‘Os primeiros seis meses serão decisivos para o novo governo'
Para Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, Bolsonaro e sua equipe terão a rara oportunidade de mudar os rumos da economia
Para Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, há perspectivas positivas para a economia brasileira no próximo ano.
Segundo afirma, a agenda econômica do próximo governo ataca os pontos corretos e será ajudada pelo terreno já pavimentado por Temer.
Barbosa destaca quatro pontos da agenda liberal do futuro governo. Um deles é o comprometimento da nova equipe econômica com o cumprimento do Teto dos Gastos, medida que atrela o aumento dos gastos públicos ao desempenho da inflação do ano anterior, entre outros pontos.
Também aplaude as iniciativas da equipe de Bolsonaro no sentido de conferir maior independência ao Banco Central, o que, para ele, deve reduzir a volatilidade da taxa de juros.
Com relação ao câmbio, o otimismo se baseia no discurso do futuro presidente, que se mostra mais favorável a uma abertura econômica, o que reduziria as variações cambiais.
“Claro que teria de ser uma abertura gradual, e acompanhada da reforma tributária, para que as empresas nacionais ganhem competitividade”, disse Barbosa durante reunião de Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), coordenado pelo vice-presidente Edy Kogut e realizada nesta quinta-feira (29/11).
A reforma tributária é justamente o quarto ponto da agenda do novo governo destacado pelo economista-chefe do Bradesco. Para ele, não haveria espaço para redução da carga tributária, mas sim, para uma ampla simplificação do sistema.
“Se a agenda de Bolsonaro avançar, os ventos são favoráveis. Com Temer, a economia não estava pronta para crescer. Agora está. Os juros estão baixos, a inflação e a inadimplência sob controle e o crédito mostra reação. São sinais de que a economia ganhou tração”, disse Barbosa.
Para 2019, o Bradesco estima crescimento de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que a economia da região Centro-Oeste se destaca nas projeções, com alta estimada em 3,2%, motivada pelo esperado bom desempenho do agronegócio no próximo ano.
Caso a economia acelere o ritmo, e o consumo reaqueça, a projeção do banco para o varejo é de alta de 5,5% em 2019. Para a produção industrial, a previsão é de crescimento de 3%.
Quanto aos juros, o Bradesco projeta uma nova elevação ainda neste ano, mas a Selic deve se estabilizar próxima dos 8% no ano seguinte.
DESAFIOS
Esse cenário positivo, ou cautelosamente otimista, como Barbosa o descreve, dependerá de alguns fatores para se concretizar.
Internamente, as reformas previstas pela equipe econômica do futuro governo terão de encontrar apoio no Congresso. A respeito disso, os sinais de alinhamento das agendas do Executivo e do Legislativo ainda não são claros.
A Reforma da Previdência, por exemplo, será um grande teste para o novo governo. Sua aprovação é fundamental para que as medidas de equilíbrio fiscal tenham sucesso.
De acordo com o economista, o Brasil gasta 14% do PIB com a Previdência ante 8%, em média, dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
“Esse mesmo otimismo que vemos no Brasil ocorreu na Argentina com a eleição de Mauricio Macri. Mas lá, a equipe econômica demorou muito para adotar as reformas necessárias. Não podemos fracassar na execução das reformas por aqui”, disse Barbosa, ponderando que os problemas da Argentina são bem maiores que os do Brasil.
Outro risco apontado por Barbosa vem de fora. O cenário internacional está mudando, com o custo do capital aumentando, o que acarreta uma série de novos desafios para os países emergentes.
Grande parte da pressão sobre os custos de produção mundial tem origem nos Estados Unidos, onde os juros estão subindo. Além disso, as barreiras protecionistas de Trump encarecem os preços no mercado mundial.
Nesse contexto econômico de desaceleração global, a tendência observada é a saída de investimento de países emergentes para o mundo desenvolvido.
“Aqui no Brasil o mercado se animou com a eleição de Bolsonaro, mas o mercado mundial está desacelerando. As empresas estão perdendo valor. Nas últimas seis semanas, o Facebook perdeu R$ 253 bilhões em valor de mercado”, lembrou Barbosa.
O economista-chefe do Bradesco se diz otimista, mas cauteloso com os próximos anos. “Será uma oportunidade rara de mudar os rumos da economia por um viés mais liberal”.
Para ele, os primeiros seis meses serão decisivos para o novo governo. Nesse prazo, os sinais que devem ser dados ao mercado são os de que as reformas serão aprovadas.