diz.
REVIRAVOLTA NAS ELEIÇÕES
Leichsenring trabalha suas projeções para a economia considerando a vitória de Bolsonaro.
Dados estatísticos organizados por ele, baseados no histórico de 257 eleições realizadas desde 1998, mostram que em menos de 3% das vezes em que um candidato chegou ao segundo turno com uma vantagem semelhante à de Bolsonaro sobre Haddad, houve virada.
De acordo com o palestrante, o sentimento dos brasileiros nessa eleição foi direcionado à escolha de alguém que “tire o país das mãos dos corruptos e poderosos e que combata a corrupção”.
Esses dois itens foram os mais apontados pelos eleitores em um levantamento feito pelo Instituto Ipsos.
“Falar que o resultado da eleição presidencial será definido por um movimento anti-PT seria simplificar as coisas. O povo está votando contra o establishment, e Haddad parece se encaixar mais nesse perfil, enquanto Bolsonaro é visto como um outsider”, disse Leichsenring.
IMAGEM: Divulgação