Os microempreendedores que apostam na moda do kombucha
Chá fermentado é a bebida do momento. Produtores, como Fernando Goldenstein e Leonardo Andrade (à dir. na foto) começaram com poucos litros para consumo próprio. Hoje, sua empresa, a Companhia dos Fermentados, vende dez mil garrafas por mês
O termo wellness (bem-estar em inglês), tem ajudado muita gente a mudar de vida. Enquanto por alguns ele é encarado como uma maneira de adotar um estilo de vida saudável, para outros ele significa uma oportunidade de negócio.
O conceito, que envolve desde comer mais legumes e verduras e praticar exercícios físicos, tem levado cada vez mais consumidores a dar preferência a produtos menos industrializados nas prateleiras dos supermercados.
E a verdade é que não faltam empresas desenvolvendo novos produtos para atender a essa demanda. O designer Leonardo Andrade, 25 anos, e seu sócio Fernando Goldenstein, 39 anos, físico, criaram a Companhia dos Fermentados no final de 2016.
Em São Paulo, a dupla foi uma das pioneiras a apostar no kombucha, uma espécie de chá fermentado engarrafado – febre entre os adeptos de uma alimentação alternativa – e que vem sendo produzida por entusiastas nos fundos de suas casas.
Interessado pela técnica de fermentação, Goldenstein aplica o conceito há 15 anos em conservas e se interessou pelo chá depois de prová-lo.
Após muito estudo e algumas tentativas chegou a uma fórmula que lhe agradou. Todo mês produzia 20 litros para consumo próprio e servia aos amigos que recebia em casa.
"Um dia, um amigo chegou e disse: Hoje, vou comprar uma garrafa. E assim outros também foram comprando", diz Leonardo.
Para atender aos pedidos, foram dobrando a receita e quando viram, já estavam produzindo 200 litros de kombucha na cozinha de casa.
Aos poucos, perceberam que o produto era uma tendência e construíram um mini galpão de 15 metros quadrados, onde durante oito meses produziram mil litros por mês.
Com uma base de clientes, alguns pontos de venda bem estabelecidos e um investimento de R$ 70 mil, locaram um imóvel de 250 metros quadrados e formalizaram o negócio, que hoje tem capacidade de produzir oito mil litros por mês.
Hoje, eles produzem 12 mil garrafas por mês, vendidas a R$ 12 a unidade. Faturaram R$ 600 mil em 2017 e esperam faturar R$ 1 milhão até o fim de 2018.
Com traços de chá, água e açúcar, o líquido passa por dois processos. Depois de dez a 20 dias de fermentação com o fungo do kombucha, popularmente conhecido como scoby, a bebida começa ganhar e efervescência.
Numa segunda fermentação, são acrescidos os sabores desejados, como sucos orgânicos. O resultado é uma espécie de refrigerante com borbulhas naturais.
Rica em ácidos orgânicos e fonte de antioxidantes, a bebida promete melhorar o sistema imunológico e ajudar a eliminar toxinas do fígado. A garrafinha também é recomendada por nutricionistas para combater a gastrite, equilibrar o pH do sangue e normalizar a pressão arterial.
Madonna, Gwyneth Paltrow e Reese Witherspoon são exemplos de celebridades que inseriram a Kombucha na dieta e ajudam a propagar o consumo da mistura pelo mundo.
O kombucha pode ter os sabores mais diversos. A Companhia dos Fermentados, por exemplo, faz um kombucha de chimarrão com erva-doce, outro com hibisco, gengibre e pimenta rosa, e um chá mate com cravo, mas que pode aparecer com sementes brasileiras, como o cumaru e a emburana, em lotes sazonais.
Sucesso entre os consumidores, a empresa diversifica seus negócios com conservas de vegetais em vinagre de kombucha – que nada mais é do que o chá fermentado por pelo menos quatro meses. Eles também dão aulas regularmente para quem quer começar sua produção própria.
“Para o brasileiro, a conserva não é cultural. Durante as aulas, servimos talos de gengibre, e elas amam. Mas, não compram em escala. A falta de açúcar do kombucha é a principal resistência do brasileiro que quer tudo docinho. Ainda estamos na curva de aprendizado”, diz.
No instagram, a bebida já reúne mais de 1,2 milhão de postagens com a hashtag kombucha.
PRODUZINDO EM CASA
Psicóloga e consultora de negócios, Angélica Moretti começou a produzir kombucha para o próprio consumo, depois de ter conhecido a mistura numa viagem aos Estados Unidos, há três anos.
Meses depois começou a vender pelo Instragram, por onde os seguidores encomendavam a bebida e a recebiam das mãos da aspirante a empresária na porta de casa.
Dois meses depois das primeiras vendas online, e com volumes quase dez vezes maiores do que os produzidos na cozinha do apartamento onde mora, o Vih! –como foi batizada a marca -ganhou uma espécie de depósito, onde ela armazena as garrafas e recebe os distribuidores.
A ideia era somente ter mais espaço, já que as duas geladeiras que Angélica possuía já não davam mais conta de armazenar toda a produção. Mas, ela montou o espaço com tanto capricho que decidiu dedicar um espaço para o consumidor final, e assim, inaugurou o kombucha bar, há um ano e meio.
Ao mesmo tempo, Angélica deslocou toda a produção para o sítio da família, em Itu – tudo de maneira improvisada e com a ajuda de uma conhecida que morava na cidade e a auxiliava duas vezes por semana.
No Kombucha Bar, a bebida é armazenada em barris de chope para que os próprios clientes possam tirá-la das torneirinhas. São três opções: naked (original, sem saborização), hibisco e ginger (R$ 10 o copo de 300 ml).
A empresária recorda que quando abriu o estabelecimento, 90% dos clientes que entravam na loja não sabiam o que era kombucha. “Como é muito recente, é uma categoria ainda sem monitoramento. Por outro lado, é um mercado que eu ajudei a construir”, diz.
Ela acredita que no total, a bebida já reúna cerca de 50 produtores, que embora sem grande concorrência, enfrentam enormes dificuldades para se formalizar.
Com uma produção de seis a dez mil garrafas por mês, a Vih! Está presente em cem pontos de venda em todo o Brasil. Sem saber exatamente quanto investiu no negócio, Angélica cita a compra de dois maquinários que ajudam na produção – um de R$ 35 mil e outro de R$ 8 mil.
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