Pequenas e valiosas, frutas vermelhas vingam no interior paulista
Amoras, framboesas e mirtilos importados ganham destaque nos supermercados em porções congeladas, enquanto pequenos produtores apostam na cultura nacional
Suco, calda, torta, geleia e sorvete são algumas das preparações mais comuns em que as frutas vermelhas despontam como protagonistas.
Elas chegam ao Brasil importadas de países como Chile e Estados Unidos, onde são muito populares. No entanto, apenas 1% do que é comercializado pode ser encontrado fresco, o mais comum é a oferta de congelados.
Com o quilo da fruta a um custo entre R$ 100 e R$ 200, o consumo in natura pode ser considerado um luxo,
Talvez por isso elas tenham se tornado uma atração, comum em cardápios de restaurantes de Campos do Jordão, a 194 quilômetros de São Paulo.
As delicadas as framboesas, amoras e mirtilos encontram em regiões montanhosas condições ideias para se desenvolver.
Rodrigo Veraldi, 41 anos, agrônomo, cresceu acompanhando as experiências do pai, João Paulo, em meio à Serra da Mantiqueira, com diferentes variedades de framboesa.
A alta altitude e o clima frio ajudaram a família a reunir 20 espécies, que se tornaram a atração principal do Viveiro Frutopia, comandado por ele, em São Bento do Sapucaí.
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DE PRODUTOR A CONSULTOR
Ao mesmo tempo em que sua plantação aumentava, crescia o número de interessados no processo de cultivo.
Por isso, Veraldi transformou a sua propriedade em um complexo de turismo rural, com visitas agendadas e guiadas ao Viveiro Frutopia, e ao espaço gastronômico Entre Vilas.
O agrônomo e sua família preparam pratos culinários com base no que é colhido no sítio. Hoje, Veraldi é a maior referência do país no assunto, muito consultado por produtores de Minas Gerais, Espírito Santo, e Rio Grande do Sul.
Com foco em produção de mudas, há dez anos ele participa de um movimento crescente de cultura das pequenas frutas no interior de São Paulo, que já soma aproximadamente 100 pequenos produtores especializados.
Na região, os destaques são a Fazenda Baronesa Von Leithner, em Campos do Jordão, com três hectares de frutas vermelhas, e a Berry Good, em Senador Amaral, na divisa com Minas Gerais, com oito hectares de amora, e outros dez hectares de framboesa que darão seus primeiros frutos em 2018.
“Hoje, comercializo pouco, e produzo mais para o consumo do restaurante. Estou mais focado no caráter experimental para difundir a produção nacional”, diz.
DEMANDA MAIOR QUE A PRODUÇÃO
Há anos, Marli Guarino, analista de sistemas, utiliza parte da terra de seu sítio em Piedade, para produzir alimentos orgânicos para consumo próprio. Com filhos pequenos, o desejo de profissionalizar o cultivo foi postergado.
Mas uma matéria lida em revista sobre o mirtilo levou Marli a encomendar um lote da fruta, que é de raro cultivo no país, e exigia uma compra mínima de 1 mil pés.
Marli levou quatro meses para preparar o solo com a ajuda de um agrônomo, e dois anos para ver os primeiros resultados de sua plantação.
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Em sete anos, ela contabiliza 500 pés da fruta que servem restaurantes e confeitarias.
Com uma demanda muito superior a produção de seu sítio, ela tinha planos ambiciosos neste ano, quando tencionava dobrar volume de produção –de atuais 750 quilos por ano. Cada 125 gramas por R$ 11.
“Depende mais do país, que de mim. Trata-se de um investimento muito alto, e o clima político desanima”, diz. “Temos condições, mas preciso voltar a acreditar no Brasil”.
INVESTIMENTOS
Com uma colheita curta, de novembro a janeiro, o agricultor precisa de planejamento e investimento para lucrar o ano todo com as pequenas frutas.
A artista plástica Rosana Godoi, 47 anos, se aventura nesse mercado há cinco anos, em Alumínio, a 75 quilômetros da capital.
Pequena produtora de morangos, ela dedica parte de sua plantação ao cultivo de amoras e mirtilos. Após 15 anos trabalhando com morango, hoje ela abastece restaurantes da rota do vinho em São Roque, durante o ano todo.
Seu sonho é poder fazer o mesmo com a amora e mirtilo para ter um retorno maior.
"Minha colheita (de amoras e framboesas) ocorre em dezembro - o único mês em que consigo vender para o consumidor final, chegando a até R$ 150 o quilo", diz.
"Fora isso, o produtor vende para quem congela, que vende para a indústria, que, por sua vez, revende para outra empresa. É uma cadeia muito longa, quero encurtar esse caminho".
Vendidas para fins de congelamento, o quilo das frutas sai entre R$ 45 e R$ 70, de acordo com o volume.
Enquanto a muda de uma fruta sai em média R$ 2, as de mirtilo, framboesa, e amora custam no mínimo R$ 8 -vendidas exclusivamente em lotes fechados.
Assim como Marli, Rosana investiu R$ 1 mil em sua primeira plantação, que deve aumentar no próximo ano - um investimento de R$ 3.500 mil, em novas mudas e refrigeradores.
"Vou testar um congelamento caseiro, e analisar o comportamento da oferta e procura. Se acontecer como imagino, até o fim de 2017, investirei outros R$ 5 mil", diz Rosana.
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