Um supermercado virtual para o artesão chamar de seu
Para o mercado deslanchar, o marketplace Elo7 reúne quase 90 mil lojistas e ajuda artesões a transformar suas habilidades manuais em negócios, que devem movimentar R$ 700 milhões neste ano
A paulistana Karen Abe trabalhou por mais de dez anos na área de marketing em empresas de e-commerce. Ela foi uma das responsáveis por montar a operação de venda online da marca de moda íntima masculina Mash.
Posteriormente, enquanto atuava no marketplace Shop2gether, Karen deu à luz Julia, sua primeira filha.
Fora do mercado de trabalho, a mãe queria passar mais tempo com a filha, mas também não queria deixar de trabalhar. Karen, então, passou a desenvolver peças artesanais para bebês e mães, como almofadas anticólicas.
A venda boca a boca fez a produção crescer. Assim, nasceu a marca de artesanato Caramelito, em 2015.
Com cerca de 300 unidades vendidas por mês, Karen firmou parcerias com algumas marcas. Um dos contratos foi com Empório da Papinha, rede de lojas especializada em comida para bebês, que distribui os produtos da Caramelito em eventos da franquia.
A evolução da Caramelito contou com a ajuda do Elo7, marketplace que reúne quase 90 mil micro e pequenas lojas de artesanatos, possui portfólio de 3 milhões de itens e vende para cerca de 3,7 mil cidades –também na Argentina e Colômbia.
Em 2014, Elo7 recebeu seu terceiro aporte, no valor de US$ 11 milhões. Entre os investidores está a Monashees Capital, que também investiu em empresas como Enjoei, 99 e Viva Real.
A Elo7 também participou do programa Launchpad Accelerator, do Google, que fornece para startups consultoria com foco em crescimento.
Em 2017, estima crescer 50% e movimentar R$ 700 milhões em vendas. A empresa gera receita cobrando percentagem entre 12% e 18% sobre as vendas dos lojistas.
As receitas do marketplace são estimadas em mais de R$ 84 milhões.
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UM GRANDE MERCADO, POUCO PROFISSIONALIZADO
O Elo7 foi fundado em 2008, por Carlos Curioni, engenheiro que atuou na consultoria Accenture e foi diretor de novos negócios do Mercado Livre. O marketplace nasceu com a missão de profissionalizar o mercado de artesanato e levar os artesãos para o mundo online.
De acordo com dados do IBGE, 8,5 milhões de brasileiros obtêm sua principal renda do artesanato. Juntos, eles movimentam mais de R$ 50 bilhões por ano.
Sucede, porém, que poucos artesões são empreendedores formais e conseguem crescer com vendas de itens de cerâmica, costura, bordado, entre outras produções manuais.
“Boa parte não tem conhecimento em gestão”, afirma Curioni. “Então, o maior desafio para eles é conseguir transformar suas habilidades em negócios.”
Outro obstáculo é a burocracia para abrir e operar um pequeno negócio e custos com exigências fiscais.
Há também a dificuldade logística. A Karen, da Caramelito, costumava enviar seus produtos por meio e-Sedex, serviço exclusivo para e-commerce com valores abaixo da média e muito usado por micro e pequenos lojistas virtuais.
Com o fim do e-Sedex, o custo com frete do e-commerce subiu. “As vendas foram afetadas”, afirma Karen.
Para amenizar os gargalos de crescimento do mercado, a Elo7 tem investido em conteúdo. A ideia é catequizar os produtores.
Há quase uma década, empresa mantém um blog que serve como um manual de gestão para os lojistas.
São mais de 3,5 mil posts que abordam, de maneira prática, temas como atendimento ao cliente, promoção, organização de tempo e técnicas de produção.
Numa operação transmídia, a empresa também mantém um canal no YouTube, com mais de 12 mil inscritos.
Um vídeo sobre como embalar e enviar produtos pelos Correios, por exemplo, obteve mais 118 mil visualizações.
Recentemente, a empresa lançou Elo7Lab, programa de workshops presenciais sobre marketing, empreendedorismo e desenvolvimento de produtos.
Já foram realizados oito edições. Alguns workshops são ministrados por artesões experientes que vendem na Elo7, como Karen, da Caramelito.
Atualmente, cerca de 30% dos lojistas da Elo7 são formalizados.
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VANTAGENS DE SER UMA EMPRESA
Um dos próximos cursos do Elo7Lab será sobre como um artesão pode se tornar um Microempreendedor Individual (MEI). O workshop é uma parceria da Elo7 com o Sebrae SP.
Há cinco anos, o artesão Tiago Domingues formalizou a sua marca, a fabricante de brinquedos e instrumentos musicais infantis Mafagafo, de Salto, no interior de São Paulo.
A Mafagafo tem um portfólio de 25 produtos. São mais de 300 itens vendidos mensalmente. O carro chefe é a linha de instrumentos musicais, como um xilofone feito em madeira.
Em 2016, faturou R$ 60 mil – número que deve se repetir neste ano.
A formalização surgiu quando Tiago passou a fornecer para empresas. Por meio de um representante comercial de São Paulo, a Mafagafo vende para 30 lojas da capital, que revende os produtos para o consumidor final.
Hoje, 70% das receitas do artesão são provenientes de vendas para empresas.
Vale lembrar que vendas de artesãos para pessoa física não requer emissão de nota fiscal. Mas transações para empresas, sim.
“O MEI também tem acesso a linhas de crédito com taxas diferenciadas em alguns bancos”, afirma Tiago.
Para empreender, Domingues uniu duas paixões: a marcenaria, atividade que ele tinha como hobby, e música.
Bacharel em música, ele já atuou como professor de educação musical em escolas infantis e toca bateria em bandas de jazz.
O apreço pelas baquetas fez com que Thiago desenvolvesse a Percubo, um modelo de bateria profissional compacta feita de madeira.
A inovação rendeu para o artesão um convite para participar da Expo Music, maior evento de música da América Latina, que será realizado em outubro.
IMAGENS: Thinkstock e divulgação