Por dentro do delivery que encantou o Pão de Açúcar
Principal rival da Rappi, a James Delivery é líder de mercado no Sul do País e quer ganhar a América Latina em três anos. Adquirido pelo GPA, o app atende as redes Extra e Pão de Açúcar
Tudo começou com um quilo de sal. Os amigos Ivo Roveda, Juliano Hauer, Eduardo Petrelli, e Lucas Ceschin (na foto principal, da esq. para dir.), dividiram a mesma casa durante dois anos para concluir uma pós-graduação, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Em uma das noites que preparavam o jantar, perceberam que haviam se esquecido de comprar sal. Pediram um táxi e foram até o mercado mais próximo, que não era tão perto assim.
“Aquilo nos incomodou muito. Parar uma receita, se deslocar, gastar com táxi, perder tempo e tudo por um quilo de sal”, diz Petrelli.
Foi então que pensaram: E se pudéssemos pedir para alguém entregar o sal, assim como pedimos uma pizza?
Sem perceber, já estavam muito impactados pelo ambiente de empreendedorismo tecnológico americano. O tempo todo conversavam com pessoas que tinham largado tudo para tirar as próprias ideias do papel. Alguns empreendedores de sucesso; outros, nem tanto. Viam muita gente errando, acertando, tentando e o quanto a tecnologia permitia que pequenas e novas empresas se valorizassem em pouco tempo.
Desde então, o quarteto passou a dedicar tempo para desenvolver aquela ideia. O objetivo era modelar um projeto com toda a tecnologia disponível naquele ambiente e aplicá-lo no Brasil.
A intenção era suprir duas necessidades: a de pessoas que têm pouco tempo para comprar o que precisam com outras que querem uma renda extra como entregadores.
Além de se comprometer com entregas em até 35 minutos, o grande diferencial do aplicativo seria a disponibilidade de qualquer tipo de produto, desde um tempero até cartuchos de impressora.
Para tanto, era preciso que o aplicativo permitisse uma certa customização do cliente – um campo onde fosse possível, por exemplo, escolher o tipo de flor a ser comprada ou o teste de gravidez específico, um dos itens mais pedidos na ferramenta.
DE VOLTA AO BRASIL
Com um software piloto, desenvolvido em Nova York, voltaram ao Brasil e, em maio de 2016, lançaram o James Delivery, um dos cases apresentados durante recente Retail Conference, promovido pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). Na época, os sócios investiram R$ 300 mil de recursos próprios e tiveram um aporte de investidores-anjos.
A vontade de trabalhar com pedidos customizados deu certo. A maior parte dos James, como os entregadores são chamados, são universitários que fazem entregas como forma de incrementar a própria renda e isso torna a frota do aplicativo diferenciada, segundo Petrelli, cofundador da James Delivery. Seguindo a linha ecologicamente correta, 70% das entregas são feitas de bicicletas.
Concorrência – Com a entrada de novos players internacionais, como Rappi e Uber Eats, no mercado Petrelli diz que a James não vai mudar a estratégia de sempre tentar entregar o melhor produto para o cliente no menor tempo possível.
“É um mercado com muita oportunidade, então vai atrair muita concorrência”, diz.
“Embora eles sejam mais capitalizados, temos muita segurança de que entregamos o melhor produto final - acreditamos que o contato humano faz toda a diferença. Somos absolutamente focados no cliente, a tecnologia é apenas uma ferramenta”.
Em dois anos e meio desde que foi criada, a startup de encomendas e entregas, sediada em Curitiba, se consolidou no mercado local, atingiu seu ponto de equilíbrio e, no fim de 2018, foi comprada pelo Grupo Pão de Açúcar.
Hoje, são 20 funcionários e 800 entregadores ativos em Curitiba, no Paraná e Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Aquisição - Nada muda no que se refere à gestão do negócio, segundo Petrelli, após a compra feita pelo GPA. Os quatro sócios continuam à frente do James - eles terão status de diretores executivos no GPA e a sede segue em Curitiba.
Nas palavras do empreendedor, o que muda são as metas. A expectativa de crescimento exponencial para os próximos anos é correspondente a uma expansão geográfica agressiva nas principais cidades onde o GPA atua.
O James continuará prestando serviços em parcerias com outras empresas como restaurantes e farmácias, mas no setor de supermercados o GPA passa a ser atendido com exclusividade.
“Seguimos operando, crescendo e sendo agressivos como uma startup, mas fazendo parte de um grande grupo e vai ter muito investimento no James nos próximos anos”.
Em entrevista coletiva, o presidente do GPA, Peter Estermann, diz considerar o James Delivery um "SuperApp" e prevê que o James irá liderar o mercado da América Latina em três anos.
Para Estermann, um negócio como o do James é extremamente estratégico para o GPA porque envolve uma plataforma com acesso a dados de comportamento dos clientes.
Ele acredita que a companhia deve se preparar para construir uma grande plataforma de marketplace, em que vantagens competitivas como escala, capacidade logística e oferta de financiamento possam ser colocadas a serviço de outros varejistas, como já ocorre no varejo de eletroeletrônicos em companhias como, Mercado Livre, B2W, Magazine Luiza, Amazon e Via Varejo.
FOTOS: Mariana Missiaggia/Diário do Comércio e Divulgação