A economia cresce se o consumidor estiver confiante
Segundo análise da equipe de economistas da ACSP, são necessárias medidas que equacionem as contas públicas para reativar a economia
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em 2018, repetindo o mesmo desempenho do ano anterior.
Na comparação com os mesmos períodos de 2017, houve desaceleração tanto no segundo trimestre, motivada pela greve dos caminhoneiros, como no quarto, causada pela incerteza eleitoral.
O resultado decepciona, porém, não surpreende, dada a fraqueza mostrada por outros indicadores de atividade ao longo do ano passado.
Para a equipe de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) o agravamento da crise política, a paralisação dos transportes e a incerteza das eleições provocaram adiamento das decisões de consumo e produção, fazendo com que a atividade perdesse tração durante 2018.
Para os economistas da ACSP, a partir da aprovação de uma reforma da Previdência que efetivamente permita equacionar as constas públicas, além de outras reformas estruturais, espera-se que o aumento da confiança de consumidores e empresários impulsione um maior crescimento econômico em 2019.
PIB DE 2018
Pelo lado da demanda, em 2018, o consumo das famílias, seu principal componente, voltou a ser o carro-chefe do crescimento econômico, apresentando expansão de 1,9%, em decorrência das maiores concessões de crédito, da redução do desemprego, da menor taxa de juros e da inflação baixa.
No caso dos investimentos produtivos e em infraestrutura (formação bruta de capital fixo) houve crescimento de 4,1%, quase metade explicado pelo efeito da contabilização de plataformas de petróleo já produzidas anos atrás.
Houve forte desaceleração das compras de máquinas e equipamentos no quarto trimestre do ano passado, devido principalmente à incerteza eleitoral, que provocou recuos na confiança dos empresários.
O desempenho anual desse tipo de despesa também foi prejudicado pelos cortes de investimentos em infraestrutura por parte dos governos subnacionais, devido à aguda crise fiscal enfrentada.
Por sua vez, o consumo do governo, que corresponde basicamente às despesas com servidores nas três esferas governamentais, ficou estável durante o ano passado.
Ao contrário dos últimos anos, houve contribuição negativa à despesa total por parte do setor externo em 2018, com crescimento das importações (8,5%) superior ao registrado pelas exportações (4,1%), devido, principalmente à crise argentina.
Pelo lado da oferta, na mesma base de comparação, houve expansão de todos os setores produtivos. A principal contribuição veio do setor de serviços, principal segmento produtivo da economia, que apresentou alta de 1,3%.
A retomada do consumo das famílias explica a maior parte desse resultado, destacando-se, em especial, o comércio atacadista e varejista, com crescimento de 2,3%.
No caso da indústria, observou-se modesta expansão anual (0,6%), embora tenha sido o primeiro resultado positivo, após quatro anos de quedas consecutivas.
Esse desempenho modesto foi causado pela crise da Argentina, pela desorganização da cadeia produtiva, devido à greve dos caminhoneiros, e pela incerteza eleitoral, que abalou a confiança dos empresários, freando novos investimentos no setor.
A construção civil exerceu forte impacto negativo, prejudicada pelos cortes de investimentos dos governos estaduais e municipais, anotando o quinto ano seguido de retração.
A agropecuária, que havia sido o motor do crescimento em 2017, ficou praticamente estagnada no ano passado. Pesaram muito o clima adverso que atingiu várias regiões produtoras, a alta base de comparação de 2017 (supersafra) e os danos provocados pela greve dos caminhoneiros.
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