O toque feminino de Silvia Afif Domingos
Escritora se reuniu com o Conselho da Mulher Empreendedora da ACSP e falou sobre a importância do papel da mulher na construção da sociedade brasileira
De mão na massa, as mulheres entendem. Com ou sem crise, elas trabalham por dia em média cinco horas a mais que os homens e recebem salários menores, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda de acordo com o IBGE, o desemprego que atinge 13,7% da população afeta mais mulheres do que homens no País. A dedicação à família é indicada por especialistas como um dos motivos mais fortes para essa realidade.
Mesmo assim, o número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% entre 1995 e 2015, de acordo com a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"Para mim, é muito representativo ver o que a mulher era e onde ela chegou". A frase é de Silvia Afif Domingos*, escritora e palestrante.
Nesta terça-feira,6/06, Silvia foi convidada pelo Conselho da Mulher Empreendedora (CEM) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), e se reuniu com um grupo de empresárias para discutir a importância do empoderamento feminino. A seguir, veja o que a escritora pensa sobre o tema:
Diário do Comércio - Cada vez mais mulheres têm se lançado como empreendedoras. De acordo com o Sebrae, 51,2% dos MEIs são mulheres. A que é possível atribuir esse resultado?
Silvia Afif Domingos - Gostaria de dizer que é por inovação. Mas, infelizmente, acredito que seja por necessidade e um dos reflexos da crise econômica pela qual estamos passando. O desemprego obrigou as mulheres a levarem suas habilidades a campo.
Além disso, a renda obtida pelas mulheres tem ganhado cada vez mais importância no orçamento familiar. Quem ficou desempregada teve de usar a criatividade e assim muitas se formalizaram como artesãs, manicures, costureiras e tantas outras profissões.
Que avanços você já identifica desde que as mulheres começaram a se mobilizar para discutir o empoderamento feminino?
A própria discussão do empoderamento já é um marco. A mídia já fala disso de uma forma mais responsável. O aumento das formalizações, da presença das mulheres no mercado de trabalho e no mundo dos negócios também são louváveis.
Mas, temos que encurtar esse longo caminho com mudanças. Acredito muito no poder da mulher na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Observo também uma movimentação global muito grande nesse sentido. A mulher tem um papel importante em países que são considerados de primeiro mundo, com legislações bem mais favoráveis à participação feminina.
Citaria, por exemplo, o Reino Unido e a Alemanha, que têm como primeiras-ministras, respectivamente, Theresa May e Angela Merkel.
Quem seria um bom exemplo de representatividade feminina no mundo?
Admiro muito a Michelle Obama. Seu posicionamento como primeira-dama de um País com argumentações e articulações tão polêmicas foi bastante admirável. Vejo nela muito do que falta em nossos políticos – uma conscientização pelo todo.
Falando em política, o discurso político brasileiro ainda é muito anacrônico. Na sua opinião, falta um toque feminino nesse cenário?
Embora a predominância seja de característica mais masculina, a presença da mulher cresceu consideravelmente no ambiente político, nos últimos anos. Inclusive, tivemos uma mulher no comando. No entanto, observo que faltam mulheres se portando como tal, sem se preocupar em atingir um patamar de igualdade com o homem.
A mulher trabalha com o coração, e isso é insuperável. Essa tentativa de igualdade transforma nossas mulheres reféns da normose, ou seja, normóticas – que é a patologia da normalidade, de aceitar tudo conforme o sistema estabelece.
Portanto, acredito que a sensibilidade feminina tenha condições de lutar contra comportamentos que levaram nossa sociedade ao que estamos vivendo hoje.
*Silvia lançou o primeiro livro Magnificat em 2001, Magnificat II em 2007 e Magnificat III em 2014.
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