Aznar: É preciso criar meios para a Inteligência Artificial controlar a própria IA. Ou teremos problemas

Em palestra no COPS da ACSP, ex-presidente do governo da Espanha (esq.), hoje à frente da FAES, alertou sobre os impactos da nova tecnologia e possíveis consequências na reorganização geopolítica global e no avanço da polarização

Cibele Gandolpho
30/Set/2024
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Aznar: É preciso criar meios para a Inteligência Artificial controlar a própria IA. Ou teremos problemas

“O mundo vive hoje a maior revolução tecnológica da história da humanidade graças ao advento da Inteligência Artificial.” A opinião é do ex-presidente do governo da Espanha, José María Aznar. Ele palestrou sobre "A polarização da política mundial e suas consequências econômicas e sociais", em reunião do Conselho Político e Social (COPS), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada nesta segunda-feira (30/09).

Atualmente, Aznar, que governou a Espanha em dois mandatos, de 1996 a 2004, é presidente da Fundação para a Análise e Estudos Sociais (FAES), e acredita que toda a mudança proporcionada pela IA tem consequências para a economia, para a reorganização geopolítica global, e para o avanço da polarização política.

“A criação da IA pode impactar todo o sistema político, social, comercial, cultural, econômico e tantos outros segmentos. É muito mais desafiante do que a invenção da roda ou de quando inventaram a luz elétrica. Não tem comparação. Até alguns anos atrás, isso parecia impensável, ou seja, ver máquinas capazes de substituir os seres humanos”, destacou. 

Para Aznar, todas as empresas do mundo inteiro estão estudando possibilidades de como melhorar seus rendimentos e operações por meio da IA. “As máquinas, assim digamos, já analisam o problema, estudam o cenário e tomam decisões sem qualquer intervenção humana. No entanto, a IA é usada em outras frentes, nem sempre animadoras."

GUERRA E POLÍTICA

O ex-governante cita, por exemplo, como drones e outros mecanismos de combate estão polarizando decisões de guerra. “Logo, precisaremos fazer a Inteligência Artificial criar meios de controlar a própria IA, senão teremos problemas. É algo que pode afetar nossa vida consideravelmente”, alertou. 

Também comentou como militares israelenses têm usado inteligência artificial para ajudar a identificar alvos de bombardeio em Gaza, na guerra entre Israel e o Hamas. Convidado a comentar sobre a guerra, Aznar foi direto ao ponto. 

“Já falei outras vezes e sempre repito que é fundamental que Israel ganhe a guerra e a termine bem, porque aqui está em jogo a garantia de condições de segurança para o futuro para toda a região. Se Israel não sair vitorioso, a próxima será nas fronteiras mais próximas da Europa.”  José María Aznar é um político espanhol com uma ideologia conservadora e pró-israelense.

Aznar e autoridades na ACSP: oportunidade de discutir questões geopolíticas mundiais


ELEIÇÕES AMERICANAS

Ainda durante sua visita à ACSP, Aznar falou das eleições norte-americanas e como países como China, Rússia e Irã confiam cada vez menos na capacidade de dissuasão dos Estados Unidos.

“Vemos uma falta de consistência e insegurança, a falta de dissuasão que, durante anos, se tem acumulado na política norte-americana.”

E continuou: “Qualquer que seja o candidato que vencer as eleições, ele terá um grande desafio de reestabelecer conexões com os países aliados. Os norte-americanos estão tendo que reaver suas alianças em todas as partes senão terão problemas. Hoje, a China é o maior país do mundo, mas se formos considerar superioridade militar, econômica, demográfica e tantos outros pontos, os Estados Unidos e seus aliados são muito mais poderosos”, avalia.

Ele avalia ainda que o partido republicano não existe, existe o partido do candidato Donald Trump. “Trump é Trump. Para mim, que sou democrata clássico, é muito difícil apoiar uma pessoa que ordena que seus seguidores invadam o Capitólio", disse. "Quando a eleição acabar e o novo presidente assumir, ao meu ver, será um período em que o mundo vai passar por muitas coisas porque há decisões globais sendo adiadas enquanto isso não se define.”

MERCOSUL

Em sua palestra, Aznar também falou sobre o acordo Mercosul-União Europeia que, em sua avaliação, não irá sair no curto prazo. “O Brasil, assim como todos os países da América Latina, tem uma importância fundamental. Tanto é que, quando eu tinha agenda com os presidentes George Bush ou Bill Clinton, nós passávamos país por país para avaliar todas as questões.”

Ele comentou, porém, que no momento atual o acordo não é do interesse dos europeus, em especial da França. E, da parte de Brasília, a agenda não é colocada em discussão com a intensidade necessária. "O Brasil prefere falar da paz na Ucrânia." 

Ex-presidente do governo espanhol recebeu o kit 'DC 100 anos' do presidente da ACSP


O presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, que recebeu o ex governante espanhol, falou da importância de sua visita para a comunidade empresarial. 

“Sua presença nos traz a oportunidade de discutirmos um pouco sobre temas tão importantes, e como a polarização da política mundial pode ter suas consequências”, destacou Ordine, que presenteou o convidado com o kit especial de "100 anos do Diário do Comércio." 

Aznar também respondeu a perguntas de autoridades, como os secretários estaduais Gilberto Kassab (de Governo e Relações Institucionais) e Fábio Prieto (Justiça e Cidadania), dos ex-senadores Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen, integrantes do COPS, e do presidente da Facesp e da CACB, Alfredo Cotait Neto.

CURRÍCULO 

Formado em Direito pela Universidad Complutense de Madrid, José María Aznar nasceu na capital espanhola em 1953. Atualmente, além de presidente da FAES, ele é Membro do Conselho Consultivo Internacional do Conselho do Atlântico dos Estados Unidos, Co-Presidente da Força-Tarefa Transatlântica do Conselho do Atlântico sobre a América Latina e Presidente da Iniciativa Amigos de Israel. É casado com Ana Botella, com quem tem três filhos e oito netos. 

Tornou-se presidente do governo de Espanha em 1996, após a vitória eleitoral do Partido Popular. De 2000 a 2004, liderou o país novamente com adesão absoluta da população. Durante seus mandatos, esteve à frente do processo de reforma econômica e social, como a adesão de medidas para promover a concorrência e fazer o controle orçamentário, a fim de racionalizar gastos públicos e reduzir impostos.

Escreveu vários livros durante sua carreira. São eles: Memorias I (2012) España puede salir de la crisis (2009) (Espanha pode sair da crise), Cartas a un joven español (2007) (Cartas a um Jovem Espanhol), Retratos y perfiles. De Fraga a Bush (2005) (Retratos e Perfis: De Fraga a Bush), Ocho años de Gobierno (2004) (Oito Anos no Governo), La España en que yo creo (1995) (A Espanha em que Eu Acredito), España: la Segunda transición (1994) (Espanha: A Segunda Transição) e Libertad y Solidaridad (1991) (Liberdade e Solidariedade). 

 

 

FOTOS: César Bruneli 

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