O jeito sustentável da Dengo produzir chocolate
Marca de chocolates especiais, produzidos com cacau cultivado na Bahia, estimula produtores e dá a partida em uma rede de lojas próprias
Cada vez mais pesquisas mostram a disposição dos brasileiros a mudar seus hábitos alimentares em busca de uma vida mais saudável. Eles querem reduzir sal, açúcar, gordura, lactose e outros elementos.
Ao mesmo tempo em que a indústria tem sido pressionada a rever fórmulas e ampliar o portfólio, novas marcas surgem como um incentivo aos novos costumes - uma delas é a Dengo.
Focada em chocolates e cafés especiais, a marca lançada há quase um ano tem como bandeira a aproximação de produtor e consumidor e só utiliza ingredientes nacionais.
DIRETO DA TERRA
Tudo começou com uma ideia de Estevan Sartorelli, engenheiro de produção, que por 12 anos trabalhou no marketing da Natura, e Guilherme Leal, empresário e um dos fundadores da companhia, de criar um negócio de impacto social.
Desde 2004, quando passou a visitar o sul da Bahia com mais frequência, Leal percebeu que toda a beleza natural da região não se traduzia em riqueza para quem vivia no entorno.
Ao mesmo tempo, descobriu que embora não fosse valorizada, a produção de cacau era uma cadeia com relevância para a economia local. Na companhia de Sartorelli, a dupla passou a rascunhar possibilidades de negócios com potencial para mudar a realidade dos produtores baianos e gerar riqueza em território nacional –um conceito muito parecido com o que a própria Natura pratica e propõe com a linha Ekos.
No Brasil, a produção de cacau movimenta cerca de R$ 14 bilhões por ano, de acordo com os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). São 745 mil hectares de área plantada no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Convencidos de que a amêndoa de cacau seria a estrela do negócio, em 2012, fomentaram o chamado Centro de Inovação do Cacau (CIC), em Ilhéus, com o apoio de outros interessados. Trata-se de um laboratório de alta tecnologia que faz análises de amêndoas de cacau.
O objetivo é atestar a qualidade e certificar o cacau produzido na região. Ou seja, produtores enviam seu material para ser examinado e, a partir do laudo que recebem, conferem preço ao cacau, de acordo com a qualidade da amêndoa.
Em contato direto com esses produtores, Sorterelli e Leal selecionaram sete agricultores e se lançaram no mercado de chocolates.
Sem fazenda própria, a proposta da Dengo é justamente comprar cacau de produtores selecionados e pagar um prêmio a eles conforme a qualidade de suas amêndoas, com base nos resultados da CIC.
De acordo com Sartorelli, a Dengo paga de 70% a 90% acima da cotação do cacau na Bolsa de Nova York, e quando outros agricultores souberam, logo se interessaram pela oportunidade. Hoje, são mais de 120 parceiros.
“Não temos relação contratual, nem mesmo de exclusividade com esses produtores. Como atividade econômica, a produção de cacau foi muito mal remunerada. Queremos investir, valorizar a cadeia e renovar as práticas agrícolas”, diz. “Não queremos frustrar essa expectativa de retomada”.
Nas redes sociais da marca, alguns vídeos gravados com os próprios produtores contam a história de cada um deles, a relação com o café e o momento em que provam o chocolate da marca produzido com a amêndoa deles.
O conceito do chocolate feito desde a amêndoa até a barra pelo mesmo produtor, chamado de bean-to-bar, se tornou sinônimo de um produto artesanal com qualidade superior.
Há menos de uma década, poucas empresas de chocolate se utilizavam do termo. Hoje, estima-se que cerca de 30 marcas sigam nessa linha. Concorrentes da Dengo, nomes como Amma e Mendoá são consideradas pioneiras.
CHOCOLATE COMO JOIA
Lançada em junho de 2017, com loja-piloto no Morumbi Shopping, as lojas da Dengo foram projetadas com um conceito inovador – com base em madeira, marcenaria sofisticada, piso rústico, iluminação quente e muito vidro, lembrando a ambientação de uma joalheria.
São as grandes vitrines de vidro que expõem os chocolates como verdadeiras joias. Nas prateleiras, os chocolates não têm adição de essências, aromas ou químicos desnecessários e nenhum tipo de gordura hidrogenada. Bem pouco utilizado, o açúcar é orgânico e de alta qualidade. “Mais cacau, menos açúcar é nossa bandeira”.
As tradicionais barras têm seis variações de teor de cacau, de 36% a 75%, além de uma versão sem açúcar, todas com origem especificada, apresentando fotos e informações sobre cada produtor. Os bombons seguem na mesma linha regional e são recheados com frutas brasileiras, como cupuaçu, jabuticaba, cajá e caju, também cultivadas pela rede de produtores da Dengo.
Além de valorizar o cultivo responsável, a empresa também propaga o consumo consciente com a venda de produtos a granel para diminuir o uso de embalagens – esse formato já representa 80% das vendas marca. O quilo do chocolate gira em torno de R$ 200, dependendo do tipo.
EXPANSÃO
Com apenas quatro lojas –duas em São Paulo, uma em Barueri e outra no Rio de Janeiro, a expansão da Dengo acontecerá aos poucos, segundo Sartorelli.
Para 2018, a única abertura prevista é a de uma loja no Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, para agosto. Por ora, o franchising ainda não é considerado como estratégia de expansão, de acordo com Sartorelli.
Disponível no e-commerce, a Dengo distribui para todo o país e levou quase um ano para desenvolver uma embalagem em que o chocolate não derretesse ou quebrasse ao ser transportado durante cinco dias.
FOTOS: Andres Otero e Carolina Lima/Divulgação