Uma startup que cresce de 5% a 10% por semana
W3lcome, que oferece soluções para automação de visitas, já ultrapassou 50 mil acessos à ferramenta e fatura R$ 40 mil por mês
Nada de pensar e repensar o negócio. Aliás, um plano que vinha sendo estruturado, pauta de reunião em uma empresa no Vale do Silício, acabou, mais tarde, deixado para trás em razão de um insight em pleno polo mundial de tecnologia.
Nasceu em cinco minutos a ideia da W3lcome, uma startup de automação para gerenciamento de visitas, sediada em Maringá, Paraná, que superou meses e meses de prejuízo para hoje calcular a taxa crescimento.
O CEO da W3lcome, Gabriel Gratival, possuía uma consultoria para aumento de produtividade de empresas na Suíça, onde tinha um sócio, Lucas Cotta, mas o desejo de estar próximo da família o fez retornar ao Brasil.
Já com a ideia de trabalhar com tecnologia, ele e o então sócio pensaram em criar uma pulseira que funcionasse como um botão do pânico. A ida ao Vale do Silício havia sido realizada para tratar do design desse produto, ideia que foi descartada ao final da viagem para dar lugar à W3lcome.
“Há uma política que isola o Brasil do resto do mundo por vários fatores, o que ameaça empresas de entrar. A contrapartida é que a gente tem muita oportunidade aqui. Tem muita coisa lá fora que basta entender, adaptar e fazer acontecer. Foi o que fizemos”, diz Gratival.
Com um mercado nacional de 86 mil grandes empresas como potenciais clientes, a W3lcome é inspirada em um sistema americano – hoje concorrente – utilizado para o check-in no encontro no Vale do Silício.
“A gente viu as notificações da chegada e saída no celular nosso host. A empresa não tinha recepcionista, que lá custa cerca de US$ 5 mil por mês”, relembra.
O CEO explica que a W3lcome foi criada para resolver o problema das recepções, que por vezes são “departamentos” ineficientes, por não conseguirem dar conta do fluxo ou passarem horas do dia sem alguma atividade específica para ser executada. A solução revoluciona a dinâmica na recepção de visitantes e elimina as desagradáveis filas.
“Ninguém gosta de chegar, entregar documento, esperar a recepção avisar e ficar aguardando. A possibilidade de o visitante fazer o check-in antecipado também faz a visita ser mais dinâmica e com uma experiência mais tecnológica, o que transforma a percepção do visitante”.
Criada há dois anos, a startup passou 11 meses desenvolvendo a primeira versão da ferramenta (o MPV), o que na visão de Gratival, foi o maior erro da equipe.
“No final, deu certo, mas deveríamos ter lançado algo muito antes para resolver a dor do cliente”, comenta o CEO.
“A gente tinha R$ 8 mil de dívida todo mês e faturava menos de R$ 2 mil. Queimamos dinheiro nos meses de desenvolvimento e nos primeiros meses de venda. Chegamos a montar uma contagem regressiva para a nossa falência”.
A guinada veio com um ajuste na estratégia de venda, que passou a ser entendida dentro de um processo de decisão. Foi preciso mapear e abordar de forma diferente os setores das empresas que poderiam se tornar clientes, como as áreas de marketing, de compras e diretoria.
Hoje são 28 grandes clientes, entre eles o SBT, Cabify, Movile (dona do iFood), Alpargatas (grupo dono das Havaianas), Olist, Sancor Seguros e Sicoob. No último mês, a startup superou os 50 mil cadastros de visitantes nas recepções utilizando o sistema da W3lcome, com direito a contagem progressiva e comemoração com o time.
Se um dia a luta foi para não desistir da ideia, hoje o foco está em ser referência na América Latina. O faturamento de R$ 40 mil ao mês é considerável, mas o objetivo é manter o crescimento da startup entre 5% a 10% por semana, o que significa conquistar de um a dois clientes no período.
“A meta ambiciosa pode nos levar a crescer 20 vezes no ano, num planejamento conservador”, frisa Gratival.
O que não deve crescer tão rápido é o tamanho equipe, atualmente com oito pessoas. E isso é estratégico. Segundo o empreendedor, que aprendeu essa lição no Vale do Silício, acontece com frequência de startups inflarem após a entrada de investimento, gerando estagnação.
“Temos certeza que estamos com os melhores do mercado e trabalhamos para reter esses talentos. Realizamos novas contratações apenas quando está todo mundo de cabelo em pé de tanto trabalho”.
Em analogia a jogos eletrônicos, Gratival diz que as startups já começam pelo “chefão”, ou seja, pela fase mais difícil, quando não se tem experiência, mas é preciso realizar tudo. Isso exige dedicação dos sócios e equipe. O CEO, sozinho, dedica cerca de 15 horas por dia estudando desde como contratar e criar uma cultura da empresa até marketing, vendas e questões jurídicas.
O crescimento da startup veio com a participação em um programa da Evoa, aceleradora maringaense de startups onde a W3lcome está instalada.
“A Evoa ajudou a conquistar os primeiros clientes. Trabalhamos com informações confidenciais, os dados das pessoas que acessam as empresas. A gente não tinha técnica para vender essa solução”, conta Gratival.
O empreendedor destaca que o Sebrae, incentivador da Evoa, esteve presente nessa fase. Além disso, ofereceu participação no programa Capital Empreendedor. Há mentoria cognitiva e técnica para negociação, para proposta de investimento, sobre como apresentar dados da empresa para atrair investidores. O programa está em andamento e a expectativa é apresentar a ideia para investidores no final.
Segundo o consultor do Sebrae/PR, Nickolas Kretzmann, o caso da W3lcome mostra como entender a lógica do mundo das startups faz diferença. “Saíram do zero para R$ 40 mil de faturamento, em razão da ideia de um negócio mais agressivo”, comenta.
O consultor acrescenta que para entrar nesse mercado é preciso ter perfil arrojado e gostar de correr riscos calculados. “É isso que faz com que em 11 meses uma empresa comece do zero, para em outros 11 alcançar grandes clientes e pensar em ser referência na América Latina, o que pode acontecer daqui a 11 meses”, analisa.