O que ainda falta para a revitalização do Centro de São Paulo
Problemas de zeladoria urbana, perfil de moradia e leis que não refletem a dinâmica do mercado imobiliário são alguns dos obstáculos para o desenvolvimento da região
A diversidade comercial, acesso ao transporte público e a quantidade de empregos que se concentram na região central de São Paulo ainda não são suficientes para livrar a região de um estereótipo de abandono.
Mazelas como a violência, falta de iluminação, lixo, forte presença de moradores de rua e outros problemas de zeladoria refletem as tentativas fracassadas de revitalizações propostas pelas gestões municipais, nas últimas cinco décadas.
Somado a tudo isso, a quantidade de prédios abandonados na região ameaça o patrimônio histórico e cultural da cidade, além de exercer um impacto negativo sobre a paisagem urbana.
Na última terça-feira (19/09), urbanistas e outros especialistas discutiram o tema durante o Fórum Revitalização do Centro, promovido pelo jornal Folha de São Paulo.
SOLUÇÕES
Há quem acredite que a solução para essa desordem seja atrair moradores em larga escala e reativar edifícios em péssimo estado de conservação.
Em contrapartida, há também quem aposte no Centro como um polo cultural e de economia criativa.
Para Nabil Bonduki, ex-secretário municipal de Cultura, a região tem potencial para diferentes usos.
Sucede, segundo afirma, que a falta articulação entre o setor público e privado para oferecer espaços culturais e unidades de moradia como o edifício Copan, que não contempla apenas o perfil popular.
“O centro é tolerante à diversidade, portanto, pode receber famílias e jovens de diferentes classes sociais ao mesmo tempo”, diz.
Um exemplo desse tipo de ocupação foi citado pelo secretario de Estado da Habitação de São Paulo, Rodrigo Garcia. A construção do Complexo Júlio Prestes, no antigo Terminal Rodoviário da Luz, terá 1.130 unidades de habitação de interesse social para famílias com renda mensal de até R$ 4 mil.
Outras 72 unidades serão para famílias com renda entre R$ 4 mil e R$ 8 mil. Além disso, haverá um corredor comercial e a nova sede da Escola de Música Tom Jobim com salas de aula para 1,3 mil estudantes e creche para 200 crianças.
RESGATE DO MERCADO IMOBILIÁRIO
Claudio Bernardes, presidente do conselho consultivo do Secovi-SP, recordou que na década de 1980, o Centro de São Paulo tinha mais de 500 mil moradores.
Na década passada, esse número caiu para 370 mil e hoje se estima que o número de habitantes esteja em aproximadamente 460 mil.
Ocorre que, de acordo com Bernardes, são lançadas, em média, 2,5 mil unidades habitacionais por ano, na região – uma média muito abaixo do mercado. Em alguns bairros de São Paulo, essa é média mensal de lançamentos.
Dados do Secovi-SP mostram que dos 3,9 mil imóveis em estoque na região, 71% são de um dormitório, têm até 45 metros quadrados e são vendidos por uma média de R$ 500 mil.
Tudo isso torna a região muito restrita a um perfil de consumidores jovens e sem filhos.
Outro ponto levantado por Heloísa Proença, secretária municipal de desenvolvimento urbano, é que muitas das diretrizes do Plano Diretor e legislações do Zoneamento não são aplicáveis à cidade real e acabam inviabilizando o processo de retrofit de alguns prédios.
Ruas de intensa circulação do Centro, como a Líbero Badaró, São João, Boa Vista e Ipiranga, estão repletas de edifícios em situação de abandono, que se reformados atrairiam o interesse de muitos trabalhadores da região, de acordo com Heloísa.
COMÉRCIO NO CENTRO
Em um estudo de campo, Philip Yang, fundador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole), entrevistou comerciantes do Centro de São Paulo e constatou que a principal reclamação entre eles é a legislação.
De acordo com Yang, muitos dos empreendedores reclamam que na prática, a lei vigente no Centro não é a mesma aplicada nos Jardins.
“Nos Jardins, um restaurante pode funcionar sem um alvará e outras licenças de funcionamento por até cinco anos sem nenhum problema. No Centro, a cobrança é diferente”, diz.
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