Quem tem medo de Elan Musk, o visionário?
De uma só vez, o bilionário chacoalhou as indústrias aeroespacial, de automóvel e energia com as maiores inovações em décadas. Agora, o dono da Tesla e da SolarCity quer conquistar Marte
Em um filme de ficção científica, quando um personagem rico e poderoso resolve investir em transportes, energia renovável, viagens interplanetários e inteligência artificial, a platéia adivinha: ele quer dominar o planeta.
O que podemos pensar de um bilionário que está fazendo tudo isso nesse momento? Há 10 anos, Elon Reeve Musk vem eletrizando o noticiário de negócios com suas ideias.
Sul africano, naturalizado americano, 46 anos, formado em física e economia por Princenton, começou sua fortuna criando e vendendo startups, entre elas a Zip2 e o Paypal.
Suas façanhas seriam apenas coisa de maluco não tivessem feito dele um dos homens mais ricos do mundo. Sua fortuna está avaliada em US$ 13,3 bilhões.
Quer dizer, ele cria negócios viáveis antecipando soluções que poderiam levar muito tempo para surgir.
Pense em um problema grande, como as mudanças climáticas. Estamos diante da urgência de mudar a matriz energética do mundo para nos livrar dos combustíveis fósseis, a maior fonte de poluição.
Cientistas e líderes ambientais quebram a cabeça há duas décadas para convencer o mercado a apostar na economia verde. Com a entrada de Musk no jogo, podemos ter ganho muitos anos na recuperação do planeta.
O IMPÉRIO DE MUSK
Primeiro, ele ajudou a criar uma empresa de carros elétricos, a Tesla Motors, em 2003, que caminha para produzir 500 mil veículos por ano. Consumo zero de petróleo. Apoiou como principal investidor anjo e depois tomou o controle dos fundadores.
Em seguida, entrou no mercado de energia solar com a SolarCity, fabricante de painéis e baterias. Em 2015, fundou a Tesla Energy, para produzir baterias solares em massa. E começou a desenvolver uma linha de veículos autônomos, a mais recente fronteira de inovação na área de mobilidade urbana.
Em 2016, ele acelerou o caminho de forma ambiciosa. Inaugurou em sociedade com a Panasonic a Gigafactory, uma das maiores fábricas do mundo, para produzir as baterias de lítio que os carros elétricos precisam.
CONGLOMERADO COESO
Enquanto analistas em todo o mundo se perguntavam “que diabo ele está fazendo”, Musk explicou o plano estratégico em um documento público – ele estava colocando suas empresas para trabalhar junto.
Uma companhia constrói carros elétricos e autônomos; outra, baterias de lítio para movê-los; a terceira, painéis solares para abastecer as baterias; e a quarta, caixas de armazenamento de energia para ser usada nas casas dos compradores de carros. Além de tudo, o empresário vai resolver um baita problema ambiental.
As baterias desempenham papel crítico nesse desenho. O que falta para a energia solar deslanchar comercialmente? Ficar mais barata. Para isso acontecer, faltava juntar as fases de captação e utilização.
Musk não quis reinventar a roda. As velhas e boas baterias de lítio, semelhantes às de computadores e celulares, vão fazer essa junção.
Garantindo o fornecimento de energia renovável para as principais necessidades das pessoas, ele ajustou as condições para controlar uma gigante do mercado energético mundial, sem depender de mais ninguém, por ser verticalmente integrada.
Pode-se dizer que tem muita gente tocando partes desses projetos, como o Google e a Daimler. A diferença em relação a Musk é que suas empresas estão preparadas para fazer isso em pouco tempo, em larga escala e a preços muito mais reduzidos que os concorrentes.
UM JOGADOR PESO PESADO
Uma piada que corre no mercado sobre a audácia da Tesla diz que a última startup bem sucedida da indústria de automóveis foi a Chrysler, fundada em 1925.
Com suas inovações para produzir carros elétricos em massa, de uma tacada, o megaempresário colocou na berlinda duas das mais poderosas indústrias do mundo, a de petróleo e a automotiva. E ninguém pode dizer que ele não avisou.
Desde o começo de sua trajetória empresarial, o cientista bilionário não escondia o desprezo pelas indústrias poluidoras e o desejo de expandir o uso da energia limpa.
E, com os carros autônomos, ele espera dar um grande impulso ao modelo da economia compartilhada; até já desenvolveu o aplicativo que será usado nos carros da Tesla.
NO MUNDO DOS ROBÔS
Para dar a estocada final nas indústrias de petróleo e automotiva, Musk anunciou recentemente mais um projeto visionário, uma companhia dedicada à inteligência artificial, a Open AI.
A tecnologia será fundamental para os projetos de carro autônomo, energia renovável e de veículo espacial. Veículo espacial? Sim, entre outras esquisitices, ele criou uma empresa de turismo espacial (que já tem reservas) e pretende colonizar Marte. Fábrica de foguetes, ele já tem, a Space X, cujo principal cliente se chama Nasa.
Jeff Bezos, da Amazon, e Richard Branson, da Virgin, também estão de olho no espaço. Ao contrário dos dois e de outras empresas, no entanto, Musk tem sido uma das vozes mais preocupadas com a perda de controle sobre os sistemas de inteligência arrtiicial.
Ele acredita que manter o conhecimento aberto pode coibir estes riscos. Lembram de Blade Runner e 2001, Uma Odisseia no Espaço? O homem enxerga longe.
ESTÉTICA E BAIXO CUSTO
A corrida por uma tecnologia confiável para os carros sem motorista sofreu um baque com um acidente fatal envolvendo um protótipo da Tesla no meio do ano.
A disputa, porém, avança. Entre os competidores da Tesla estão Ford, Volvo, GM, Google e Uber.
Chama a atenção a diferença estética do modelo da Tesla – um esportivo estiloso, bem diferente do design engraçadinho dos concorrentes.
Como acontece em outros campos, Musk quer que eles se tornem objeto de desejo, como já fez com o carro elétrico, com as baterias domésticas e a própria energia solar.
Além da preocupação estética e ambiental, ele é movido pela contenção de custo para garantir escala e tirar o chão dos concorrentes. Quase levou ao colapso os pesquisadores da Space X que construíram os primeiros foguetes, ao manter um controle paranóico dos gastos.
Contrariando um dogma de décadas da indústria aeroespacial, de que os foguetes deveriam ser descartáveis, a empresa desenvolveu veículos reutilizáveis e mais baratos.
Depois de muitas explosões frustrantes, que quase acabaram com o patrimônio de Musk, ele colocou um foguete do zero no espaço. E o pegou de volta. Economia obtida? De 90%, à moda chinesa. A Nasa adorou a história e se tornou o principal cliente.
ELON MUSK VERSUS STEVE JOBS
Personagem difícil de classificar – marqueteiro, cientista, visionário, empreendedor serial, gênio da tecnologia, louco -, quanto mais ele intriga e fascina o mercado, mais suas empresas avançam.
O bilionário vem sendo comparado a Steve Jobs pela capacidade de destruir indústrias, identificar necessidades ainda não percebidas pelo consumidor e mudar o comportamento da sociedade.
O que ele propõe, porém, supera em grandiosidade as criações de Jobs. Tem potencial para modificar a dinâmica da economia global, aumentar o alcance da ciência e empurrar as fronteiras do planeta rumo ao espaço sideral.
IMAGENS: Divulgação