O que os consumidores querem do varejo?
Pesquisa da Locomotiva mostra que eles querem garantir qualidade com o melhor preço possível e buscam por isso em diferentes canais. Vale tudo - internet, shopping, mercadinho, hipermercado e até lojinha de bairro
Os gastos das famílias brasileiras devem alcançar R$ 4,4 trilhões em 2019 em um cenário economicamente desafiador. São 157 milhões de consumidores impactados pelo desemprego, pela falta de confiança e pela expectativa de um governo que promete mudanças econômicas.
Tudo isso mexe com o consumo das famílias que vive altos e baixos, nos últimos cinco anos. Promoções, atacarejos, vencidinhos – foram muitas as artimanhas dos consumidores e dos lojistas para atravessar um longo período de recessão.
Aos poucos, as famílias vão retomando o fôlego do consumo ao reequilibrar seus orçamentos e algumas mudanças começam a ser sentidas. A demanda por custo-benefício, por exemplo, já não é mais a mesma.
De acordo com a pesquisa “O varejo pelo olhar do consumidor”, realizada pela Instituto Locomotiva, apesar de estarem mais preocupados com preço, os consumidores não aceitam abrir mão da qualidade.
Agora, 81% dos entrevistados dizem estar mais atentos à qualidade dos produtos do que no passado. Portanto, a qualidade é o atributo que o consumidor leva mais em consideração na hora de realizar compras nas categorias de alimentos, eletrodomésticos, móveis, produtos de higiene e beleza e roupas.
De acordo com Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, o consumidor está mais disposto a experimentar marcas que não ocupam lugar de liderança no mercado, e nessa busca tem descoberto novas possibilidades.
“Com a descoberta das novas possibilidades que a crise proporcionou, as marcas líderes encontrarão dificuldades para se restabelecerem na retomada da economia”, diz.
Mais atentos ao custo-benefício, os consumidores têm ampliado os canais de suas compras: 70% dizem fazer compras em três ou mais canais. Neste universo estão os supermercados, hipermercados, mercadinhos de bairro, farmácias e lojas de comércio de rua - uma busca constante por boas oportunidades. Ou seja, produtos de qualidade com o melhor preço e que estejam alinhados com sua rotina.
REPRESENTATIVIDADE
Da mesma forma que o consumidor valoriza marcas que o represente, ele também deseja ser ouvido. O levantamento indica que 83% dos consumidores querem ser mais ouvidos pelas empresas.
O desejo principal, segundo a pesquisa, é o de se sentir protaganizando algo ao descobrir novos produtos que têm a ver com a sua personalidade.
Além disso, segundo a pesquisa, dois em cada três consumidores dizem preferir marcas e empresas que tenham valores parecidos com os seus, mas não enxergam nas empresas os valores que enxergam em si mesmos.
Colocando em números, quase 68 milhões de consumidores brasileiros não se identificam com nenhuma marca de empresas varejista. São 43% dos brasileiros que acreditam estar distante das empresa.
Esse dado traz à tona outra revelação do estudo que indica que os grupos de consumidores formados por mulheres, negros e idosos serão os que irão liderar o consumo no Brasil nos próximos anos.
Chamados pela pesquisa de Clube do Trilhão, pois abordam as diferentes populações, eles devem movimentar mais de R$ 1 trilhão nos próximos 12 meses, segundo a pesquisa.
Mulheres - Elas já somam 108 milhões no Brasil, um número que poderia ser considerado o 13º paÍs mais populoso do mundo. Com renda própria, de acordo com o estudo, elas movimentam R$ 1,9 trilhão na economia brasileira ou 41% de todo dinheiro que circulará pelas mãos dos brasileiros.
Grey Power - Outro grupo é o chamado de Grey Power, formado por homens e mulheres com 50 anos ou mais. São 59 milhões de brasileiros nesta faixa etária, que movimentarão aproximadamente R$ 2,1 trilhões por ano.
Negros - A população brasileira cada vez mais se considera negra. E, de acordo com a pesquisa, os negros movimentarão aproximadamente R$ 1,9 trilhão nos próximos 12 meses.
Meirelles cita três condutas comportamentais que ditarão a relação do consumidor com o varejo:
Reconexão ou morte: O varejo precisará se reconectar com o consumidor ou terá que sacrificar as suas margens.
Radicalização do custo benefício: Já foi o tempo em que produto vagabundo e baratinho conquistava o consumidor.
Fim das fronteiras entre canais: Cada vez mais multicanal, o consumidor espera encontrar no varejo uma solução integrada de portfólio, crédito e relacionamento.
ELES SÃO MAIS EXIGENTES
O levantamento revela também que a população está mais exigente em relação à postura das empresas. 85% concordam que as companhias devem respeitar a diversidade de seus clientes.
O estudo mostra ainda que os consumidores estão mais exigentes em relação aos seus direitos. 89% dizem que quando vão às compras têm mais consciência dos seus direitos do que tinham no passado. E 77% afirmam exigir mais os seus direitos hoje do que há dez anos.
O levantamento foi a campo entre os dias 15 e 28 de junho, e ouviu 1,5 mil pessoas, de 18 anos ou mais, em todo o País. A margem de erro é de 2,5 pontos porcentuais.
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