A análise (nada animadora) de Brasília sobre a vitória de Donald Trump
Documento de duas páginas e meia tem 14 tópicos e dois gráficos. No item Deportação, estima que 230 mil brasileiros vivam ilegalmente nos EUA
Um sintético relatório de duas páginas e meia circula no primeiro escalão de Brasília trazendo cenários sobre a vitória de Donald Trump, nesta quarta-feira (6), nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Intitulado Possíveis Consequências da Vitória de Trump nos EUA, ele foi obtido com exclusividade pela DC NEWS – agência de notícias da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
As conclusões não são nada animadoras. O primeiro dos 14 tópicos fala da Vitória Total do republicano (“Presidência, Senado, Câmara, Suprema Corte e voto popular”). O tópico seguinte trata de Aumento do Déficit Público (“Trump promete cortar vários impostos e, com isso, relação dívida/PIB seguirá crescendo”). Um gráfico (imagem 1 abaixo) mostra o comportamento ano a ano desde 2010 (60,6%) até agora (99%) e uma projeção até 2034 (122,4%).
Outros quatro temas encerram a primeira página do documento e tratam de Protecionismo (“Trump promete aumentar tarifas de 10% a 20% sobre praticamente todas as importações … e em pelo menos 60% sobre as provenientes da China”), da Deportação de Imigrantes (“Estima-se que existem pelo menos 230 mil brasileiros ilegais nos EUA”), da Inflação (“Com mais déficit, produtos importados mais caros – por causa de tarifas extras – e mercado de trabalho mais apertado – com menos imigrantes -, a inflação fica mais pressionada”) e de Taxas de Juros (“Com mais inflação no horizonte, as taxas de juros nos EUA ficarão mais altas”).
Na segunda página são abordados mais seis tópicos. O primeiro é a Valorização do Dólar (“Maiores taxas de juros nos EUA apreciam a moeda americana e depreciam moedas emergentes; hoje, o real já ultrapassou a barreira de R$/US$ 5,80”). Depois trata de Mais Incerteza (“Devido ao temperamento e postura de conflitos em redes sociais, mundo fica mais imprevisível sob Trump”) e Mais Concentração de Renda (“Estima-se que os cortes de impostos e elevação de tarifas propostas por Trump favoreçam a renda dos 5% mais ricos e prejudicam a renda dos 95% mais pobres”) – este terceiro tópico da segunda página é seguido de um gráfico (imagem 2 abaixo) mostrando que em 2026 pobres pagarão em média mais impostos e os ricos, menos.
O item seguinte é Mais Produção de Petróleo (“[Trump] promete a liberação rápida de todos os projetos de combustíveis fósseis. Sua fala ‘nós vamos perfurar, baby, perfurar’ rodou o mundo nos últimos meses”). Na sequência, Menor Combate às Mudanças do Clima (“Trump afirmou em setembro que o aquecimento global é ‘uma das maiores fraudes da atualidade’. Deve sair do Acordo de Paris, como no primeiro mandato”). A segunda página termina com Dilema para Transição Energética (“Haverá aumento da produção de petróleo” e repete-se a frase “nós vamos perfurar, baby, perfurar”).
Na terceira e última página aparecem dois tópicos. O primeiro é Pautas Humanitárias (“Além de imigrantes, populações indígenas e de minorias podem ser impactadas em suas demandas reduzindo a legitimidade de suas pautas ao redor do mundo”) e termina com Impactos no Comércio Brasileiro: “Principais produtos brasileiros exportados para os EUA são petróleo, ferro, aço, celulose, café e aeronaves. Todos com alíquota zero ou abaixo de 10% – petróleo. São candidatos a aumento de tarifas – reduz exportações. Por outro lado, China pode tentar compensar a perda de exportações para os EUA, ofertando a outros países – aumenta nossas importações”. Um cenário sucinto e preciso. E nada animador.
IMAGEM: Partido Republicano/divulgação