Baixa competitividade dos negócios dificulta a retomada em 2021

Convidado pelo Conselho de Câmaras Internacionais de Comércio (CCIC), da ACSP, o economista Roberto Troster diz que a situação do Brasil incentiva muitas empresas a exportarem empregos para outros países

Mariana Missiaggia
17/Dez/2020
  • btn-whatsapp
Baixa competitividade dos negócios dificulta a retomada em 2021

Próxima de encerrar mais um ano de baixo crescimento, a economia brasileira, que avançou apenas 1,1% em 2019, deve sofrer um tombo de 4,5% em 2020. Embora o mundo esteja vivendo os efeitos inesperados de uma pandemia, o economista Roberto Troster diz que no Brasil, outros problemas estruturais são os maiores responsáveis por emperrar o desenvolvimento social e os resultados macroeconômicos.

Na última quarta-feira (16/12), Troster foi convidado pelo Conselho de Câmaras Internacionais de Comércio (CCIC), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), para discutir as perspectivas econômicas para 2021. Durante a reunião, o economista destacou que devido à baixa competitividade brasileira, muitas empresas acabam exportando empregos para outros países. O mesmo ocorre com os investidores internacionais, que escolhem nossos vizinhos para expandir seus negócios, prejudicando o crescimento econômico brasileiro.

Quanto a burocracia e impostos, Troster cita o ranking de 2020 feito pelo Banco Mundial. O material aponta que entre 190 países, o Brasil aparecia na posição 124 no quesito facilidade de fazer negócios. Uruguai, Peru, Colômbia, México, Chile estão melhores que o Brasil.

"Dizem que no Paraguai, sete a cada dez novas empresas são brasileiras. Não faz sentido, nós estamos exportando postos de trabalho e importando bens de serviços", diz.

O especialista ainda cita que a taxa de investimento no ano passado foi 15% do PIB, uma das mais baixas da história brasileira, e destaca que, apesar da força de trabalho e competência dos empresários brasileiros, ainda estamos presos a um quadro institucional ineficiente com políticas que impedem a concorrência internacional e competitividade.

Para reverter esse quadro, é preciso a implementação de algumas medidas, como, por exemplo, diminuir a burocracia e corrigir distorções tributárias. Para ilustrar, ele cita que embora os juros básicos estejam caindo, não se vê reflexo disso na ponta da cadeia - no Banco do Brasil, o cheque especial cobra 380% ao ano de juros, 180 vezes mais do que a taxa básica (Selic). No capital de giro, a Caixa cobra 26% ao ano, 13 vezes mais que a taxa básica. Ou seja, de forma isolada, a taxa básica não resolve esse conflito.

Além de todas essas questões estruturais, outro aspecto atrasa a recuperação interna. Na avaliação de Troster, de maneira geral, o mundo não está vendo o Brasil com bons olhos. Determinadas posturas, como a falta de atuação do governo frente a pandemia, o posicionamento negacionista em relação às queimadas no Pantanal e Amazônia, acabam, de alguma maneira, afastando os investidores externos e desfavorece a imagem do Brasil.

Segundo o economista, há ainda outros fatores importantes a serem considerados, como o baixo crescimento registrado no ano passado, a inadimplência de pessoas física e jurídica, o recorde de alta nos registros de crédito e a elevação da dívida pública.

Destacada por Troster, a solvência da dívida é considerada por ele um meio para melhorar essas perspectivas. Embora não considere que estejamos à beira de uma catástrofe, o que lhe chama a atenção é o fato de que as projeções de déficit para 2023, que deveriam cair, aumentaram. "Sem dúvidas, estamos na direção errada".

O economista explica que a dinâmica da dívida pública que estava ruim, piorou. Ele cita que as projeções são de que até 2030 o país vai ter déficit primário. Antes, essas projeções eram até 2025.

"É uma dinâmica ruim. Outra política de crédito pode melhorar muito, como tributar renda fixa em vez de crédito. O trabalho é mais tributado que a renda fixa - o assalariado paga, na margem, 27,5% de Imposto de Renda".

Reflexo desse cenário, o desemprego deve se manter em alta em 2021, na opinião do especialista. Antes da pandemia, o Brasil registrava 95 milhões de pessoas ocupadas e 12 milhões desocupadas. Os dados atuais mostram que agora temos 82 milhões ocupados, ou seja, uma redução de 13 milhões de postos de trabalho.

No entanto, oficialmente o número de desempregados subiu apenas dois milhões, somando 14 milhões. Ainda assim, o especialista argumenta que no país há um contingente de 11 milhões que não estão procurando trabalho por conta da pandemia e que seguem sem nenhuma renda.

"E as soluções apontadas pelo governo são fracas. É muita lição de casa mal feita. Se o país tem ambições de empregar mais e explorar todo o potencial existente, é importante mudar rápido o foco do governo, que precisa ser a competitividade", diz.

 

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Entenda a importância de planejar a sucessão na empresa

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais