Startups buscam oportunidades fora do Brasil
De olho em novos mercados e em incentivos para o empreendedorismo, empresas iniciantes estão se internacionalizando
Uma startup nasce para ser global. Mas como o mercado consumidor brasileiro é muito grande e a concorrência em alguns setores é pequena, os empreendedores nacionais costumam concentrar seus esforços apenas no mercado interno.
Algumas startups brasileiras, porém, estão dispostas a nadar contra essa corrente e dão os primeiros passos rumo à internacionalização.
O céu é o limite para empresas que conseguem ganhar escala rapidamente. Casos como o das americanas Uber, Airbnb e da israelense Waze, que se espalharam por diversos países, são exemplares.
A terra prometida costuma ser o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Mas o sonho americano pode estar cada vez mais distante para empresas brasileiras.
O presidente Donald Trump interrompeu o projeto “Startup Visa”, criado pelo antecessor Barack Obama para conceder visto de permanência para empreendedores estrangeiros.
Com esse novo empecilho, as startups estão buscando alternativas.
NA FRONTEIRA
O Canadá, por exemplo, é uma opção para empresas que querem se internacionalizar.
A Ciclano, uma plataforma de streaming, está de passagem marcada para o país. Foi a primeira startup brasileira a ganhar o visto para realizar suas atividades dentro do território canadense.
A oportunidade surgiu depois que Maurício Castro, fundador da empresa, participou do LEAP internacional: um programa de aceleração para startups brasileiras no Canadá, realizado pela empresa Dream2B.
Regina Noppe, fundadora da consultoria, morou dez anos no país. Após observar o mercado de startups por lá, percebeu que os empreendedores brasileiros podiam se beneficiar do ambiente favorável para negócios.
De acordo com Regina, há muitas vantagens em relação ao Brasil.
No Canadá, os empresários demoram em média dois dias para abrir uma empresa. No caso de Vancouver, por exemplo, não é necessário ser cidadão canadense para realizar o processo. Todos os requerimentos são feitos online.
Além disso, o local reúne diversos elementos que ajudam a tornar o ambiente favorável para o empreendedorismo, como incentivo fiscais para as startups, fundos de investimento interessados em empresas estrangeiras e acordos bilaterais entre os dois países.
No entanto, não são apenas as facilidades da região que estão atraindo os brasileiros. O mercado canadense também está chamando a atenção dos empreendedores.
No Canadá, nasceram cinco empresas unicórnios –ou seja, avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais –nos últimos anos. Entre as mais conhecidas está a Hootsuite, plataforma de gestão de redes sociais.
O fundador da Ciclano dá um exemplo rotineiro, que ilustra bem a diferença entre os dois países.
“No Brasil, ainda tenho que explicar para as pessoas o que é uma plataforma streaming e suas possibilidades”, afirma Castro. “Lá, as pessoas estão mais familiarizadas com esses conceitos, então é muito mais fácil comercializar.”
Regina enfatiza que o mercado canadense também pode ser o primeiro passo para quem planeja uma expansão para os Estados Unidos. Além das semelhanças entre os dois países, a proximidade geográfica também é um ponto positivo.
SONHO AMERICANO
Leo Gmeiner, cofundador do Filho sem Fila, aplicativo que ajuda a melhorar o trânsito e a segurança nas portas das escolas, fez o caminho contrário.
Após testar e validar o modelo de negócio no Brasil, a empresa decidiu que era hora de expandir.
O plano inicial era começar pelos países latino-americanos. Antes de dar os primeiros passos nesse sentido, no entanto, eles apresentaram o app para a empresa americana Blackboard, uma das principais do setor de educação.
Selaram, então, uma parceria para levar o aplicativo para os Estados Unidos. Lá, ele ganhou outro nome: Quick Pickup.
“Começamos a apresentar o produto para as escolas americanas há poucos meses”, afirma Gmeiner. “A repercussão foi bastante positiva.”
A expectativa da Filho sem Fila é fechar os primeiros contratos no país ainda neste ano.
Gmeiner também participou do processo de aceleração organizado pela Dream2B e pretende, nos próximos meses, entrar no mercado canadense.
PORTO RICO
Para se aproximar do mercado americano, Fabiany Lima, fundadora da Timokids, decidiu transferir a empresa para Porto Rico.
Lançado em março de 2014, o aplicativo ajuda os pais a abordarem temas complicados, como bullying e assédio sexual, com crianças. Por meio de histórias e jogos, os assuntos são retratos de forma simples para ajudar o entendimento dos pequenos.
Entre os clientes da Timokids estão pais, escolas, organizações não governamentais e instituições que trabalham com crianças.
A empresa já nasceu pensando na internacionalização. Desde o início, os conteúdos são traduzidos para inglês e espanhol. Hoje, o App está presente em 197 países.
Em junho deste ano, após de participar de um processo de aceleração, a empresa decidiu mudar a operação para Porto Rico.
O país faz parte do território americano, apesar de não possuir os mesmos direitos dos outros estados.
Além disso, o governo porto-riquenho oferece uma série de vantagens para as empresas que se instalam no país, como isenção de parte dos impostos para quem emprega mão de obra local.
Para Fabiany, as startups brasileiras precisam ampliar sua visão do mercado externo.
“Nos outros países, os empreendedores já criam seus modelos de negócios pensando nas necessidades mundiais”, afirma. “Ao sair do Brasil, as startups conseguem ter essa visão global.”
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