Stone pretende ser mais que uma empresa de maquininhas
Com o novo posicionamento 'menos banco, mais negócio', companhia original do ramo de meios de pagamento se torna ecossistema de soluções financeiras para facilitar a vida do empreendedor
Tem provedor de pagamento, conta digital e cartão pré-pago. Mas também tem ferramentas de inteligência de negócio, como recorrência e voucher on-line, TEFs e até conciliação financeira.
Esses são alguns produtos da Stone, fintech de soluções financeiras que, após várias aquisições de 2020 até agora, como a da Linx, inicia uma nova etapa neste mês de setembro: deixar de ser uma empresa 'de maquininhas' para se tornar uma parceira de negócios que facilita a vida do empreendedor.
Em resumo, mesmo não sendo varejista, como o Magazine Luiza, que acabou de adotar maquininhas para os sellers, a Stone complementou o portfólio para virar também um ecossistema - mas de serviços financeiros.
A bem-humorada campanha de marketing "Menos banco, mais negócio" (veja abaixo), lançada no último dia 5, dá uma ideia disso, ao mostrar a atendente de padaria ou o mecânico que pedem para os clientes assinarem uma pilha de documentos antes da venda ou prestação de serviços. Como se fossem um banco.
"O atendimento burocrático faz o empreendedor perder o foco nos negócios, e para quem empreende, tempo é a saúde desse negócio", afirma Augusto Lins, presidente da Stone. "E a grande questão aqui é ser empático para, de fato, não só oferecer produtos, mas serviços de qualidade e menos burocracia."
Para reforçar esse posicionamento - e entrar de vez na briga como 'principal parceira do empreendedor, que atende em cinco segundos' -, na última quarta-feira (22) a fintech lançou a provocativa linha 'Chá de Cadeira'.
Da parceria entre o StoneLab, hub criativo da Stone, com sua cliente Infusiasta, que produz chás artesanais, o kit com três mixes de ervas, vendido a R$ 16, é direcionado a quem ainda perde tempo com a burocracia dos bancos: o restaurativo 'Senha Infinita', o relaxante 'Hora da Musiquinha', e o estimulante 'Dia de Banco'.
A ideia, segundo Lins, é mostrar o quão surreal é, nos dias de hoje, alguém tomar um chá de cadeira toda vez que vai ao banco. “O que nós queremos é facilitar o acesso, estabelecer uma relação de confiança para contribuir com a democratização dos meios de pagamento e dos serviços financeiros”, completa.
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Nascida em 2012, quando Banco Central acabou com a guerra entre bandeiras e adquirentes, a americana Stone fez sua primeira transação via maquininhas em 2014. Até comprar a rival Elavon, em 2016, e entrar no ramo para bater de frente com os players que dominavam o mercado até então: a Cielo e a Rede.
Após criar a conta digital em 2019, e lançar a maquininha Ton oportunamente em 2020, beneficiando autônomos e empreendedores que já existiam ou surgiram na pandemia, a companhia, que já se posicionava para 'ajudar o lojista a vender mais', segundo Lins, acabou montando um ecossistema de soluções.
"O cliente é nossa razão. A campanha reforça que nosso atendimento e nossos produtos estão sempre atentos às necessidades e expectativas do cliente", afirma o presidente da Stone, reforçando que "olha cada um por segmento, já que as dificuldades de um shopping ou restaurante são diferentes."
Com mais de 1 milhão de clientes ativos, as receitas de adquirentes da Stone somaram R$ 613,4 milhões somente entre abril e junho deste ano, de acordo com último balanço divulgado pela companhia.
'ONE STOP SHOP'
A construção de mais um ecossistema é outra confirmação de como o mercado tem se encaminhado para oferecer cada vez mais soluções concentradas num só local, seja para empreendedores ou consumidores.
Mas, enquanto o Magalu expandiu os serviços a ponto de explorar serviços financeiros - e não só para resolver os próprios problemas, mas o do mercado por conhecer a fundo as dificuldades do varejo -, a Stone entra nessa 'guerra' de outra forma: criando uma espécie de 'shopping de soluções' para o lojista.
A avaliação, de Ricardo Suda, consultor especializado em serviços financeiros e sócio-fundador do portal RadarPag, aponta que, com todas as aquisições feitas pela companhia (mais de dez investidas), a estratégia foi desenvolver soluções internamente para o lojista conseguir o máximo de produtos nesse ecossistema.
"É um one stop shop (ou 'balcão único'), algo que o mercado já vem fazendo há algum tempo, um 'shoppingzinho de ofertas para o lojista conseguir acesso a mais produtos nessa prateleira", explica. "E para a Stone, é uma estratégia de diversificação de receitas que ajuda a pulverizar o risco dessas empresas."
A integração com outros players, como startups, também não só ajudou a melhorar a usabilidade das ferramentas utilizadas pelo lojista, como também ampliou a carteira de clientes da Stone como um todo.
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"Quando eles compram uma conciliadora (como a Equals), compram também a base de clientes. Ou seja, são mais 100 mil usuários que, se ainda não usavam as soluções, terão acesso a essa oferta cruzada de tecnologia."
Há até uma espécie de marketplace, só para exposição de produtos e com uso de links para efetuar os pagamentos, lembra Suda. "Nesse pacote só não entra a logística, pois esse não é o core principal do negócio."
Bom para o lojista? Claro, já que com esse movimento e o aumento da concorrência entre fintechs e varejistas há uma briga não só por preços, mas para entregar melhor qualidade dos serviços, diz o especialista.
Ou seja: quanto mais soluções num só lugar, mais benefícios e preços reduzidos para esse lojista. Mas fique atento, pois nem sempre as soluções se mostram as melhores. "Ele pode ficar refém daquela empresa", avisa.
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