Rápido envelhecimento da população torna urgente reforma da Previdência
A população acima de 65 anos reúne hoje 19,2 milhões, mas vai chegar a 58,2 milhões em 2060, ou seja, o triplo do contingente atual

O número de brasileiros com 65 anos ou mais vai crescer a uma média de 2,7% ao ano até 2060, um ritmo muito superior ao avanço médio anual da população geral (0,2%), segundo cálculos do pesquisador Rogério Nagamine, coordenador de Previdência no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Enquanto isso, a participação dos brasileiros em idade ativa (que têm entre 15 e 64 anos) na população total já está encolhendo, antecipando o fim do chamado “bônus demográfico”, quando há expansão no número de pessoas produzindo e gerando riqueza para a economia em relação aos inativos.
Os dados sinalizam a urgência da aprovação de reforma da Previdência, avalia o pesquisador. “O Brasil vai ter que se preparar para uma mudança rápida como essa. Na Previdência, infelizmente não estamos nos preparando porque há resistência em fazer a reforma”, alertou Nagamine.
Para ele, o tema é “extremamente urgente” e deveria ser tratado pelo próximo presidente da República, apesar de reconhecer de que é uma “agenda política complicada”.
A população acima de 65 anos reúne hoje 19,2 milhões, mas vai chegar a 58,2 milhões em 2060, ou seja, o triplo do contingente atual.
Já os brasileiros em idade ativa são hoje 144,7 milhões e cairão a 136,5 milhões em 2060. Os dados foram compilados a partir das Projeções de População divulgadas na quarta-feira, 25, pelo IBGE.
Previsões anteriores indicavam que o bônus demográfico brasileiro terminaria só em 2023. Uma janela de oportunidade de cinco anos para que o governo e o Congresso Nacional pudessem fazer reformas nas regras de aposentadoria e pensão no País. Agora, os dados mostram que esse tempo já acabou sem que o Brasil tenha feito mudanças estruturais no sistema previdenciário.
“A população dependente (crianças e idosos) está crescendo mais do que as pessoas que geram riqueza, e isso se dá pelo rápido processo de envelhecimento, já que a população jovem continua diminuindo. Isso não gera perspectiva de melhora futura”, advertiu o secretário de Previdência, Marcelo Caetano.
O governo do presidente Michel Temer tentou aprovar uma reforma da Previdência, mas foi derrotado pela falta de apoio político à proposta e também pela sucessão de denúncias contra o emedebista.
Para Caetano, apesar de o bônus demográfico ter acabado cinco anos antes do previsto, ainda há tempo hábil para fazer uma reforma “preventiva”, com regras de transição.
“Mas o próprio fim do bônus demográfico indica que esse tempo está chegando a um limite”, ressaltou o secretário. Quanto maior for a demora, mais agressiva terá de ser a proposta de mudança, avisou Caetano. “A reforma da Previdência se torna cada vez mais urgente.”
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De acordo com a análise do Ipea, a proporção de pessoas em idade ativa, que hoje é de 69,43% em relação ao total, cairá a 59,8% no fim do período estimado.
“O pico da participação das pessoas em idade ativa na população total foi em 2017. A partir de 2018, começa a cair e vai cair cada vez mais. É nesse sentido que dizemos que o bônus demográfico já acabou”, afirmou Nagamine.
As repercussões do rápido envelhecimento devem ser sentidas não só pela Previdência, mas também no sistema de saúde no País.
Um sinal disso é que, com o aumento da expectativa de sobrevida da população, o número de brasileiros com 80 anos ou mais vai quase quintuplicar entre 2018 e 2060, passando de 4 milhões para 19 milhões. Um crescimento médio anual de 3,7%, nos cálculos de Nagamine.
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