Sinais de melhora
É importante estarmos atentos aos sinais de melhora para que os empresários passem a atuar olhando para a frente e, com isso, a retomada venha mais rapidamente
A forte recessão que atinge a economia brasileira é agravada pelo descalabro das finanças públicas tanto da União como de grande número de Estados e municípios, pelas dificuldades financeiras de muitas empresas, pelo desemprego acentuado e pela crescente e expressiva desorganização dos serviços públicos em geral.
Isso tudo representa um cenário de imensos desafios para o governo do presidente em exercício.
Complica ainda mais a missão de Michel Temer o fato de ele estar ainda em caráter interino e dependente de um Congresso nem sempre sintonizado com a gravidade da situação política, econômica e social do País.
Por isso, não se pode esperar que os problemas mais prementes - entre eles o das finanças públicas - sejam solucionados no curto prazo.
Mas espera-se que, pelo menos, sejam equacionados em direção de um ajuste gradativo, mas factível e duradouro.
Também o drama do desemprego, que atinge milhões de lares brasileiros, não deverá melhorar no curto prazo, embora haja possibilidade de parar de aumentar.
Nota-se, contudo, que a simples mudança de governo gerou expectativas favoráveis em relação à economia, que, se não chegaram ainda a se transformar em decisões de aumento dos investimentos, da produção e do consumo, sinalizam para a desaceleração do ritmo de queda que predominava em todos os indicadores.
Não se trata, ainda, de números positivos ou muito animadores, mas de sinais de que o pior parece ter passado. Os indicadores de confiança da indústria e do comércio, embora ainda no terreno negativo, apontam para melhora do estado de espírito dos empresários. A confiança do consumidor, segundo o indicador da ACSP elaborado pelo Instituto Ipsos, havia mostrado estabilidade em patamar muito baixo em maio. E apresentou em junho um aumento importante, que parece indicar que o pessimismo do consumidor, se não se transformou em otimismo, pelo menos reverteu a tendência de queda sistemática constatada nos últimos meses.
Indicadores da produção industrial e das vendas do comércio mostram que as quedas registradas desde o segundo semestre de 2015 vêm se reduzindo e podem se estabilizar até o final do ano. É o primeiro passo para voltar a crescer, mesmo que a taxas domésticas.
A inflação vinha resistindo no patamar próximo a 10%, pressionada pela alta do custo dos alimentos em razão de problemas climáticos. E parece retomar a tendência de queda, o que permitirá ao Banco Central iniciar o processo de redução das taxas de juros, condição indispensável para que a economia volte a crescer.
Apesar de algumas derrotas no Congresso - como o aumento do funcionalismo - o governo obteve também vitórias, como a aprovação da Lei das Estatais, a votação do orçamento e a renegociação da dívida dos estados em condições razoáveis para o Tesouro, conseguindo impor regra bastante restritiva para os governos estaduais ajustarem suas finanças.
Muito ainda precisa ser feito para que os problemas econômicos e sociais sejam superados. Mas é importante estarmos atentos aos sinais de melhora, para que os empresários passem a atuar olhando para a frente e, com isso, contribuam para que os sinais positivos se intensifiquem - e a esperada retomada venha mais rapidamente.
Não podemos, contudo, ignorar que existe um processo de impeachment em curso. E que é fundamental manter a vigilância e a pressão sobre o Senado para que a decisão seja a de consolidar o governo Temer. Com isso, ele terá condições mais favoráveis para continuar tomando as difíceis decisões que a grave situação do Brasil exige.