10 lições de varejo na série Mr. Selfridge

Fundador de uma das mais famosas lojas de departamento de Londres, Harry Gordon Selfridge é um exemplo para comerciantes e empreendedores

Thais Ferreira
21/Mai/2020
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Na era dos e-commerces e das estratégias de marketing ferozes, ainda é possível aprender com os varejistas do início do século passado? A resposta é, definitivamente, sim. 

Especialmente se o empresário em questão for Harry Gordon Selfridge (1858-1947), fundador da rede de lojas de departamento Selfridges. O primeiro endereço foi na famosa Oxford Street, em Londres, onde abriu as portas em 1909.

Numa majestosa construção eram vendidos milhares de itens entre roupas e acessórios importados, além de produtos de cama, mesa e banho; joias, perfumes... 

A Selfridges foi uma das redes de varejo mais bem-sucedidas da época e à prova do tempo, uma vez que até hoje opera quatro lojas na Inglaterra. 

Harry era conhecido por estratégias de marketing audaciosas. Além disso, ele ficou famoso por fazer o que muitos acham impossível: trazer o consumismo à moda americana para o velho continente. 

Após 32 anos à frente da empresa, Harry deixou a presidência em 1941 e morreu seis anos depois em consequência de uma pneumonia. 

A série Mr. Selfridge, baseada na história de Harry, retrata a inauguração da primeira loja e a expansão da rede. São quatro temporadas - todas disponíveis na Netflix

Durante os episódios, é possível extrair lições que podem servir de inspiração para qualquer comerciante do século 21. 

1. NÃO TER MEDO DE OUSAR

O personagem de Harry Selfridge (interpretado por Jeremy Piven) é um empresário que não se contenta com pouco.

Ele começou como funcionário de uma loja nos Estados Unidos e foi subindo de cargo até abrir sua própria loja. 

Harry não teve medo de ousar para conseguir o que queria. Em diversos momentos da série, ele se arrisca criando promoções agressivas ou inventando novas formas de chamar a atenção dos clientes e da imprensa. Publicidade era, para ele, uma arma poderosa.

2. PREPARAR UM SUCESSOR

Na segunda temporada, Harry começa a treinar Gordon, seu filho, para sucedê-lo nos negócios. Em vez de iniciar num alto cargo, o garoto começa de baixo e vai subindo ao poucos. 

O herdeiro trabalhou no estoque e, posteriormente, foi para trás do balcão atuar como vendedor. Gordon só assume um cargo administrativo após conhecer grande parte dos departamentos da loja.  

Dessa forma, além de compreender de forma prática como o negócio da família funciona, ele cria uma ligação com os funcionários e é capaz de enxergar os pontos fortes e fracos da empresa. 

3.  ESTAR CONECTADO COM O QUE ACONTECE COM A SOCIEDADE

Para Harry, uma loja não é apenas um lugar de compras. É um espaço que reflete um estilo de vida. Por isso, durante a série, diversos eventos acontecem dentro da loja, como lançamento de livros, exposição de carros e comemorações com celebridades da época.  

Neste sentido, ele antecipou um conceito agora muito difundido mundo afora -o negócio como espetáculo.

Tudo o que acontece de importante em Londres passa pela Selfridges ou, de alguma forma, é utilizado em proveito da loja. 

Um dos episódios, por exemplo, retrata como os movimentos sufragistas atuavam em Londres. Em vez de ignorar a presença delas, Harry decide criar uma vitrine para apoiar o movimento em favor do voto feminino. 

4. ENFRENTAR PROBLEMAS DE FORMA CRIATIVA

Um dos pontos mais interessantes da série ocorre durante a Primeira Guerra Mundial. Nesse período, muitos ingleses deixaram seus postos de trabalho para servir o Exército.

A consequência é que a Selfridges, assim como maior parte da indústria e dos estabelecimentos comerciais do Reino Unido, perdeu numerosos funcionários.

A alternativa encontrada por Harry foi contratar mulheres. Elas ficaram responsáveis por realizar trabalhos braçais antes destinados apenas aos homens, principalmente nos estoques.

Algumas adaptações foram feitas nos uniformes e nas dinâmicas de trabalho para se adequar às necessidades das novas funcionárias.

Essas soluções inventivas são exibidas ao longo da série e demostram que a criatividade e a flexibilidade são pontos importantes para o sucesso de um empresário.  

5.  ESCOLHER BEM A EQUIPE

O bom atendimento é fundamental para o empresário. As candidatas a vendedoras da loja passam por um criterioso processo de seleção.

As escolhidas devem ter um comportamento impecável diante dos consumidores. Duas características são fundamentais: saber apresentar bem o produto e perceber o que os clientes desejam.  

Para isso, tanto Harry quanto seus chefes de departamento estão sempre atentos ao desempenho dos funcionários. Além disso, eles recebem um treinamento específico que varia de acordo com o produto que irão vender. 

6. ESCUTAR CLIENTES E FUNCIONÁRIOS 

Em diversos momentos, Harry não sabe como agir ou qual atitude tomar em relação à loja. Nessas situações, ele está sempre atento aos conselhos dados por todos os que estão a sua volta.

Por exemplo, uma das vendedoras aconselha que o empresário invista em uma linha própria de perfumes e cosméticos.

Eles seriam mais baratos do que o dos concorrentes de luxo e trariam novos consumidores à loja.  A ideia foi acatada e a linha de produtos obteve grande sucesso. 

Em outra ocasião, para demonstrar o patriotismo durante os tempos de guerra, uma das vendedoras aconselha o empresário fazer uma promoção com os produtos procedentes das colônias britânicas.

As ofertas agradam a clientela.  Estar sempre atento às sugestões é vital para qualquer negócio. 
 

7. EXIBIR BEM OS PRODUTOS 

Um dos pontos fortes da Selfridges é a vitrine. Ela ajuda a criar desejo pelos produtos e incentiva os consumidores a entrarem na loja.

O que é quase trivial nos dias de hoje, era uma grande inovação no início dos anos 20. Todos paravam para ver o que era exposto na Selfridges. As vitrines sempre se tornavam assunto entre as pessoas que circulavam na rua. 

Mas muito além de apenas mostrar os produtos, as vitrines da Selfridges são como pequenas peças de arte.

Dentro da loja, a forma como os produtos eram dispostos também é essencial para a realização das vendas. Saber expor o produto é tão importante quanto saber vender. 

8. VALORIZAR FUNCIONÁRIOS TALENTOSOS

Além de selecionar muito bem os funcionários, Harry também incentiva os vendedores a construírem uma carreira dentro da empresa. É o que se chama hoje de mobilidade. Há vários casos de personagens promovidos de cargo por meritocracia. 

O empresário também investe nos talentos. Uma das vendedoras, por exemplo, é enviada a Paris para aprender a montar vitrines. É o que fazem hoje as multinacionais com rodízios de expatriados.

9. DAR ÀS PESSOAS O QUE ELAS QUEREM 

Um dos lemas da Selfridges é exatamente dar aos consumidores o que eles desejam. Durante o período da guerra, por exemplo, as pessoas queriam se sentir otimistas com relação ao futuro ou precisavam de um momento para escapar da aflição causada pelo noticiário a respeito do conflito. 

Nessa época, Harry criou a ideia de que ir à Selfridges não era apenas fazer compras.

Os clientes que entrassem no estabelecimento encontrariam uma forma de diversão e escapismo para os problemas que afligiam a sociedade da época.

A principal lição é oferecer não apenas produtos ou serviços, mas algo que vá além do bem material. É a ideia de um comércio que se torna parte de um espetáculo.

Um exemplo é quando Harry traz grande figuras para dentro da loja, como o aviador Louis Blériot (e seu avião), a bailarina Anna Pavlova e o escritor Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes.

10. EXPANDIR, MAS CUIDADO AO DIVERSIFICAR

Na terceira temporada da série, Harry começa a expandir sua rede de lojas. Durante esse período, ele se empolga com as possibilidades e cogita investir em outros negócios, principalmente na produção de aviões. Mas é alertado por um de seus funcionários.

Ele lembra que Harry é um comerciante, uma atividade que domina e entende, e não deveria arriscar seu patrimônio num negócio que desconhece. 

FOTOS: Divulgação

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