'Tenha educação financeira real e não precisará mais de dinheiro'
É o que afirma Robert Kiyosaki (foto) que, em recente evento em São Paulo, discorreu sobre algumas das lições -ainda atualíssimas -de seu livro "Pai Rico, Pai Pobre", lançado há 20 anos
Repleto de filosofias que inspiram a mudança de mindset a respeito de como lidar com o dinheiro, o best-seller Pai Rico, Pai Pobre completa 20 anos como uma obra atual.
Uma das questões que o autor Robert Kiyosaki já criticava no final dos anos 1990 era o sistema que educava jovens apenas para ter empregos estáveis em uma época na qual já se vislumbrava o fim do emprego – tendência que se fortalece mais do que nunca com o avanço da inteligência artificial.
Autoajuda ou não, é uma obra que agrada os que estão em algum tipo de transição na vida –e, assim, dispostos a mudar. No Brasil de hoje, com o empreendedorismo em evidência, foi esse ambiente que Kiyosaki encontrou ao ministrar palestras no primeiro dia do National Achievers Congress (NAC), evento organizado pelo Instituto Elsever em São Paulo.
No livro e nas palestras, Kiyosaki chega a ser polêmico quando insta o público a se arriscar mais, porque isso faria parte do mindset do “pensar grande”.
Mas quem chega ao fim da leitura de Pai Rico, Pai Pobre ou tem a oportunidade de conversar com Kiyosaki percebe que a grande contribuição de seu trabalho é estimular as pessoas ao aprendizado sobre o dinheiro.
De fato, ele não dá todas as respostas, mas pode estimular a curiosidade de buscá-las. “Quem tem educação financeira real não precisa mais de dinheiro”, disse.
E isso cada um pode fazer ao seu jeito, buscando cursos, livros e assessoria financeira. O autor defende que se aprenda com quem já praticou o que está ensinando.
Isso porque o melhor jeito de aprender, para ele, é agindo ou praticando as lições depois ou simulando por meio de jogos – sendo este o melhor método para educar financeiramente as crianças.
Quem pratica, diz, consegue reter 90% do que estudou. Se não for possível praticar, pode-se discutir com alguém sobre o assunto para reter 70% do conteúdo, segundo ele.
Por mais que defenda seus investimentos preferidos, em imóveis e ouro -os quais, à primeira vista são de baixa liquidez e, por conseguinte, arriscados - também estimula as pessoas a investir apenas no que realmente conhecem ou estudaram para conhecer.
Em conversa com os jornalistas, Kiyosaki reforçou isso.
“Não ganho dinheiro dizendo para as pessoas investirem em ouro, mas é um ativo real. Tentam me vender bitcoins e me preocupa não só esta, mas outras moedas virtuais que estão surgindo. Elas não são reais. Para quem quer investir, só posso dizer que estude bastante com quem realmente já investiu”, afirma.
No livro, ele detalha os cursos que fez para aprender sobre como comprar imóveis que estavam em execução em sua cidade. E sobre como aprendeu a tirar proveito de todas as oportunidades nesse mercado como uma de suas estratégias para obter independência financeira.
A busca pelo aprendizado também não é tão simples, como destaca em seu best-seller. Afinal, na escola formal não aprendemos a lidar com o dinheiro, tampouco em casa, salvo os raros casos em que os pais têm condições de deixar esse tipo de educação como um legado na vida de seus filhos.
O próprio livro é o resultado de uma busca pessoal. Kiyosaki, então com nove anos de idade, queria aprender mais sobre dinheiro, algo que seu pai biológico – que era doutor, PhD e diretor de uma universidade no estado do Havaí - não podia proporcionar. “Dizia que não se interessava por dinheiro.”
Esta frase expressava uma negação que, segundo Kiyosaki, também leva as pessoas para a pobreza. É aquilo que a pessoa diz, mas na prática passa dias inteiros trabalhando para ter dinheiro no fim do mês. Outra frase, "a de que o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal" ele havia escutado de uma professora na escola.
Com uma professora e um pai biológico de “pensamentos pobres”, ele foi buscar aconselhamento com o pai de seu melhor amigo na época, que tinha apenas o segundo grau completo e era empresário e empreendedor bem-sucedido. A obra é um apanhado das lições deste que ele tratou como seu pai rico.
Kiyosaki conquistou a independência financeira aos 47 anos, não só com os investimentos que fez a partir das lições que passou a receber aos nove anos de idade e os cursos que buscou, mas também com a venda de seus 30 livros, palestras e um jogo de tabuleiro chamado Cashflow - que tem a proposta de ensinar sobre como o dinheiro funciona, a partir de princípios básicos como o de alocar os recursos em ativos que geram renda.
O que a maioria das pessoas faz, segundo ele conta, é justamente o contrário. Vivem em função do contracheque.
Trabalham pelo dinheiro em seus empregos, pagam muitos impostos e alocam o recurso em passivos como casa, carro e viagens. A cada aumento de renda, aumentam esse passivo e a despesa. E assim vivem como se estivessem em círculos, o que ele chama de corrida de ratos. É o que limita a classe média a não ascender para a alta, segundo ele.
Para não ficar na corrida junto com os ratos, como ele define no livro, é preciso mudar não só o modelo mental, mas também controlar as emoções – que comprovadamente fazem parte do jogo do dinheiro.
Embora as emoções e percepções sejam o desafio mais complexo que as pessoas têm na hora de lidar com o dinheiro, ele simplifica a questão e aconselha a controlar ao menos duas delas para se dar bem: o medo, que traz crenças limitantes, e a ambição, que leva a decisões equivocadas.
SEJA INTELIGENTE EM RELAÇÃO AOS IMPOSTOS
Em São Paulo, Kiyosaki deu mais ênfase a uma das lições que também explica no livro, que se refere a como não pagar tantos impostos de forma legalizada – segundo ele, é isso que diferencia o patrimônio de pobres e ricos.
Em sua palestra, disse que os assalariados e os pequenos empresários fazem parte do grupo de pessoas que pagam muitos impostos, enquanto os proprietários de empresas maiores e investidores conseguem utilizar incentivos dos governos para pagar bem menos – e eis que isso também explica porque esse grupo invariavelmente é o de pessoas ricas.
Nesse contexto, afirmou que a dívida também pode ser usada para o crescimento do patrimônio – desde que a pessoa tenha educação financeira e conhecimento para montar estratégias e pagar menos impostos. “Quem não tem educação financeira empobrece por causa das dívidas.”
Para não pagar impostos, ele disse que é preciso adquirir ativos. No Brasil, ressaltou, há também incentivos para proprietários de negócios e investidores.
“Há coisas que o governo quer que esses grupos façam e os encorajam com um tratamento diferenciado de impostos. É preciso usar bem esses incentivos.”
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