Print fuerint folia mori? (Estão os jornais impressos morrendo?)

As gerações nascidas após os anos 80 começaram a perder o interesse pela leitura e as nascidas após a década de 90 nem mais se preocuparam com isto

Paulo Saab
06/Jul/2021
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Diz-se que diante de fatos não há argumentos. Diante de números menos ainda. Os números são implacáveis.  Como jornalista lamento constatar, mas qualquer julgamento sobre os motivos que estão levando a esses números, deve ficar por conta do leitor. Minha sugestão é simples: novas tecnologias e ausência de verbas públicas vultosas.

O que explicaria também a agressiva campanha da imprensa nacional contra o governo que cortou essas verbas. É apenas uma sugestão de raciocínio. Deixo os números falarem, tendo como fonte o site Poder 360.

Circulação de jornais diários impressos:

 

                                        2015                 2021

Estadão                         149.241             76.416          - 51%

Globo                             183.404             72.807          - 40%

Folha                              175.441             59.719          - 34%

Zero Hora                       144.191             50.180          - 34,8%

Estado de Minas               47.106               9.299          - 20%

 

A diferença é gritante e acelerada.

A geração posterior à minha talvez seja a última a ter sido criada com o hábito da leitura dos jornais impressos. Havia o matutino, o vespertino e até edições noturnas.

Havia a disputa pelo “furo”, a busca pela notícia impactante e, principalmente, a preocupação em se divulgar o fato e não transformar um fato em informação manipulada.

Isso se repetia nas emissoras de rádio com jornalismo em sua programação e ainda, nas emissoras de televisão e nas revistas semanais.

As gerações nascidas após os anos 80 começaram a perder o interesse pela leitura e as nascidas após a década de 90 nem mais se preocuparam com isto em face do início do surgimento das novas mídias e meios de comunicação eletrônica e muito mais instantânea.

Dizia-se também que informação era poder. Ou ainda é. A exclusividade da informação começou a sair dos gabinetes oficiais e das redações dos jornais e meios de comunicação de massa com o advento do fac símile (fax) que morreu rapidamente, com a chegada dos telefones celulares e tornou-se instantânea quando a tecnologia começou a por nos celulares que ganhavam acesso de todo tipo de público às redes sociais e às mídias eletrônicas.

A chamada grande mídia que nadava de braçada na venda de propaganda, publicidade legal e governamental, tinha o domínio da informação e influenciava costumes, hábitos e consumo, começou a perder enorme terreno e consequentemente faturamento e tiragem ou audiência.

A visão ideológica que foi plantada criando-se no país a figura do “nós” e “eles”, exacerbou as divisões e preconceitos que eram latentes e passaram a patentes. Na presidência da República um governo que jogava brancos contra negros, índios, pardos, amarelos, e pobres contra ricos patrões contra operários, homos contra heteros e por aí afora, criou um ambiente até então inexistentes onde a redações passaram a dar mais força à opinião do que ao fato. Com o faturamento sendo sustentado por verbas públicas fartas, mudou a forma de se encarar o jornalismo e deste encarar a relação com o público e o poder público no Brasil.

A chegada ao poder de um presidente eleito pelo povo com viés político e ideológico diferente do que criou no país a linha de divisão e alimentava a chamada mídia com verbas fabulosas, o impacto foi forte.


Acirraram-se os sentimentos, misturando visão ideológica com interesses financeiros dos que perderam o acesso que tinham aos cofres públicos.

Somaram-se os que perderam o poder, a capacidade de manipular o dinheiro público e os que tinham acesso às essas verbas fenomenais, onde se incluíam os grandes veículos de comunicação, artistas, áreas culturais, sindicatos, federações, movimentos políticos travestidos de sociais, e tudo mais como é sabido. A catalização do ódio pelas doloridas perdas foi centrada, obviamente, na pessoa de quem venceu as eleições e promoveu os cortes que sustentavam também uma parcela desse público financiado pelo dinheiro público.

A somatória disso tudo trouxe ao quadro atual de desinformação, leviandades e mentiras que povoam o imaginário e a realidade de muita gente que se diz democrata, mas cuja democracia é somente a sua possibilidade de mandar nos outros.

Não iria palpitar. Palpitei.

Mas os números seguem frios e implacáveis. De tudo, pelo menos, fica evidente o desespero com que os antigos jornalões, hoje quase folhetins, atacam quem lhe tirou as verbas que permitiam a folga nababesca dos balanços.

A tecnologia e a inteligência dos leitores, ouvintes e telespectadores que percebem todos esses movimentos, fazem o resto.

É hora de se repensar os caminhos e para onde vai a imprensa. Com objetividade e não ranger de dentes ou desinformação buscando uma revanche ou a volta a um passado recente que o país rejeitou nas urnas.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio

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