Quase seis décadas na ACSP
Sinto-me realizado pela carreira que fiz na Associação, mas acho que aumentou minha responsabilidade com o passar dos anos, e com o desenvolvimento e maior complexidade da entidade

Completo dia 11 de setembro 59 anos como economista da Associação Comercial de São Paulo. Motivo de orgulho e a certeza de que, dentro de minhas limitações, procurei contribuir para manter a tradição e a grandeza da entidade durante esse longo período.
Tive a oportunidade de trabalhar com 14 presidentes, incluindo os interinos, e com todos procurei colaborar, com lealdade e dedicação, e de todos sempre recebi respeito e cortesia, pelo que sou grato.
Agradeço, também, os inúmeros colegas com os quais trabalhei, e aos que ainda trabalho, pelo ambiente de cordialidade e respeito que desenvolvemos, tornado o convívio diário agradável.
Isso ajuda a explicar por que permaneço na Associação há tanto tempo, mas, também, o que contribuiu muito foi a identificação com os princípios e valores da entidade, o que sempre me permitiu defender suas posições com convicção.
Sinto-me realizado pela carreira que fiz na ACSP, mas acho que aumentou minha responsabilidade com o passar dos anos, e com o desenvolvimento e maior complexidade da entidade.
Como economista, nessas quase seis décadas, acompanhei de perto a transformação do país e os principais acontecimentos políticos e econômicos, que foram muitos e, no geral, ajudam a explicar por que o Brasil não se tornou uma nação desenvolvida, compatível com os recursos de que dispõe. Ficamos velhos antes de ficar ricos.
Convivi com três Constituições, a de 1944, a de 1967 e a atual, de 1988, que já está se revelando incompatível com a nova realidade do país e do mundo.
A instabilidade política que o país viveu a partir de 1963, se refletiu intensamente na economia, sendo que em alguns períodos foi agravada por problemas externos.
Assim, tivemos nessas quase seis décadas, oito Planos Econômicos, quase sempre envolvendo a troca de moedas, que também foram oito, a partir de 1963, sendo que o Real é a de maior tempo de duração, depois do Real antigo (no plural Réis) que durou até 1942.
Apenas para recordar, tivemos o Plano Trienal em 1963, elaborado por Celso Furtado, que tentava conter a inflação, e que foi substituído pelo PAEG- Programa Econômico de Aceleração do Crescimento de 1964|66, que criou as bases institucionais para o chamado “milagre econômico brasileiro” quando, entre 1968 a 1973, o Brasil cresceu de 7% a 13%, com forte endividamento externo.
As crises do petróleo de 1973 e de 1979, (a atual também trouxe problemas, mas o país estava mais preparado) interromperam o “milagre econômico” e levaram à “moratória da dívida externa”, o que contribuiu para que chegássemos à hiperinflação no final do governo Sarney.
Durante o período Sarney tivemos o Plano Cruzado, o Cruzado II, o Plano Bresser, política do Feijão com Arroz, e o Plano Verão.
Com Collor tivemos o “confisco da poupança” sem que a inflação fosse contida, e o Collor II, que também não reduziu a inflação. Com Itamar, depois de várias trocas de ministros da Fazenda, finalmente, com Fernando Henrique à frente, o Plano Real, que foi complementado quando ele era Presidente, trouxe a estabilização.
Seguiram-se os governos de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, sobre os quais escreverei em outra oportunidade, pois agora estamos em um período eleitoral muito acirrado e as interpretações desse período podem ser viesadas pela disputa existente.
O resumo dos primeiros 40 anos da economia de minha trajetória na ACSP mostra que foram, no geral, bastante conturbados, com exceção dos anos do “milagre”, e que a entidade foi muito exigida para informar e para defender seus associados e os empresários em geral.
Não posso dizer que a tarefa como economista foi fácil ou monótona, mas acredito que dificilmente teremos tantos eventos políticos e mudanças econômicas nas próximas décadas. Pelo menos, isso é o que espero, pelo bem do país.
Desejo que, nós, brasileiros, a partir do próximo governo, nos reconciliemos como cidadãos, somando os esforços para construir a grande nação com a qual sonhamos, e que só é possível com unidade de propósitos.
Espero que Deus me dê saúde para poder continuar, na ACSP ou fora dela, a contribuir para que o Brasil se torne um país próspero e justo.
IMAGEM: Paulo Pampolin/ACSP