Por que a Bacio di Latte quis uma casa no Centro de São Paulo

A marca de gelatos entrou para a lista de empresas que enxergam grandes oportunidades de negócios no Centro antigo de São Paulo quando, há cerca de dois anos, montou uma unidade no térreo do histórico Edifício São Luiz

Mariana Missiaggia
16/Jun/2023
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Por que a Bacio di Latte quis uma casa no Centro de São Paulo

Receber o título de edifício mais luxuoso da cidade de São Paulo fez do São Luiz um ícone da capital na década de 1940. Mais de 80 anos depois, o prédio residencial, que foi um dos primeiros da região central a apresentar térreos permeáveis com comércio, ainda mantém sua essência.

Casas de câmbio, escritórios de advocacia e bancos foram alguns dos negócios que já se fixaram no primeiro piso do número 77 da esquina da Praça da República com a avenida Ipiranga, hoje ocupado pela Bacio di Latte.

Na onda dos prédios retrofitados do centro histórico de São Paulo, a nova unidade da sorveteria preservou a essência do São Luiz, que remete às décadas de 1930 e 1940 (sua construção foi finalizada em 1944). Pelas mãos das arquitetas Tatiana Arakaki e Daniela Mutchnik, todos os equipamentos necessários para a Bacio funcionar foram adaptados às paredes de tijolos e à laje originais do imóvel, assim como aos outros elementos da época de sua construção.

A decoração traz uma curadoria exclusiva de objetos da época - uma cafeteira alta de bronze, porcelanas inglesas, lustres de vidro, um relógio de duas faces e quatro cadeiras com assentos de soleta devidamente renovados –, tudo original dos anos 1940.

Loja da Bacio di Latte instalada no térreo do Edifício São Luiz traz decoração da década de 1940 e manteve laje e tijolos originais

 

Quem passa pela rua e olha pela porta de ferro consegue reconhecer toda a identidade visual da marca, com o branco e a madeira predominando. Ao ocupar o térreo do Edifício São Luiz há cerca de dois anos, a Bacio di Latte entrou para uma seleta lista de empreendimentos que viram potencial no Centro de São Paulo, a exemplo da Casa do Porco, Esther Rooftop e Dona Onça (estes também em prédios históricos).

São todos peças importantes para a revitalização da região. E, de fato, o Centro de São Paulo vem ganhando novos ares. A chegada desses bares e restaurantes é apontada como a maior responsável por atrair um público que, inicialmente, não teria outro motivo para ir à região.

No caso da Bacio di Latte, a escolha pelo imóvel foi feita a dedo, segundo Fábio Medeiros, diretor de marketing da empresa. Ele recorda que São Paulo foi a primeira cidade na qual a sorveteria abriu uma unidade e, por isso, fazia muito sentido para a marca ter uma loja que simbolizasse a história do negócio com a capital paulista.

Hoje, são mais de 140 unidades pelo país. No total, são três lojas na região central (República, Shopping Light e Higienópolis). "O Centro faz parte da história de São Paulo e nós da Bacio di Latte queríamos fazer parte da história do Centro", diz . "Sentimos que a região foi ressignificada tanto na arquitetura quanto na experiência gastronômica e, por isso, decidimos ter o nosso lugar neste movimento."

Sem tabus em relação à região, ele acredita que a atenção dos empresários para o Centro ocorre de forma natural. Ele já define o local com um ecossistema gastronômico.

Para o diretor de marketing, o ponto escolhido para a loja, o Edifício São Luiz, apresenta símbolos culturais que atraem turistas o ano inteiro. E em razão da presença de estabelecimentos de segmentos variados, conta com um grande fluxo de pessoas.

Na visão do executivo, embora as suas lojas estejam muito presentes em shoppings e tenham a função de oferecer uma pausa no dia a dia dos consumidores, quando localizadas no meio da correria da cidade, essa característica é reforçada. 

"Sofás confortáveis, clima ameno e um ambiente aconchegante fazem dessa loja um oásis no meio do Centro", diz.

RESIDÊNCIA DA 'ALTA SOCIEDADE'

Projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon, responsável também pela Biblioteca Mário de Andrade, o São Luiz é tombado e preserva o estilo neoclássico, desde quando servia de abrigo para banqueiros e fazendeiros que vinham à capital paulista a negócios e queriam uma residência à altura de suas posses. Das celebridades que já viveram no local, destaca-se o ex-presidente João Goulart.

Pode-se dizer que no entorno da avenida São Luís, o imóvel foi uma espécie de precursor. Até então, ainda não haviam sido erguidos o Edifício Itália, na esquina com a avenida Ipiranga (1956-1965), a Galeria Metrópole, na esquina com a praça Dom José Gaspar (1959-1964), e o Conjunto Zarvos (1958-1963).

Já bastante verticalizada no final da década de 1960, esses prédios configuram, em grande parte, a paisagem do “centro novo” de São Paulo, misturando em suas construções moradia e usos comerciais.

De volta ao presente, quase que ao mesmo tempo em que a Bacio di Latte começava a funcionar no São Luiz, a Livraria Megafauna vivia um momento parecido. No térreo do Copan, além de vender livros, o estabelecimento, inaugurado em novembro de 2020, mantém programações culturais voltadas à difusão da leitura. 

Cinco sócios dividem a gestão do negócio - as editoras Fernanda Diamant e Maria Emília Bender, a arquiteta Anna Ferrari, o empresário Arthur Mello e o bibliófilo Thiago Salles Gomes.

Coube à Anna, a arquiteta, reativar a livraria na galeria localizada no Copan, criando uma certa relação do local com a cidade por meio de portas amplas, além da possibilidade de circulação entre a rua e a galeria.

As vitrines voltadas para a rua, os espaços para palestras e apresentações, a maneira como os títulos expostos - tudo foi pensado para chamar a atenção de quem passa por perto da loja 53.

A 200 metros de distância uma da outra, a Bacio di Latte República e a Megafauna fazem parte de um circuito de empresas que estão ajudando a transformar os bairros centrais não apenas em um lugar para passear, mas também em uma região para viver e trabalhar - e os motivos já são muitos.

 

IMAGEM: Bacio di Latte/divulgação

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