Quando o franchising também é agro
Franquias voltadas ao agronegócio, como a Reino Rural, especializada em suplementos para nutrição animal, ganharam força com a pandemia e devem movimentar ainda mais o setor em 2022
Entre as principais tendências do franchising em 2022 estão as redes de franquias voltadas ao agronegócio. O setor avança a cada ano. A despeito do cenário adverso, que inclui alta do frete internacional, do dólar e problemas de logística marítima, o PIB do agro cresceu 8,36% em 2021, segundo dados do Cepea-Esalq/USP.
Com participação tímida, a princípio, marcas especializadas em agricultura de precisão, nutrição animal e máquinas pesadas e peças, entre outras, ganharam força com a pandemia. E para conseguir oferecer produtos e serviços para atender à demanda crescente em todas as regiões do país, franquearam seus modelos de negócio.
Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) apontam que quatro marcas associadas que atuam no segmento somam 770 unidades em operação. O interesse pelo modelo, segundo a diretora executiva Silvana Buzzi, se deve a fatores como regulamentação consolidada e agilidade em escalar negócios sem necessidade de investimento direto.
Ao reforçar que o crescimento robusto do agronegócio, até na pandemia, acirrou a competição em todos os setores, Huberto Damas, diretor de estratégia e transformação do Grupo Bittencourt, cita os stakeholders que intensificaram a busca por eficiência e produtividade, abrindo espaço para uma gama de produtos e serviços com esse foco.
"Nesse contexto, surgem franquias voltadas à agricultura de precisão, operações Barter (de garantia de venda para o produtor rural), de fornecimento inteligente de insumos agrícolas para diferentes culturas e serviços via 'agrotechs'".
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No caso específico do setor agrícola, pesa também a questão de criar, com as franquias, um canal direto de venda e relacionamento com o consumidor final, já que neste mercado ainda é comum a figura do distribuidor/varejista.
Esse contato direto facilita o acesso a dados, identifica demandas e comportamentos e agiliza mudanças quando necessárias - algo de extrema importância principalmente em contextos de instabilidade, como o atual. Além disso, é possível criar e fortalecer marcas, agregando valores intangíveis aos produtos e serviços, diz a diretora da ABF.
"Com um território tão vasto, alcançar todo o Brasil, ainda mais nas fronteiras agrícolas, não é fácil. Logo, contar com parceiros locais que conhecem a região certamente é um fator chave para o sucesso do negócio."
Se os grandes players acessam o agro diretamente, com diferentes modelos de negócio e canais de distribuição, boa parte do mercado é composta por produtores que valorizam a cultura local e o relacionamento próximo com fornecedores, permitindo às marcas acessarem esses mercados e manterem a regionalidade, reforça Damas.
Essa via de mão dupla beneficia pequenos negócios agrícolas com duas oportunidades. Uma, por redes de franquias que levam até eles produtos e serviços em condições competitivas, por sua natureza em rede e compartilhamento de recursos, explica Silvana, da ABF. Ou como franqueado de alguma dessas redes, diversificando negócios.
"Empresas que utilizam o franchising como estratégia de expansão almejam capilaridade. Essa presença local dará acesso a mais produtores a tecnologias e serviços, e ainda há muito espaço para expansão, seja qual for o segmento do agronegócio", sinaliza o diretor do Grupo Bittencourt.
A seguir, veja algumas marcas que estão se consolidando como franqueadoras:
SUPLEMENTAÇÃO ANIMAL EM HOME OFFICE
Há oito anos no mercado de nutrição e suplementação animal, a Reino Rural Saúde no Campo entrou em janeiro último para o mercado de franquias home-office, que vendem por call-center e comercializam artigos da marca própria para pecuária e lavoura destinados a fazendas, sítios, chácaras e pequenos, médios e grandes produtores.
Com os períodos de seca e estiagem nos pastos que ocorreram em diversas regiões do país nos últimos dois anos, o uso de suplementos para nutrição animal com produtos minerais e proteicos também cresceu. Assim como o de fertilizantes e corretivos de solo de marca, desenvolvidos com tecnologias nutracêuticas.
Esses fatores, mais os resultados expressivos do agronegócio, levaram a marca a entrar para o franchising para capilarizar sua expansão no país.
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Crescendo cerca de 30% ao ano desde o início da pandemia, a Reino Rural buscava alternativas para manter esse crescimento, segundo a diretora executiva Viviane Henriques. "As vendas aumentaram muito, e nós precisamos chegar ainda mais perto do consumidor final."
Sendo o franqueado um investidor, ele se dedica com mais exclusividade à operação, atendendo o consumidor com mais qualidade, diz. E também oferece suporte técnico de agrônomos e zootecnistas pois, em geral, pequenos e médios produtores não contam com esses especialistas para orientá-los no dia a dia.
Assim, a expectativa para 2022 é "excelente", diz o CEO Matheus Ferraz, já que o franqueado trabalhará na própria casa, e com baixíssimo custo operacional (em torno de R$ 45 mil, mais taxa de franquias).
Presente em 15 estados brasileiros, a marca contabiliza 16 unidades franqueadas e uma própria, em São José do Rio Preto (SP), e planeja chegar até o fim de 2022 com 40 unidades e R$ 4 milhões em faturamento.
PLATAFORMA DIGITAL PARA PEÇAS E MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Fundada em 1994 em Sinop (MT), a Rech, plataforma digital de peças para máquinas pesadas e agrícolas que opera com lojas físicas próprias e franqueadas, integra um movimento que ganha cada vez mais força no franchising, e se intensificou a partir da pandemia: o de fusões e aquisições via fundos de private equity.
Sua expansão para outras regiões brasileiras com o formato de franquias ganhou impulso a partir de sua aquisição, em 2018, pela Aqua Capital, a maior gestora de fundos de private equity para o agronegócio da América Latina.
Como o mercado de reposição de peças movimenta cerca de R$ 7,5 bilhões por ano no agronegócio e na construção, ambos locomotivas da economia e vetores de geração de renda e empregos, segundo o gestor de expansão e franquias Juliano De Stefani, esse foi o momento ideal para a marca entrar de vez no setor.
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Por ser especializada em maquinário agrícola pesado, o investimento inicial para ser franqueado da Rech vai de R$ 800 mil a R$ 1,5 milhão. Também é imprescindível ter afinidade com o setor, diz a gerente de marketing Fabíola Molteni.
“Operar em ramos de nicho requer mais do empresário do que se optasse por segmentos mais abrangentes, como o de alimentação", diz a executiva, lembrando que, para garantir o desempenho almejado (o faturamento médio anual previsto é de R$ 24 milhões por ano), o candidato deve conhecer bem a região onde pretende instalar a unidade.
Apesar dos desafios impostos pela pandemia, a Rech manteve o crescimento da rede nos últimos anos. "Agora, projetamos acelerar ainda mais essa expansão”, afirma De Stefani.
Ao todo, a rede possui 33 lojas próprias e 13 franquias e, mesmo não revelando expectativas para 2022, afirma ter dobrado de tamanho em 2021 na comparação com 2020.
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