Um filme para ver como dever cívico
"Eu, Daniel Blake" nos ajuda a entender o que vivemos no Brasil de hoje com 12 milhões de desempregados e um choque de realismo na inexequibilidade das promessas dos governantes e, de resto, da maior parte da classe política.
Fui ver "Eu, Daniel Blake", do engajado e premiado diretor britânico Ken Loach. Um drama humanitário, a tragédia política da falência do Estado de bem-estar social europeu e ao mesmo tempo a narrativa comovente da infinita solidariedade humana.
Um manifesto que opõe o valor do trabalho ao valor social da riqueza numa sociedade capitalista que ele critica com veemência.
Um filme que nos ajuda a entender o que vivemos no Brasil de hoje com 12 milhões de desempregados e um choque de realismo na inexequibilidade das promessas dos governantes e, de resto, da maior parte da classe política.
Acabado o filme, recebi de uma amiga um meme que anda circulando nas redes. Sobreposta à figura do perfil de um homem a figura de seu rosto frontal.
Representação em foto do antigo recurso pictórico da arte egípcia, reincidente em várias culturas primitivas africanas e retomada pelo desenho facial da pintura cubista.
O que chega a dar um certo frisson ao passarmos os olhos pelos elementos recortados do perfil, como o queixo, a boca, o nariz.
Mas quando chegamos ao olho, o elemento não nos trai, e denuncia que se trata na verdade de um rosto frontal recortado.
Ao lado, a legenda acerca de uma aparente verdade consagrada: "Respeite o ponto de vista das pessoas. Às vezes estamos vendo a mesma coisa, porém de forma diferente."
E respondo de pronto ao meme de minha amiga: "Taí o início do relativismo moral do Ocidente: na retomada cubista dos perfis egípcios às garatujas infantis da arte “livre do rigor formal” e o retorno às máscaras primitivas africanas, a quebra da convenção milenar da perspectiva clássica grega.
Podemos entrar no jogo do tanto faz, mas o olhar frontal não nos engana. Basta ver no olho-a-olho.
Respeitar, portanto, não significa se omitir diante do erro, uma exigência primeira e universal da cidadania de não compactuar com o erro.
E a propósito do relativismo moral esquerdista, é que recomendo o filme "Daniel Blake".
O Estado não dá conta de Deus. É o que estamos vendo com a decadência das políticas globalistas de cooperação multilateral de viés humanitário que vêm sendo praticadas pela hegemonia da social-democracia internacional e às custas do compromisso maior dos estados nacionais para com os cidadãos que os sustentam.
À custa de dumping, mão de obra sub-remunerada, desprovida de redes de proteção social, a China sequestrou milhões de empregos do mundo ocidental.
É a "guerra por empregos” que integrou ao mundo capitalista um bilhão de chineses, transformando a China em fábrica do mundo de tudo que não é estratégico na indústria! Sobre o tema veja aqui o economista Paulo Guedes.
Esta é a verdade: os welfare states ocidentais traíram seus cidadãos como denúncia Mr Trump. É feio, não tem o charme romântico do Obama bom moço.
Como Thatcher não tinha, nem os conservadores Reagan, Sarkozy, Cameron e tantos outros não tiveram. Mas é a verdade, basta fazer contas e olhar de frente a situação.
O homem não pode ser sempre visto pelo que gostaríamos que ele fosse, mas como ele é de fato, um falho pecador.
Como está na Torá, no Evangelho, em David Hume quando nos ensina que o homem é o lobo do homem e não o bom selvagem de Rousseau, pai de todos os socialistas utópicos.
O Estado não dá conta de substituir Deus. Pois, se nenhum deus de nenhuma religião ocidental garante a vida, seu dom intransferível, o que dirá o risível Estado distributivista dos humanos.
Esta que foi a maior torção do humanismo, a maior distorção e corrupção dentre todos os valores morais da tradição humanista judaico-cristã: o Estado não pode garantir nem mesmo o valor absoluto da vida. Os homens são pecadores, cruéis e solidários para com seus semelhantes.
Não há direitos sociais ilimitados para a garantia de todos, simples ilusão romântico-esquerdista.
É dever cívico e político do cidadão vigiar para que não se endeuse o Estado intervencionista que resulta apenas em estagnação econômica e civilizatória. Filme em cartaz no Brasil num cinema perto de você, sob o título "Eu, Daniel Blake”.
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