O que pensam os economistas em nível global?
‘Se você puser dois economistas em uma sala, terá duas opiniões diferentes; a menos que um deles seja o Lord Keynes, caso em que você invariavelmente terá três opiniões bem diferentes’, Winston Churchill
A Sondagem dos Economistas (EES na sigla em inglês), conduzida trimestralmente pelo Instituto Ifo (Instituto Leibniz de Pesquisa Econômica da Universidade de Munique) e pelo Instituto Suíço de Política Econômica (IWP), que compila a opinião de 8.000 economistas, localizados em mais de 130 países, acaba de divulgar sua edição relativa ao segundo trimestre de 2023.
O objetivo é colher a visão de profissionais não somente de grande capacidade técnica, a maioria detentora de Doutorado em Economia em prestigiosas universidades ao redor do mundo, mas também de experts influentes na opinião pública, na academia e nas decisões econômicas e empresariais tomadas em seus países de residência.
A equipe econômica do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP) tem participado ativamente dessa pesquisa, enviando suas avaliações e projeções em relação ao Brasil.
Para avaliar a situação política, os economistas entrevistados devem atribuir notas para a performance do Governo e a estabilidade política. Para a dimensão de política econômica devem realizar uma análise geral e emitir sua percepção de como a autoridade econômica lida com os desafios do futuro. Os resultados são agregados, tomando-se uma média aritmética simples, o que equipara a importância de cada item da sondagem e depois são agrupados em continentes.
A pesquisa também costuma perguntar sobre as expectativas de inflação e nesta edição, como outro tópico especial, as expectativas sobre preços dos imóveis em cada um dos países considerados.
AVALIAÇÕES
Os resultados da pesquisa mostram uma retração geral no desempenho dos governos, porém, um aumento na estabilidade política. Nesse sentido, o continente mais favorecido foi a Ásia, enquanto nos países da Europa e da América do Sul observa-se a continuidade de uma tendência negativa nas avaliações sobre a situação política.
Por sua vez, melhorou a avaliação global da política econômica, mas a percepção de como esta enfrenta os desafios futuros permaneceu estável, dentro de baixos patamares. Destaque positivo nesse item para Ásia e África e piora da percepção para o Continente Europeu.
Com relação às expectativas de inflação, apesar dos esforços dos principais bancos centrais, os economistas consultados ainda esperam que a economia mundial termine 2023 com uma taxa de inflação elevada, da ordem de 7%.
Enquanto se esperam taxas de inflação abaixo desse nível para países da América do Norte e do Sudeste Asiático, entrevistados que residem na África do Norte e na América do Sul preveem aumentos de preço bastante superiores (63,9% e 23,3%, respectivamente). Contudo, para prazos mais longos, especificamente 2026, o consenso aponta para a redução da inflação, que em termos globais chegaria a 4,9%. Novamente, no caso da América do Sul a expectativa está acima desse consenso (7,9%).
Finalmente, os economistas consultados esperam importantes aumentos nos preços dos imóveis para os próximos dez anos, ao redor de vários países do mundo (14,6%). Contudo, como as expectativas de inflação também permanecem elevadas, essa valorização dos imóveis seria bastante menos expressiva, ao corrigir-se os resultados pela inflação.
Como causa principal desses maiores preços, a visão de consenso coloca a maior demanda por habitação, decorrente da elevação do padrão de vida e da renda das famílias, crescimento da população, mudança de preferências em termos de maior qualidade de moradia e maior investimento estrangeiro no setor imobiliário.
Se as percepções e expectativas dos economistas entrevistados estiverem certas, para o caso brasileiro, continuará sendo importante aprimorar a atuação do Governo, principalmente em termos de eficiência, e fortalecer as instituições, reduzindo os eventuais riscos políticos que podem desincentivar a realização dos investimentos necessários na capacidade produtiva e em infraestrutura.
Com relação à inflação, se a visão consensual for validada, a inflação mundial tardará algum tempo em voltar a níveis mais baixos, o que deverá implicar em juros internacionais mais altos por mais tempo, diminuindo a entrada de capitais de curto prazo no Brasil, e elevando o câmbio, fatores que nosso Banco Central deveria ponderar na condução futura da política monetária.
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