O que ainda falta para a revitalização do Centro de São Paulo

Problemas de zeladoria urbana, perfil de moradia e leis que não refletem a dinâmica do mercado imobiliário são alguns dos obstáculos para o desenvolvimento da região

Mariana Missiaggia
20/Set/2017
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O que ainda falta para a revitalização do Centro de São Paulo

A diversidade comercial, acesso ao transporte público e a quantidade de empregos que se concentram na região central de São Paulo ainda não são suficientes para livrar a região de um estereótipo de abandono.

Mazelas como a violência, falta de iluminação, lixo, forte presença de moradores de rua e outros problemas de zeladoria refletem as tentativas fracassadas de revitalizações propostas pelas gestões municipais, nas últimas cinco décadas.

Somado a tudo isso, a quantidade de prédios abandonados na região ameaça o patrimônio histórico e cultural da cidade, além de exercer um impacto negativo sobre a paisagem urbana.

Na última terça-feira (19/09), urbanistas e outros especialistas discutiram o tema durante o Fórum Revitalização do Centro, promovido pelo jornal Folha de São Paulo.

SOLUÇÕES

Há quem acredite que a solução para essa desordem seja atrair moradores em larga escala e reativar edifícios em péssimo estado de conservação.

Em contrapartida, há também quem aposte no Centro como um polo cultural e de economia criativa.

Para Nabil Bonduki, ex-secretário municipal de Cultura, a região tem potencial para diferentes usos.

Sucede, segundo afirma, que a falta articulação entre o setor público e privado para oferecer espaços culturais e unidades de moradia como o edifício Copan, que não contempla apenas o perfil popular.

“O centro é tolerante à diversidade, portanto, pode receber famílias e jovens de diferentes classes sociais ao mesmo tempo”, diz.

Um exemplo desse tipo de ocupação foi citado pelo secretario de Estado da Habitação de São Paulo, Rodrigo Garcia. A construção do Complexo Júlio Prestes, no antigo Terminal Rodoviário da Luz, terá 1.130 unidades de habitação de interesse social para famílias com renda mensal de até R$ 4 mil.

Outras 72 unidades serão para famílias com renda entre R$ 4 mil e R$ 8 mil. Além disso, haverá um corredor comercial e a nova sede da Escola de Música Tom Jobim com salas de aula para 1,3 mil estudantes e creche para 200 crianças.

RESGATE DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Claudio Bernardes, presidente do conselho consultivo do Secovi-SP, recordou que na década de 1980, o Centro de São Paulo tinha mais de 500 mil moradores.

Na década passada, esse número caiu para 370 mil e hoje se estima que o número de habitantes esteja em aproximadamente 460 mil.

Ocorre que, de acordo com Bernardes, são lançadas, em média, 2,5 mil unidades habitacionais por ano, na região – uma média muito abaixo do mercado. Em alguns bairros de São Paulo, essa é média mensal de lançamentos.

Dados do Secovi-SP mostram que dos 3,9 mil imóveis em estoque na região, 71% são de um dormitório, têm até 45 metros quadrados e são vendidos por uma média de R$ 500 mil.

Tudo isso torna a região muito restrita a um perfil de consumidores jovens e sem filhos.

Outro ponto levantado por Heloísa Proença, secretária municipal de desenvolvimento urbano, é que muitas das diretrizes do Plano Diretor e legislações do Zoneamento não são aplicáveis à cidade real e acabam inviabilizando o processo de retrofit de alguns prédios.

Ruas de intensa circulação do Centro, como a Líbero Badaró, São João, Boa Vista e Ipiranga, estão repletas de edifícios em situação de abandono, que se reformados atrairiam o interesse de muitos trabalhadores da região, de acordo com Heloísa.

COMÉRCIO NO CENTRO

Em um estudo de campo, Philip Yang, fundador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole), entrevistou comerciantes do Centro de São Paulo e constatou que a principal reclamação entre eles é a legislação.

De acordo com Yang, muitos dos empreendedores reclamam que na prática, a lei vigente no Centro não é a mesma aplicada nos Jardins.

“Nos Jardins, um restaurante pode funcionar sem um alvará e outras licenças de funcionamento por até cinco anos sem nenhum problema. No Centro, a cobrança é diferente”, diz.

FOTO: Thinkstock

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