Refugiado ucraniano da Segunda Guerra busca explicação para conflito atual
Victor Mirshawka, campeão mundial de basquete pela seleção brasileira, acredita que a Ucrânia vai se transformar em uma Bielorrússia
Enquanto o mundo assiste a invasão da Rússia à Ucrânia, Victor Mirshawka, ex-jogador de basquetebol brasileiro, campeão mundial e medalhista olímpico com a Seleção Brasileira, procura semelhanças entre o que viveu e o que os ucranianos passam hoje.
Foi num período pós Segunda Guerra Mundial que ele e sua família deixaram a Ucrânia com destino ao Brasil, após viverem em um campo de confinamento na Alemanha. Foi lá que conseguiram documentos falsos, como se fossem de origem polonesa e não ucraniana, para evitar a deportação para a União Soviética. Uma história que ele conta em detalhes na entrevista a seguir:
DC - Como sua família chegou ao Brasil?
Victor Mirshawka - Foi em 1949. Como ocorre em várias situações pós-guerra, eu, meus pais e minha irmã ficamos confinados na Alemanha e conseguimos trocar nossa documentação para não sermos deportados. Na época, foram estabelecidos conselhos para o recebimento de refugiados - algo similar ao que vemos hoje com a Síria. Vários países precisavam de imigrantes, entre eles, Brasil, Austrália e Venezuela. Meu pai, que era engenheiro elétrico, se candidatou e depois de um certo tempo, o Brasil nos aceitou. Foi uma viagem muito estranha – saímos da Alemanha, fomos pra Itália, e lá embarcamos em um navio de transporte de carga de tropas. Chegamos ao Rio de Janeiro e pouco tempo depois, meu pai foi transferido para São Paulo, onde me estabeleci.
DC - Como enxerga a situação atual? Qual é a sua opinião sobre esse conflito?
Mirshawka - A Rússia quer refazer seu status de União Soviética e quem sabe, até, invadir a Lituânia, Húngria e outros países próximos. O país é uma potência e tem poder sobre a Europa. E a Ucrânia tem as melhores terras e produções. Fui seis vezes à Rússia e vi uma evolução espetacular. A hora que permitirem a ligação do novo gasoduto russo esse poder vai aumentar e se tornar ainda mais perigoso. A Rússia nao é um país comunista, mas é um pais autoritário.
DC - A população teria motivos para pender favoralmente à Russia?
Mirshawka - Acho que existe patriotismo na Ucrânia, mas ele é relativo. Além disso, a Ucrânia virou uma nação idependente, porém fragmentada. Me arrisco a fazer um paralelo mesmo sendo exagerado. Tomando como exemplo a América do Sul, quem vive em países como o Paraguai, pode mirar o Brasil por pensar em oportunidades. É inevitável você não olhar para quem está mais avançado. Por isso, acredito sim que parte do povo possa estar iludido achando que pode ter o mesmo sistema de vida deles (Rússia).
DC - Como imagina que essa situação vai acabar?
Mirshawka - (Vladimir) Putin não vai se contentar com pouco. Acredito numa invasão total e que a Ucrânia vai se transformar em uma Bielorrússia - não sei se melhorada ou piorada. Não dá para prever quais serão as consequências, uma vez que a Rússia tem muito dinheiro e muita gente dependente dela, como Itália e França. Qualquer tipo de desligamento, por exemplo, traz malefícios duplos e sem ajuda ou qualquer outra intervenção, a situação de independência da Ucrânia fica muito complicada. Não há como reagir ou resistir - o exército da Rússia é seis vezes maior e muito melhor preparado. Resumindo, acredito no estabelecimento de uma espécie de governo fantoche.