O que falta para as empresas quando o assunto é IA
Em debate na ACSP, Silvio Meira, especialista em inovação, falou sobre o despreparo dos profissionais para lidar com inteligência artificial e qual o impacto dessa tecnologia no futuro do mercado de trabalho
Por que mesmo sabendo do potencial de impacto da inteligência artificial há tanto tempo, ainda há quem não faça nada diante disso?
A reflexão proposta por Silvio Meira, cientista-chefe da tds.company, professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco e um dos fundadores do Porto Digital, deu início a sua apresentação durante a reunião do Conselho Político e Social (Cops) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na última segunda-feira (8), na sede da entidade.
Ao tentar prever o que está por vir, Meira é assertivo ao dizer que o cenário brasileiro é preocupante quando o assunto é a preparação da população para um horizonte que exigirá níveis cada vez maiores de alfabetização digital.
Considerando o que está por vir, ele cita uma pesquisa da consultoria McKinsey que prevê a perda de até 50% dos postos de trabalho no Brasil devido à rápida adoção de tecnologias como inteligência artificial e automação.
Na avaliação do cientista, a inteligência artificial e outras tecnologias irão afetar o país de uma forma totalmente diferente da esperada e de como as empresas têm lidado com essas transformações.
São sistemas que irão substituir um médico que analisa imagens, um advogado que defende processos na Justiça e engenheiros que repetem projetos. Mas não qualquer médico, advogado ou engenheiro. Nas palavras do especialista, quem sofrerá as consequências serão os profissionais medianos, que produzem ou interpretam algo apenas baseado em dados.
A justificativa de Meira é que, do jeito que está hoje, a inteligência artificial já é capaz de conceber comportamentos, fazer descrições, análises e até previsões melhor do que um ser humano.
A solução para o que soa como uma ameaça, de acordo com Meira, seria repensar as competências e habilidades das pessoas por meio de um plano nacional. Ou seja, a prática de um entendimento do mundo que facilite a transição das pessoas para aquilo que ele chama de sociedade do conhecimento.
“Não vejo nas políticas públicas, nem nas organizações sindicais, qualquer mobilização da estrutura educacional brasileira. E teria que ser algo numa escala e velocidade nunca antes vistas. Por isso, acredito que enfrentaremos dificuldades estruturais consideráveis”, disse.
Nesse contexto, em que profissionais tentam se adequar às exigências de reinvenção para um futuro do trabalho tecnológico sem terem uma direção clara, é papel das empresas trabalharem uma estratégia intensiva de inteligência artificial em seu dia a dia. Seja em seus processos de tomada de decisão, de aplicação ou em gestão de processos.
Para o cientista, o ponto principal dessa discussão é como harmonizar a inteligência artificial com as inteligências individual e social para solucionar problemas em uma escala completamente diferente da que estávamos lidando até agora. Partindo do argumento de que para surgir um novo tipo de profissional é necessário surgir um novo tipo de organização, Meira destacou a importância de capacitar pessoas para novas práticas de trabalho.
Meira prevê que em cerca de três anos o rendimento dos profissionais deve aumentar até cinco vezes dadas as possibilidades apresentadas pela tecnologia. Nesse redesenho de performance, quem conseguir dominar ferramentas, teorias e conceitos dessa nova dimensão aumentará significativamente a sua performance individual.
“Não é aprender sobre tecnologia, mas sim aprender com a tecnologia. Não acredito que a IA irá substituir as pessoas. Porém, acredito que quem não a utiliza será substituído por quem sabe", disse.
IMAGEM: Cesar Bruneli/ACSP