O sobe e desce da Shopee na América Latina

Nas últimas semanas a empresa anunciou que ficará menor na região. Ao mesmo tempo em que deixa a Argentina e diminui o ritmo no México, Chile e Colômbia, plataforma fortalece a operação brasileira

Mariana Missiaggia
16/Set/2022
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Há dois anos com vendedores brasileiros em seu marketplace, a Shopee criou recentemente novos mecanismos para aumentar a rentabilidade no país. Apostando em preços baixos, a empresa vem ganhando mercado e já causa preocupação entre os concorrentes.

Mas se no Brasil a plataforma de e-commerce conta com mais de dois milhões de lojistas cadastrados, esse sucesso não se repete nos outros países da América Latina em que atua.

Nas últimas semanas a Shopee anunciou redução nas operações do Chile, Colômbia e México, e também o encerramento das atividades na Argentina. Em linha com movimentações recentes na Europa e Ásia, a plataforma tenta se concentrar no modelo de transações cross-border nesses países.

O novo posicionamento foi precedido pela divulgação do grupo de um prejuízo líquido de R$ 570 milhões no segundo trimestre - 77% maior que o registrado um ano antes. Entretanto, a receita da companhia cresceu 29%, alcançando quase US$ 3 bilhões.

Nesse contexto, o que justificaria a decisão da Shopee em assumir caminhos inversos nessa mesma região do continente?

O marketplace é controlada pela Sea Limited, companhia sediada em Singapura, que começou no mundo dos jogos eletrônicos e a partir daí criou braços no e-commerce, mídia e serviços financeiros em negócios que interagem entre si. Ou seja, enquanto joga os games, o consumidor recebe uma espécie de bônus para gastar na Shopee - tudo de forma interligada, sem ter de sair e entrar em diferentes aplicativos.

Ao chegar no Brasil, a Shopee optou pela venda de itens variados a um ticket médio baixo, de cerca de R$ 40 - produtos que, até pelo custo de logística, interessam pouco às varejistas brasileiras. Desse modo, a empresa trouxe ao e-commerce brasileiro um público que antes não acessava essas lojas virtuais, criando um novo filão de mercado.

Em julho deste ano, a empresa divulgou uma pesquisa sobre o crescimento da plataforma no Brasil. Os resultados mostram que três em cada dez empreendedores cadastrados na Shopee conseguiram expandir suas operações para outras regiões do país por meio da plataforma.

Além disso, as vendas dos vendedores brasileiros respondem por 85% do total da plataforma no país. Segundo a nota divulgada pela empresa, benefícios como a distribuição de cupons de frete grátis sem valor mínimo de compra e vouchers de descontos ajudam a atrair consumidores.

Dados como esses, embalaram a empresa a criar uma nova cobrança sobre a venda, que elevou a taxa total cobrada dos parceiros que usam a plataforma para até 20%. A empresa também criou uma norma para ocultar produtos de vendedores que atrasam entregas, numa tentativa de aprimorar o serviço.

Na opinião de Alan Liberman, executivo da Ecglobal, empresa de inteligência para marcas, preços baixos, entregas mais ágeis, variedade e frete grátis, aliados a uma estratégia digital com linguagem jovem, muitos memes e investimento em influenciadores são fatores que contribuem para que a marca esteja bem próxima dos consumidores - especialmente, a geração Z (nascidos entre 1995 e 2015).

Liberman cita dados da 4ª edição do ranking Net Love Score 2022 da Ecglobal, que trata das marcas com maior conexão emocional com os seus consumidores e clientes em 30 categorias. Na categoria e-commerce/marketplace, a Shopee aparece, neste ano, pela primeira vez em primeiro lugar como a marca mais amada pelo consumidor brasileiro.

"Em 2019 a Shopee mal aparecia em nosso ranking. Em 2021, já conquistava a 2ª posição e, agora, desbancou a Americanas", diz Liberman

"O engajamento emocional é construído ao longo do tempo e por meio dos diversos micro momentos e experiências que o consumidor tem com a marca, nas diversas etapas de sua completa jornada de consumo, seja no mundo real, ou virtual".

A expectativa é de que com o tempo, a Shopee deverá migrar cada vez mais para uma diversificação de produtos. Hoje, a empresa ainda não é vista como concorrente direta de Magalu, Americanas e Via, tanto pelo tíquete médio baixo quanto pelo fato de ser frequentemente questionada em órgãos de defesa do consumidor por atrasos, falhas na entrega, e venda de produtos piratas.

Embora o Brasil destoe de outras operações pelo mundo, a redução da presença da Shopee na América Latina não é o primeiro sinal de que a empresa enfrenta desafios no mercado. Em março desse ano, a marca interrompeu suas operações na China, e três meses depois, foi a vez da Espanha.

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